A tarefa de traduzir o poema recitado por Amanda Gorman na cerimónia da tomada de posse do presidente norte-americano Joe Biden está a mostrar-se mais difícil do que se podia antever. Depois de uma onda de críticas à editora que não escolheu uma mulher negra ter levado a holandesa Marieke Lucas Rijneveld a anunciar que desistia da tradução, agora é ao catalão Victor Obiols que a onda de exigências chega: “mulher, jovem, ativista e de preferência negra”.

Marieke Lucas Rijneveld desiste de traduzir poema de Amanda Gorman por não ser negra

Foi esse, segundo conta o escritor, o perfil que lhe foi apresentado como necessário para realizar a tradução. Isto depois de ter sido a editora a contactá-lo e de já ter feito o trabalho. Se Marieke foi criticada por não ser negra, Victor Obiols seria uma pior escolha, não reunindo sequer o critério do género. Com o “perfil errado”, Obiols acabou por ser afastado da tarefa três semanas depois de ter sido contactado pela editora Barcelona Univers para o fazer.

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Depois de traduzir obras de William Shakespeare e Oscar Wilde, Obiols foi afastado da tradução do poema de Amanda Gorman depois mesmo de já ter terminado o trabalho. O The Guardian acrescenta ainda que o escritor catalão não sabe se o recuo na escolha se deve a opções da editora que o contactou ou do agente da poetisa norte-americana.

“É um assunto muito complicado que não pode ser tratado com frivolidade”, afirmou Obiols, mas frisou que “se não pode traduzir uma poetisa por ser mulher, jovem, nega, americana do século XXI” também não “poderia traduzir Homero porque não é grego do século VIII a.C.” ou ainda “Shakespeare porque não é um inglês do século XVI”.

A agência de notícias AFP tentou contactar a Univers, que contratou o escritor catalão, mas sem sucesso. Obiols diz, no entanto, que a editora lhe garantiu que seria pago pelo trabalho, mesmo que este não vá ser publicado.

Marieke Lucas Rijneveld escreve poema sobre controvérsia em torno da tradução de livro de Amanda Gorman

Rijneveld já explicou o que sente em relação ao que aconteceu com ela num poema, “Everything inhabitable”, traduzido para inglês por Michele Hutchison, que foi responsável pela tradução de The Discomfort of Evening, romance que tornou a escritora a mais jovem a vencer o Booker International Prize e a primeira de nacionalidade holandesa.