Isabel dos Santos acusou João Lourenço de ter montado uma operação para destruir a sua carreira empresarial. Na resposta apresentada ao Tribunal Superior de Londres no âmbito de um processo em que a Unitel reclama a devolução de empréstimos feitos à empresária angolana, a defesa de Isabel dos Santos admitiu ter em mãos gravações secretas que provam que o Presidente de Angola montou uma operação para a atingir.
Segundo o Financial Times, que avançou primeiro com a notícia, o documento alega que João Lourenço, motivado por uma “vingança pessoal”, deu ordens a procuradores, juízes e espiões angolanos para lançarem uma série de ataques coordenados contra Isabel dos Santos. Lourenço, que sucedeu a José Eduardo dos Santos na Presidência de Angola, terá assim usado “os recursos do Estado angolano e do poder instituído”, incluindo o sistema judicial e os serviços secretos do país, para montar uma operação que visava atacar exclusivamente a angolana.
Em comunicado, Isabel dos Santos fala numa “conspiração de grande alcance engendrada pelo governo do Presidente angolano (…) para usurpar ilegalmente” os seus bens.
“O governo angolano instruiu o sistema judicial (incluindo o Supremo Tribunal angolano e a Procuradora-Geral da República) para que fosse instaurado um processo judicial pré-determinado contra Isabel dos Santos, o que permitiu a aplicação de uma ordem de congelamento dos seus bens pelo Estado angolano”, refere o comunicado, que defende que o governo ordenou também à Mercury “que agisse em conluio com a PT Ventures (…), no processo de arbitragem da ICC Unitel, com o objetivo de garantir um resultado favorável à PT Ventures”.
“Este conluio permitiu à Sonangol comprar as ações da Unitel detidas pela subsidiária da Oi a PT Ventures e assumir assim 50% da Unitel, bem como adquirir os seus direitos de arbitragem por executar, que a Sonangol optou por aplicar a seletivamente apenas contra a Vidatel Ltd. (acionista da Unitel em que Isabel dos Santos é proprietária), apesar de todas as outras partes (Geni e Dauca subsidiária Mercury), serem conjuntamente responsáveis.”
Para sustentar estas acusações, a defesa da empresária referiu a existência de gravações secretas captadas pela agência de inteligência privada Black Cube, fundada por antigos membros da Mossad. A empresa israelita “foi escolhida pela sua experiência em descobrir conspirações”, explicou Isabel dos Santos.
As “dezenas de horas de gravações áudio e vídeo” captadas mostram alegadamente “antigos altos funcionários e conselheiros do governo angolano” a fazerem “revelações condenáveis em torno de como o governo angolano conspirou para lançar uma série de ataques coordenados”. Segundo as informações recolhidas pelo Financial Times, citadas pelo Jornal de Negócios, entre estes contam-se Carlos Saturnino e familiares do ex-vice-presidente Manuel Vicente.
Para Isabel dos Santos e respetiva defesa, as gravações provam como “o altamente mediatizado ‘Luanda Leaks’ de janeiro de 2020 não foi realizado por denunciantes whistleblowers, mas por um ataque direcionado dos serviços secretos angolanos que operaram sob a direção expressa da liderança de João Lourenço”.
“As provas esclarecem como os materiais publicados durante o chamado Luanda Leaks foram obtidos ilegalmente, manipulados e utilizados como elemento central de uma ampla ‘estratégia de apropriação de ativos’ concebida pela administração de João Lourenço para ‘acusar, difamar e isolar ilegalmente Isabel dos Santos, permitindo assim ao Estado angolano confiscar ilegitimamente os seus bens’, refere ainda o comunicado.