Sem escassez de vacinas, o Governo garantiu esta quarta-feira que Portugal vai agora acelerar o processo de vacinação e que em finais de maio todos os utentes com mais de 60 anos terão levado, pelo menos, uma dose. O coordenador da task force quer mesmo vacinar 100 mil pessoas por dia. Nesta fase o alvo prioritário serão todos os que tiverem entre os 70 e os 79 anos, das faixas etárias que mais mortes por Covid-19 registou. E para consumar esse objetivo, as autoridades de saúde contam com a vacina da Janssen, por não terem sido levantadas questões quanto à sua administração nestas faixas etárias.

Na terça-feira a Agência Europeia do Medicamento (EMA) anunciou que, de facto, podia haver uma ligação entre a administração da vacina da Janssen (a farmacêutica da Johnson & Johnson) e os oito vacinados, com menos de 60 anos, maioritariamente mulheres, que desenvolveram coágulos sanguíneos depois de tomarem a vacina. No entanto, afirmou que os riscos continuam a ser muito inferiores aos benefícios e que a vacina é “segura e eficaz”. Este foi, assim, o argumento usado e repetido por todos os que participaram na conferência de imprensa sobre o Plano de Vacinação para a Covid-19 esta quarta-feira.

“A EMA confirma que a avaliação risco/benefício permanece positiva, é maior a vantagem da administração da vacina face a uma fatalidade provocada pela Covid-19”, sublinhou, Marta Temido

A ministra lembrou que esses oito casos aconteceram em 7 milhões de vacinados, o que representa um número reduzido. E puxando da decisão da EMA lembrou que a “decisão [de usar esta vacina] está tomada”. Falta apenas que a Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, que funciona na Direção-Geral da Saúde, reveja agora as decisões da EMA, que as traduza e verifique se é necessário algum ajustamento. Pelo que em dias deverá ser administrada.

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Essa decisão, referiu o responsável pelo Infarmed, Rui Ivo, prende-se também com esta segunda fase de vacinação, em que se pretende ver vacinados todos os maiores de 60 anos com um foco prioritário na faixa etária entre os 70 e os 79 anos — idades que não levantaram qualquer questão na toma desta vacina à semelhança da AstraZeneca.

Portugal espera mais informações sobre a AstraZeneca

Já quanto à vacina da AstraZeneca, tanto Marta Temido como Rui Ivo, referiram estar à espera de novas informações da EMA, que deverão chegar até sexta-feira sobre duas questões concretas: estreitar os grupos etários para a qual se recomenda preventivamente que a vacina não seja administrada, e, por outro lado, uma nota sobre a segunda toma para as pessoas que tomaram a primeira dose da AstraZeneca.

Fala agora o coordenador da Task Force para a Vacinação, Henrique Gouveia e Melo. “O plano está a adaptar-se em função da realidade que está a acontecer no ambiente externo”, diz.  O militar espera vacinar 100 mil pessoas por dia, sete dias por semana durante cerca de quatro meses. “Não será uma tarefa fácil”, diz.

Doentes oncológicos ativos passam a prioritários. Aumentam doenças na lista

120 dias depois de ter sido implementado o Plano de Vacinação contra a Covid-19, paralelamente às idades prioritárias para a vacinação, aumentaram também os doentes crónicos que passam a ser prioritários na vacina, pela sua doença e não pela sua idade. Assim, explicou a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, doentes oncológicos ativos (tem que estar a fazer quimioterapia ou radioterapia), pessoas em situação de transplantação (desde que tenham passados seis meses do transplante), pessoas com imunodepressão (com HIV são prioritários), doenças neurológicas e epilepsia refratária vão também ser vacinados brevemente. Acresce à lista de doentes prioritários quem sofre de doença mental grave, como a esquizofrenia, e de obesidade (acima de 35% do índice de marca corporal), assim como os diabéticos tipo II, que vão ser vacinados de acordo com a faixa etária.

Graça Freitas anunciou também que até aqui, dada a escassez de vacina, não eram vacinados os utentes que já tinham tido Covid-19. Agora, quem com mais de 60 anos teve Covid-19 há mais de seis meses passam também a ser vacinados, mas apenas com um dose, porque já têm a imunidade natural, segundo explicou.

Autoridades garantem ter profissionais para vacinar

Para vacinar 100 mil pessoas por dia, são precisas pessoas. Para o o coordenador da Task Force da vacinação, Gouveia e Melo, isso não é um problema. A vacinação vai ser feita primordialmente por funcionários do Ministério da Saúde e se for preciso que contratará profissionais de saúde de fora, disse. Marta Temido diz que muitos vão trabalhar na sua hora de serviço, poderão ter que trabalhar em acumulação de funções. “Vai ser uma fase muito exigente”, diz Marta Temido.

O coordenador da Task Force foi confrontado pelos jornalista com a falha de energia elétrica no Centro de Vacinação de Vila Nova de Famalicão, que esta madrugada inutilizou cerca de 3500 vacinas contra a Covid-19. “Conseguir fazer este processo todo sem um único erro é impossível”, afirmou, explicando que quando acontecem erros como este há que investigar as causas e corrigi-las. “Muitas vezes não é negligência ou dolo, é porque houve acidentes”. Ainda assim, garantiu, estas perdas têm representando uma “percentagem mínima do que estamos a perder”.

A Ministra da Saúde prevê que na próxima semana a plataforma para o autoagendamento da vacina esteja disponível. No entanto, sublinha que o próprio portal do Serviço Nacional de Saúde dispõe de um simulador onde é possível atualizar dados e inscrever na vacinação quem não está inscrito no Serviço Nacional de Saúde.

A nova plataforma permitirá que as pessoas elegíveis dentro da fase de vacinação (agora entre os 70 e os 79) escolher várias opções para serem vacinados.