Aos 34 anos, Elliot Page é o primeiro ator transgénero a aparecer na capa da revista Time, cuja edição chega às bancas na sexta-feira. Page é fotografado de cabelo curto, a usar umas jeans e uma camisola escura, sendo que a imagem é acompanhada da seguinte legenda: “Sou inteiramente quem sou”. O destaque que a revista Time dá ao ator surge cerca de três meses após a grande relevação, quando, através de um post publicado no Instagram, o ator relevou ao mundo ser transgénero e “queer”  — até então era conhecido pelo nome Ellen Page, cuja carreira cinematográfica de sucesso inclui uma nomeação aos Óscares pela sua participação no filme “Juno”.

A capa partilhada na conta de Instagram da revista Time © Wynne Neilly/Time

À data, o ator admitiu estar feliz com a revelação, muito embora sentisse medo dada a mudança que atravessa. “Não tenho como expressar quão importante é sentir que finalmente gosto o suficiente de mim para ir atrás do meu verdadeiro ‘eu’”, disse, sublinhando que, apesar de a sua alegria ser “real”, também é “frágil” porque sabe de todas as dificuldades que as pessoas transgénero atravessam para serem aceites na sociedade.

Agora, em entrevista à Time, recorda a sensação de triunfo quando, aos nove anos, foi-lhe finalmente permitido cortar o cabelo muito curto. “Senti-me um rapaz”, diz Page à publicação. “Eu queria ser um rapaz. Costumava perguntar à minha mãe se um dia o podia ser.” No entanto, o gosto pela interpretação depressa trocou-lhe as voltas, sobretudo quando conseguiu um importante papel feminino num filme para a televisão — se na longa-metragem de “Pit Pony” usou uma peruca, no programa com o mesmo nome Page teve de deixar crescer o cabelo. “Tornei-me um ator profissional aos 10 anos. Claro que tinha de ter uma determinada aparência”, salienta.

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A fotografia de Elliot partilhada na conta de Instagram da revista Time © Wynne Neilly/Time

O stress e a ansiedade da fama ajudaram a vincar o desfasamento entre a forma como se via a si próprio e a forma como o mundo o encarava. Durante muito tempo não conseguia, sequer, olhar para uma fotografia sua, sendo que também era difícil ver os filmes em que entrava, sobretudo quando os papéis que desempenhava eram particularmente femininos. Numa altura em que já participava em blockbusters, como a saga X-Men ou “A Origem”, Page sofria de depressão, ansiedade e ataques de pânico. Não raras vezes pensou em desistir da representação.

A relevação pública feita em dezembro trouxe, entretanto, entusiasmo e gratidão, não descurando, porém, o medo e a ansiedade. Trouxe também notoriedade: após o anúncio, Page tornou-se uma das pessoas transgénero mais famosas no mundo, chegando a ser “assunto do momento” no Twitter em mais de 20 países. Ganhou ainda mais de 400 mil seguidores no Instagram num único dia. Também nesse dia, a Netflix ofereceu-se para mudar os créditos na série “The Umbrella Academy”, onde participa desde 2019. Agora, no fim de cada episódio, surge o nome “Elliot Page”.