O Fundo de Resolução não aceitou vender a seguradora GNB Vida por 81 milhões de euros, tendo depois o Novo Banco e a compradora Apax chegado aos 123 milhões, desconhecendo a auditora Deloitte “o racional” do valor final.

Tendo em consideração um preço de venda estimado de 81 milhões de euros para setembro de 2019, o banco negociou a definição de um preço final de venda de 123 milhões de euros (acrescido da componente variável de 125 milhões de euros)” para compra da seguradora GNB Vida, pode ler-se na auditoria da Deloitte ao Novo Banco a que a Lusa teve acesso.

O documento, que tem partes rasuradas devido a restrições de confidencialidade, refere que “de acordo com esclarecimentos obtidos, a definição deste preço resultou de negociações mantidas entre o Novo Banco e a Apax Partners, acompanhadas pelo Fundo de Resolução”.

O Fundo de Resolução transmitiu “que não consideraria aceitável que a conclusão da operação se fizesse pelo preço final estimado que resultaria da aplicação do mecanismo de ajustamento de preço”, os 81 milhões de euros, “e que, caso o preço não fosse revisto em alta, não autorizaria a operação“.

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Não foi obtida documentação formal que explicite o racional e a base da fixação do valor final da operação”, refere a Deloitte.

No dia 10 de agosto do ano passado, o jornal Público noticiou que o Novo Banco vendeu em outubro de 2019 a GNB Vida com desconto de quase 70% a fundos geridos pela Apax, operação que gerou uma perda de 268,2 milhões de euros.

O jornal assinalava que não era “apenas a variação acentuada de valores a suscitar controvérsia, são os sinais de que as autoridades nacionais e europeias desvalorizaram os indícios de ligação do comprador” ao magnata do setor segurador Greg Lindberg, acusado pela justiça dos Estados Unidos por corrupção e fraude fiscal.

O Novo Banco disse então que o comprador da seguradora GNB “teve a idoneidade verificada pelo regulador de seguros” e que a venda foi feita com acordo com Fundo de Resolução.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) afirmou sobre o caso que não observou nenhuma ligação entre os compradores da GNB Vida, seguradora do Novo Banco, e Greg Lindberg, gestor acusado de corrupção nos Estados Unidos.

O supervisor dos seguros afirma que Greg Lindberg e a sociedade GBIG [Global Bankers Insurance Group] Portugal informaram que “um fundo gerido pela Apax Partners LLP pretendia adquirir a GBIG Portugal S.A. e, consequentemente, Greg Evan Lindberg não seria o beneficiário último da operação“, bem como a estrutura acionista prevista para a GNB Vida não “seria aquela que tinha sido apresentada no processo inicial”.

O Fundo de Resolução, que detém 25% do Novo Banco, afirmou então que o montante da venda da seguradora GNB Vida refletiu “o valor de mercado” da empresa, à data.

A seguradora GamaLife, anteriormente designada por GNB Vida, rejeitou também ter “qualquer relação” com o gestor acusado de corrupção Greg Lindberg, segundo um comunicado enviado ao mercado.