Três dos principais grupos étnicos armados em Myanmar (ex-Birmânia) fizeram esta terça-feira um ultimato à junta militar, ameaçando anular o seu acordo de cessar-fogo se as mortes de manifestantes continuarem no país.

O Exército Arakan (AA), o Exército de Libertação Nacional de Taang e o Exército da Aliança Democrática Nacional de Myanmar, que assinaram uma declaração conjunta, alertaram que, se o exército birmanês não parar com as ações violentas e não atender às demandas da população, os grupos étnicos colaborarão com os dissidentes nos protestos da chamada “Revolução da Primavera”.

Se as forças de segurança “continuarem a matar civis, vamos colaborar com os manifestantes e retaliar“, referem na declaração conjunta.

“Estou muito feliz e grato aos nossos irmãos e irmãs (…) que mais uma vez mostraram uma liderança forte contra este regime brutal e ilegítimo em Myanmar”, disse Dr. Sasa, que atua como porta-voz do autodenominado “governo legítimo” formado por um grupo de deputados eleitos, numa mensagem na rede social Twitter.

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Este grupo de parlamentares que compõe o Comité de Representantes da Assembleia da União (CRPH) tinha pedido às etnias armadas do país, há duas semanas, que “unissem forças” contra a junta militar. O alerta dos grupos armados ocorre após o fim de semana mais sangrento no país, com mais de 100 mortos, segundo estatísticas divulgadas esta terça-feira pela Associação de Assistência a Presos Políticos da Birmânia (AAPP). A organização não-governamental (ONG) especificou que o número de mortos provavelmente é muito maior”, especialmente porque centenas de pessoas que foram detidas estão agora desaparecidas.

“É provável que a situação evolua para uma guerra civil total”, disse Debbie Stothard, da Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH), à agência de notícias AFP.

Desde a independência de Myanmar em 1948, vários grupos étnicos têm estado em conflito com o Governo central por mais autonomia, acesso aos muitos recursos naturais do país ou parte do lucrativo comércio de drogas. Os militares birmaneses justificaram o golpe de Estado, ocorrido a 1 de fevereiro, com uma alegada fraude nas eleições de novembro passado, nas quais o partido da líder Aung San Suu Kyi venceu e revalidou o seu poder, com o aval de observadores internacionais.