Os bispos católicos transmitiram esta quinta-feira ao Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, a sua preocupação com a vulnerabilidade da juventude face ao recrutamento por grupos insurgentes, nomeadamente os que realizam ataques armados no norte do país.
“Foi um encontro privado que solicitámos para conversar com o Presidente da República e trazer alguns pareceres da Conferência Episcopal de Moçambique [CEM] sobre a situação do país nas diversificadas vertentes, mas acabámos abordando assuntos atinentes à situação da sociedade em geral”, referiu Lúcio Andrice Muandula, bispo de Xai-Xai e presidente da CEM, citado num comunicado da Presidência moçambicana.
De acordo com o documento, entre os temas discutidos, destacaram-se as necessidades da juventude moçambicana, um ponto levantado, em conferência de imprensa, na última semana, pelos bispos, quando alertaram que a “marginalização” da juventude pode fazer alastrar a insurgência armada no país.
A Igreja gostaria que a juventude vivesse uma vida diferente da que está a viver, por isso encorajamos o povo, em particular a juventude, no sentido de procurar cultivar as suas esperanças e sonhos e trabalhar para que se realizem”, declarou Lúcio Andrice Muandula.
Na conferência de imprensa da sexta-feira, os bispos disseram que a maior parte da juventude, principalmente no meio rural, sente-se marginalizada pelo poder político, o que resulta da ausência de um “projeto comum” para o desenvolvimento do país.
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“É fácil aliciar pessoas, cheias de vida e sonhos, mas sem perspetivas e que se sentem injustiçadas, vítimas de uma cultura de corrupção, a aderirem à proposta de uma nova ordem social imposta com a violência”, afirmou, na sexta-feira, o bispo de Chimoio e porta-voz do CEM, João Carlos.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.