Já foi escolhida a “Fotografia do Ano” da edição de este ano (a 64ª) do concurso World Press Photo. O prémio principal vai para “The First Embrace”, do fotógrafo dinamarquês Mads Nissen, que retrata uma mulher de 85 anos, Roza Luzia Lunardi, a ser abraçada por uma enfermeira (Adriana Silva da Costa Souza) num lar de idosos em São Paulo, no Brasil, a 5 de agosto do ano passado.
A imagem comporta em si a “vulnerabilidade”, os “entes queridos”, a “perda e separação”, a “morte” e a “sobrevivência” a que se associa mais um ano de pandemia da Covid-19, defendeu em comunicado o membro do júri e fotógrafo Kevin WY Lee. E venceu também a categoria “Assuntos Noticiosos – Fotografia Única”.
Os vencedores das várias categorias do prémio foram revelados na íntegra esta quinta-feira e distinguem ainda um português entre os principais vencedores. Pode consultar todas as imagens vencedoras clicando na fotografia principal deste artigo.
O fotógrafo português distinguido é Nuno André Ferreira, da Agência Lusa, que ficou em terceiro lugar na categoria “Spot News – Singles” — referente às melhores fotografias do ano em cobertura de acontecimentos noticiosos inesperados ou de última hora.
A fotografia de Nuno André Ferreira distinguida no concurso tem como título Forest Fire e retrata um bebé no interior de um automóvel a pouca distância de um incêndio (captado em pano de fundo) que começou em Oliveira de Frades, a 7 de setembro, e que se espalhou depois chegando às localidades de Sever do Vouga e Águeda.
Para esta edição do concurso internacional de fotografia e fotojornalismo, promovido pela organização sem fins lucrativos com sede em Amesterdão, nos Países Baixos, foram submetidas em candidatura mais de 70 mil fotografias de mais de quatro mil fotógrafos, provenientes de 130 países.
A validação foi feita por um júri de 15 mulheres e 13 homens, provenientes dos seis continentes e com carreira ligada à fotografia. A presidente do grupo de jurados que escolheu os vencedores desta edição foi NayanTara Gurung Kakshapati, fundadora da plataforma independente e liderada por artistas photo.circle, que promove a aprendizagem, exposição, publicação e criação de projetos colaborativos relacionados com a fotografia no Nepal.
Na primeira lista de vencedores avançada à imprensa, que ainda não incluía os distinguidos nas categorias “Fotografia do Ano”, “Reportagem do Ano”, “Vídeo Online do Ano” e “Trabalho Interativo do Ano”, estavam representados 28 países — entre os quais Portugal, através da fotografia de Nuno André Ferreira. Entre os 45 vencedores, 35 tiveram nesta edição a sua primeira distinção no concurso World Press Photo.
“Habibi” de Faccilongo vence “Reportagem do Ano”
Na categoria “Reportagem do Ano”, o vencedor foi Antonio Faccilongo, com o trabalho “Habibi” — uma série de fotografias que servem como crónicas de “histórias de amor” que decorrem no mesmo espaço geográfico que “um dos mais longos e complicados conflitos contemporâneos, a guerra Israel-Palestina” e que mostram “o impacto do conflito nas familias palestinianas e as dificuldades que enfrentam para preservar a sua dignidade humana e direitos reprodutivos”. Pode ver todas essas imagens aqui.
Já no prémio dedicado ao tema “Assuntos Contemporâneos”, o vencedor na categoria de fotografias individuais foi o argentino Pablo Tosco, com a imagem “Yemen: Hunger, Another War Wound”. A imagem retrata uma mulher (Fatima) e o seu filho a prepararem uma rede de pesca num barco ao largo da baía de Khor Omeira, no Iémen.
Na descrição da imagem incluída no site do World Press Photo refere-se que a mulher fotografada, Fatima, tem nove filhos e alimenta a família com o que consegue pescar. Apesar da sua localidade ter sido devastada pelo conflito armado na região, Fatima conseguiu comprar um barco com o dinheiro que ganhou a vender peixe e tenta sobreviver através da atividade pesqueira.
O conflito no Iémen já foi descrito pela UNICEF como a maior crise humanitária do mundo e as estatísticas sugerem que quase dois terços da população — perto de 20.1 milhões de pessoas — precisaram de apoios solidários para se alimentarem no início de 2020, sendo que quatro a cada cinco pessoas (80% dos locais) precisaram de algum tipo de ajuda humanitária nesse período. A pandemia da Covid-19, as chuvas intensas que se fizeram sentir na região em 2020 e a destruição de campos de cultivo tornaram ainda mais grave a atual situação no Iémen.
Em segundo e terceiro lugar desta categoria de fotografias individuais relativas a assuntos contemporâneos ficaram, respetivamente, o fotógrafo francês Jérémy Lempin, com “Doctor Peyo and Mister Hassen” — que retrata um cavalo, Peyo, junto a uma paciente de cancro acamada e o seu filho (o animal tem sido usado para confortar pacientes de cancro em Calais, como o The Guardian noticiou) — e “Resting Soldier”, do fotógrafo arménio Vaghinak Ghazaryan, que retrata um soldado a descansar numa trincheira envolto em plástico, durante o conflito armado entre forças da Arménia e Azerbeijão que decorreu entre 27 de setembro e 9 de novembro do ano passado.
Já na categoria “Assuntos Contemporâneos – Reportagens”, o primeiro prémio foi entregue ao fotógrafo russo Alexey Vasilyev pelo trabalho “Sakhawood”, relativo a um pequeno mas ambicioso e premiado meio cinematográfico de uma das regiões mais remotas da Rússia (ver série aqui). Em segundo lugar ficou a norte-americana Maya Alleruzzo com a série “Islamic State’s Yazidi Survivors” (pode ver todas as fotografias do conjunto aqui) e em terceiro lugar Zishaan A Latif, com “The Aftermath of the North East Delhi Riots” (ver todas as fotografias aqui).
Pode ver ainda as outras fotografias nas categorias “Assuntos Noticiosos”, “Ambiente”, “Desporto”, “Notícias Recentes” (ou de última hora), “Projetos a Longo Prazo”, “Natureza” e “Retratos” clicando na fotografia principal deste artigo (no topo).