Acabou a especulação. Pedro Santana Lopes não terá o apoio do PSD se decidir entrar na corrida à Figueira da Foz. Nos últimos dias, o rumor sobre uma eventual candidatura do antigo primeiro-ministro com o símbolo e a bênção do PSD voltou a surgir em força. Na quinta-feira, no entanto, presidente e ex-presidente conversaram e Rio informou Santana de que esse comboio já tinha partido.
Há uma razão de ser para todos os avanços e recuos no processo da Figueira. Rui Rio, sabe o Observador, ficou muito desagradado com Pedro Machado, que, publicamente e contra todas as regras internas, anunciou que ia ser candidato do PSD à Figueira da Foz sem o ‘ok’ da direção do partido — apesar de ter o conforto das estruturas locais do PSD. O líder social-democrata não gostou do gesto e fez questão de recriminar Pedro Machado numa reunião com o seu núcleo duro.
A irritação de Rio com Pedro Machado tornou-se tema nos bastidores do PSD e o nome de Pedro Santana Lopes voltou a surgir como hipótese — apesar de, a 25 de fevereiro, o Observador ter escrito, citando fonte ligada ao processo, que o partido tinha fechado a porta à solução. Na Figueira, uma parte do partido continuava e continua a suspirar pelo antigo autarca. Mesmo nas estruturas concelhias e distritais, a hipótese voltou a ser considerada como credível e instalou-se a perceção de que Pedro Machado teria a candidatura em xeque. Acabou por não acontecer e Santana Lopes está mesmo fora das cogitações.
A grande questão é o que fará agora Pedro Santana Lopes. Tal como tinha avançado o Observador a 2 de março, o antigo primeiro-ministro ainda sonha com a Figueira da Foz e não exclui correr como independente. Depois desta nega definitiva de Rui Rio, o antigo líder social-democrata vai ainda ponderar o próximo passo, com a consciência de que será difícil entrar numa corrida a três e sem apoio formal do PSD.
Esta sexta-feira, Rui Rio vai estar em Coimbra para apresentar mais uma leva de candidatos às próximas eleições autárquicas — 51 no total. Apesar de ainda não estar formalmente fechado, tudo indica que Pedro Machado será efetivamente o candidato do PSD à Figueira da Foz. E não será a única novidade.
Soluções e dores de cabeça
Além da Figueira, Rui Rio vai apresentar outros candidatos a autarquias de média dimensão, como Coimbra, onde é quase certo que José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, venha a ser o candidato do PSD.
Em Marco de Canavezes, onde o processo está praticamente fechado, Maria Amélia Ferreira, atual Provedora da Santa Casa da Misericórdia, será a candidata social-democrata à autarquia. Já Fermelinda Carvalho, a cumprir o terceiro e último mandato em Arronches, não se pode recandidatar e pode ser candidata à presidência da Câmara de Portalegre.
Nem tudo são boas notícias, no entanto. Em Vila Real, Fernando Queiroga, líder da distrital, e Nataniel Araújo, da concelhia, continuam sem conseguir encontrar uma solução para a corrida. O deputado e cabeça de lista por Vila Real nas últimas eleições, Luís Leite Ramos, também terá uma palavra a dizer em todo o processo.
Na Guarda, o berbicacho é ainda maior: Carlos Chaves Monteiro, atual autarca, é o candidato natural, tem o apoio do líder da estrutura distrital mas está em rota de colisão com Sérgio Costa, líder da concelhia e vereador sem pelouros, que tem o apoio de uma fação importante da estrutura local. Terá de ser a direção nacional a decidir e, sabe o Observador, é provável que a escolha recaia sobre Chaves Monteiro.
Em Viana do Castelo, a direção do partido está a ter dificuldades em encontrar um candidato à autarquia. Eduardo Teixeira, líder da concelhia do PSD, continua a ser o nome mais sólido na corrida, mas a equipa que coordena a estratégia autárquica continua a estudar todas as soluções.
O filme repete-se em Leiria: Álvaro Madureira, presidente da concelhia do PSD e vereador, gostava de ser testado em urnas, mas a distrital não gosta da solução e a direção do partido também não morre de amores pela ideia. Hélder Roque era o favorito mas fez saber que não estava interessado. E o processo continua a marinar.
Carlos Maia, ex-presidente do Politécnico de Castelo Branco, era o favorito e foi testado em sondagens, mas terá rejeitado o convite. As estruturas locais não se entendem agora em torno de uma solução para recuperar uma câmara que estava nas mãos do socialista Luís Correia, autarca que perdeu o mandato por crime de prevaricação. Carlos Almeida, candidato nas últimas autárquicas, vereador e líder da concelhia, e Hugo Reis Lopes, também vereador, estão ambos na corrida.
Para lá de Lisboa
Depois de resolver o dilema de Lisboa, Rui Rio tem ainda três grandes processos em aberto: Porto, Gaia e Sintra continuam por resolver. Na cidade onde foi presidente durante 12 anos, Vladimiro Feliz, seu antigo vereador, continua a ser visto como uma solução “sólida”, mas não há certezas.
Em Gaia, circula com insistência o nome do ex-selecionador António Oliveira, mas não há qualquer confirmação nesse sentido. José Lopes Silvano, secretário-geral do partido e coordenador autárquico, limitou-se a classificar Oliveira como um “bom candidato”, mas não adiantou mais detalhes — ainda que o Observador saiba que há uma aproximação recente entre o antigo treinador e as estruturas sociais-democratas.
Em Sintra, depois da tentativa falhada de seduzir Santana Lopes, Marco Almeida parece ser, neste momento, o candidato mais forte e o exemplo de Ricardo Rio — que perdeu duas vezes em Braga até chegar a presidente — é por estes dias lembrado com insistência. Mas o clima de guerra civil que se vive no partido em Sintra não antecipa um desfecho airoso. A concelhia aprovou um nome — o de António Pinto Pereira, professor no ISCSP — que nem sequer convence uma parte da estrutura local quanto mais a direção do partido.
Uma coisa é certa: à exceção de pequenos concelhos, sobretudo no Alentejo, o objetivo de fechar o processo eleitoral até 31 de março mantém-se. Esta sexta-feira, em Coimbra, Rui Rio dará mais um passo nesse sentido e tudo para cumprir o seu grande objetivo: fazer destas autárquicas o princípio do fim da era António Costa.