O vice-reitor do Santuário de Fátima, Vítor Coutinho, pediu para abandonar o sacerdócio, de acordo com um decreto de suspensão emitido na semana passada pelo cardeal António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e citado esta quinta-feira pelo Região de Leiria.
No documento, lê-se que o padre Vítor Coutinho pediu a “dispensa das obrigações do estado clerical e do celibato” através de uma carta enviada ao Papa Francisco, a quem cabe exclusivamente autorizar a perda do estado clerical por vontade do próprio.
Nesse sentido, e enquanto não chega a resposta formal do Papa Francisco, o cardeal António Marto suspendeu o sacerdote “de todo o exercício do ministério sacerdotal“.
Até ao ano passado, Vítor Coutinho ocupava dois cargos de grande relevo na diocese de Leiria-Fátima: o de chefe de gabinete do cardeal e o de vice-reitor do Santuário de Fátima, a maior instituição católica do país. Em junho de 2020, na habitual ronda de nomeações e mudanças de serviço dentro da diocese, o sacerdote deixara, a seu pedido, as funções de chefe do gabinete episcopal, mantendo-se nas restantes funções.
Agora, segundo confirmou ao Observador fonte oficial do Santuário de Fátima, o sacerdote cessou funções como vice-reitor do santuário no dia 31 de janeiro, não tendo sido substituído por outro elemento na hierarquia da instituição.
Ao Observador, um porta-voz da diocese de Leiria-Fátima confirmou que se tratou de um “pedido da parte dele, por decisão pessoal“, e sublinhou que se aguarda ainda a formalização da parte do Vaticano.
Dizendo respeitar integralmente a decisão pessoal de Vítor Coutinho, o porta-voz da diocese sublinha a perda “de uma pessoa de grande valor, que sempre manteve uma relação ativa com a diocese, que fica a perder um padre que tinha qualidades humanas e intelectuais acima da média“.
A decisão do número dois do Santuário de Fátima é conhecida depois de um ano de grande crise financeira na instituição, que há mais de uma década mantém uma grande opacidade em torno das suas contas, que conduziu a despedimentos e a uma enorme controvérsia no interior do santuário, com trocas de acusações entre sacerdotes sobre a gestão económica da instituição.
O porta-voz da diocese disse, porém, que a opção do vice-reitor do Santuário de Fátima “não foi motivada por toda essa situação”. Era “uma opção anterior, do foro vocacional e da fé, que foi sendo amadurecida antes dessas situações”, disse o mesmo porta-voz. O ambiente dentro da instituição terá, contudo, aprofundado essa a reflexão.
O Observador contactou o padre Vítor Coutinho, que não quis comentar decisões da vida privada.
Acolhendo todos os anos cerca de seis milhões de peregrinos vindos de todo o mundo, o Santuário de Fátima é um dos mais importantes lugares de culto e peregrinação para os católicos na Europa. Movimenta milhões de euros e tem cerca de três centenas de funcionários.
Ordenado em 1991, o padre Vítor Coutinho, de 55 anos de idade, é doutorado em Teologia e teve uma grande relevância na coordenação do centenário das aparições de Fátima, uma jornada de celebrações entre 2010 e 2017, que culminou com a visita do Papa Francisco ao Santuário para canonizar os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto.
Em novembro de 2014, o sacerdote, que já era chefe de gabinete do bispo, foi nomeado para o cargo de vice-reitor do Santuário de Fátima.