Qualidade, organização, maturidade, inteligência. A vitória da Croácia frente à Suíça este domingo veio valorizar ainda mais aquilo que a Seleção Sub-21 de Portugal fez contra os balcânicos na primeira jornada da fase de grupos do Europeu, num triunfo pela margem mínima que permitiu um passo importante rumo à qualificação para a fase a eliminar. Mais do que isso, o que ficou na retina foi a capacidade da equipa em perceber os momentos do jogo, em saber lidar com as adversidades e em esperar pelo momento certo sem perder a sua forma de atuar para decidir a partida. E esse era mais uma vez o desafio da equipa nacional na Eslovénia, agora com a Inglaterra.

O início do último capítulo da trilogia começou com Fábio: Portugal vence Croácia no arranque do Europeu Sub-21

“São duas equipas que primam pela posse de bola. Vamos tentar perceber quem conseguirá ter maior facilidade em mantê-la e, quando a recuperar, que danos poderá causar no adversário. Será um jogo bastante interesse a esse nível, além da enorme qualidade individual presente. A capacidade de recuperação da bola será um dos pontos chave neste jogo. O mais difícil do grupo? Se fizermos as coisas como devemos, o jogo pode ficar mais fácil”, tinha dito Rui Jorge, que cumpriu este sábado 48 anos, na antevisão da partida em Ljubljana, recordando também um ponto do jogo com a Croácia para explicar uma parte que teria de melhorar: “A nossa dificuldade nos minutos finais decorreu também da quantidade de jogadores que colocaram na frente. É normal ter alguma dificuldades em manter a bola, sobretudo no primeiro terço, mas tem menos atrás e é aí que teremos de ser mais letais”.

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Rui Jorge pediu, Rui Jorge conseguiu. E até mesmo o que faltava foi o selecionador a ir buscar ao banco: depois de uma primeira parte onde teve sempre o controlo do jogo entre algumas oportunidades falhadas, Portugal deu mais largura às ações ofensivas ao regressar ao 4x3x3, começou a ganhar o jogo pelo meio numa transição letal como era pedido com assistência de Pedro Gonçalves para Dany Mota e “fechou” o triunfo com uma penálti sofrido por Gonçalo Ramos apenas dez segundos depois de entrar quando não tinha ainda sequer tocado na bola. Se o capital inicial já tinha muita qualidade, as apostas saídas do banco deram mais crédito a uma equipa de miúdos que joga como graúdos também porque já pisa na sua larga maioria os melhores palcos do futebol europeu. E essa experiência também ajuda, e muito, à forma adulta como a Seleção Sub-21 percebe todos os momentos do jogo.

Portugal apresentou apenas duas alterações em relação à equipa que defrontou a Croácia, com as inclusões de Fábio Vieira e Dany Mota nos lugares de Francisco Trincão e Tiago Tomás para projetar a equipa mais num 4x4x2 losango que tivesse o jogador do FC Porto como principal vértice ofensivo no corredor central (mas com liberdade para cair nos corredores laterais) e o avançado do Monza na frente com Pedro Gonçalves. E bastaram apenas dez minutos para haver duas boas situações de golo das caras novas, com um cabeceamento de Dany Mota depois de um cruzamento largo de Thierry Correia a ser desviado a caminho da baliza por um defesa britânico (3′) e um remate no corredor central à entrada da área de Fábio Vieira que saiu à figura de Ramsdale (10′). Do lado de Inglaterra, que não contou com o lesionado Hudson-Odoi, Eddie Nketiah teve o único lance de perigo após uma perda de bola de Diogo Leite no primeiro terço que Diogo Dalot conseguiu depois cortar na área nacional (13′).

O encontro entrou depois numa fase irregular, com mais passes falhados e com Portugal a ter mais dificuldades em levar a bola até ao último terço, conseguindo ainda assim mais duas boas oportunidades em minutos consecutivos e onde brilhou Ramsdale, primeiro a defender para a frente um remate cruzado de Thierry Correia antes do desvio de Godfrey para canto quando já tinha Dany Mota nas costas para fazer a recarga (32′) e depois a travar um pontapé à entrada da área de Pedro Gonçalves após assistência de Fábio Vieira no canto (33′). Smith Rowe, numa diagonal que numa das raras vezes soube explorar as costas da defesa nacional, teve antes do intervalo um lance que poderia ter criado perigo mas Diogo Costa teve uma saída rápida da baliza e fez a “mancha” (35′).

Portugal tinha muito mais remates (8-2, três enquadrados contra nenhum dos ingleses), mais cantos (3-1), mais posse (57%-43%), mais passes (330-223, 290-173 entre os concretizados com 88% de eficácia nacional) e tantas bolas recuperadas como a Inglaterra (21) mas faltava o golo que pudesse desbloquear o encontro e colocar num outro contexto o jogo da Seleção e foi por isso que Rui Jorge trocou Florentino Luís e Gedson Fernandes por Daniel Bragança e Francisco Trincão, abrindo um 4x3x3 com dois alas e o habitual triângulo a meio-campo. A adaptação demorou alguns minutos mas com essa curiosidade de Portugal ter ganho largura no seu jogo mas a ser capaz de criar oportunidades pelo corredor central, com Fábio Vieira a rematar em força à entrada da área de pé esquerdo por cima (56′) e Vítor Ferreira a tentar em arco de pé direito com a bola a rasar o poste (61′).

Madueke, numa diagonal da direita para o meio que acabou com remate por cima, deixou o primeiro aviso dos ingleses mas a entrada de Francisco Conceição para o lugar de Fábio Vieira, para jogar como terceiro médio por dentro e não como ala por fora, acabou por ser a peça que faltava para o golo chegar: o jogador do FC Porto teve uma boa ajuda sem bola no meio-campo contrário, Diogo Leite lançou rápido a transição com Pedro Gonçalves a conduzir, grande assistência para Dany Mota e remate em arco de pé direito para o lado contrário a bater ainda no poste e a seguir para a baliza de Ramsdale (64′). E como o banco de Portugal tinha ainda mais crédito, Rui Jorge lançou depois Gonçalo Ramos no lugar do avançado do Monza para sofrer uma grande penalidade na sequência de um lançamento sem ter sequer tocado ainda na bola, aproveitada por Trincão para fazer o 2-0 (74′).

Portugal soma agora duas vitórias e seis pontos no grupo D, mais três do que Croácia e Suíça, o próximo opositor da Seleção na próxima quarta-feira (17h). Em caso de vitória ou empate, o conjunto de Rui Jorge passa no primeiro lugar; em caso de derrota, depende do resultado e do encontro entre Croácia e Inglaterra. De referir também que Portugal e Dinamarca são as únicas seleções que conseguiram ganhar os dois encontros até ao momento, sendo também a par da Espanha as únicas equipas que ainda não sofreram golos nesta fase final.