José Lourenço, ex-presidente da distrital do Chega no Porto, vai ser suspenso do partido por 90 dias devido a declarações captadas em vídeo durante a organização da manifestação contra a ilegalização do Chega, onde ofendeu e ameaçou membros do partido. A decisão foi tomada pela comissão de ética que vai propor a expulsão ao Conselho de Jurisdição.
Apesar de já não estar à frente da distrital do Porto, por se ter demitido do cargo, José Lourenço foi uma das pessoas que marcou presença, no passado fim de semana, na manifestação do Chega contra a ilegalização do partido. No Facebook, o militante falou dos seus “heróis”, de pessoas que fizeram “mais de 600 km” para estarem presentes e mostrou-se agradecido àqueles que nunca o “abandonaram”.
José Lourenço também fez questão de mostrar apoio a André Ventura quando os autocarros vindos do Porto se dirigiam para a capital. “O Porto a caminho de Lisboa. Não seremos ilegalizamos, não seremos coniventes com a justiça de Sócrates. André Ventura, já sabes que não estás sozinho. Nunca estiveste e nunca estarás”, escreveu o militante agora suspenso numa das publicações.
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O militante do Chega era uma das pessoas mais influentes da máquina do Chega e chegou a ser um dos homens fortes de André Ventura. Em janeiro, poucos dias após as eleições Presidenciais, apresentou a demissão do cargo de líder da distrital alegando “motivos de ordem pessoal” e garantiu que a saída nada teve a ver com o resultado eleitoral.
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José Lourenço subiu no aparelho do partido a pulso e foi por várias vezes acusado de ameaçar e coagir os seus adversários internos. Ex-simpatizante do CDS, amigo de Fernando Madureira, líder da claque dos Super Dragões, e conhecido pelas suas ligações a César Do Paço, milionário, ex-consul de Portugal e depois de Cabo Verde em Palm Cost, nos Estados Unidos, e protagonista de várias reportagens assinadas pela revista Visão e depois pela SIC, foi responsável pela maior mobilização de apoiantes do Chega durante a campanha presidencial, num drive-in em Leça da Palmeira.
A suspensão de José Lourenço surge no âmbito da diretiva 3/2020, que foi aprovada na II Convenção Nacional do Chega, e que levou a várias críticas. O objetivo desta é travar, segundo esclareceu o coordenador da comissão de ética ao Observador na altura da sua criação, “ofensas, difamações ou insultos gratuitos entre os membros do partido”. André Ventura disse mesmo que esta diretiva surgiu para controlar a “desorganização e o caos” dentro do partido.
Esta não é a primeira vez que a “lei da rolha” é colocada em prática. Rui Roque, o militante que apresentou uma moção sobre a remoção dos ovários na II Convenção Nacional do Chega, já foi suspenso do partido por ordem da direção nacional, por considerar ter existido um “ato ilícito”.
Logo após a aprovação da chamada diretiva 3/2020 foi suspenso o militante do Chega Bento Marçal Mestre que era presidente da Mesa de Setúbal. E em março, e já depois de constituída a comissão de ética, o partido partilhou no site várias notas informativas onde dava conta da suspensão de 10 militantes entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021.