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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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A máquina que faz mexer o Chega. Os homens e as mulheres de André Ventura

Antigos autarcas do PSD e CDS, aficionados, empresários, profissionais itinerantes, católicos e evangélicos vão desfilando pela campanha. Há um núcleo duro, generais, operacionais e sargentos.

André Ventura está cercado. No exterior do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, cerca de cem manifestantes anti-Chega gritam “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”. São 18h32 e é preciso decidir se o candidato deve ou não enfrentar a multidão e manter o comício.

O Observador tinha ficado para trás e assiste à cena. À volta de Ventura, Diogo Pacheco Amorim, o grande ideólogo do partido, Rui Paulo Sousa, mandatário nacional e diretor de campanha, Ricardo Regalla, diretor de comunicação do partido, Pedro Pinto, líder da distrital do Chega/Beja, conferenciavam, sempre com o chefe de segurança presente. Ventura gesticula mas não é possível perceber o que diz. De qualquer forma, não havia dúvidas sobre a sintonia do grupo: o comício era para manter.

Têm sido eles a comitiva mais restrita de André Ventura. Há mais gente, claro. E por todo o país, onde o líder do Chega para, juntam-se dirigentes das estruturas locais do partido. Ex-militantes do CDS, antigos e atuais autarcas com ligações ao PSD, gente que saiu do Aliança de Pedro Santana Lopes, aficionados, negacionistas, empresários, especialistas em redes sociais, católicos fervorosos, evangélicos e representantes dos profissionais itinerantes. São eles a máquina de Ventura.

O núcleo duro

Dina Nunes, mulher de André Ventura desde 2016, é uma espécie de primeira dama da comitiva. Discreta, católica conservadora, fisioterapeuta de crianças, pouco interventiva, quase sempre na sombra, não se lhe conhece um apetite especial pela política, nem consta que participe nas reuniões da comitiva que prepara e discute todos os dias a agenda do candidato. Mas está sempre ao lado de Ventura em todos os almoços e jantares-comício. E não ignora a componente cénica da política. Em Viana do Castelo, por exemplo, trazia uns brincos de filigrana com o Coração de Viana. No Minho, sê minhota.

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Dina Nunes, mulher de Ventura, em Coimbra

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Rui Paulo Sousa é a extensão de Ventura no terreno. Impecavelmente vestido, fato à medida, sapato engraxado, barba acertada e cabelo penteado ao milímetro, é ele que lança todos os discursos (ou quase todos, porque há luzes que devem brilhar mais do que as outras). Empresário de Santarém, sócio na empresa Villabosque — Espargos Verdes do Ribatejo, além de ser um assumido “antigo simpatizante” do CDS, foi cabeça de lista do Aliança por aquele distrito, antes de deixar o partido fundado por Santana. Está sempre na mesa do candidato, incluindo no jantar-comício em Braga, quando, já no palco, sugeriu perante 170 pessoas que gritavam contra os jornalistas, que o “inimigo” também estava dentro daquela sala — o inimigo era a comunicação social. Acabaria por, no dia a seguir, condenar os atos de violência e as ameaças.

Rui Paulo Sousa, o diretor de campanha e mandatário nacional

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Se Rui Paulo Sousa é o cérebro da operação no terreno, Diogo Pacheco Amorim é a maior influência ideológica de Ventura. Quando ainda estudava na Universidade de Coimbra foi um dos nacionalistas revolucionários que integrou o Grupo da Cidadela, ao lado de figuras como José Miguel Júdice, que pretendia lançar uma guerra cultural contra a maioria de esquerda insuflada pela crise estudantil de 1969.

Na terça-feira, em Coimbra, mal mexeu um músculo perante a multidão. Encostado a um pilar, enquanto fumava tranquilamente um cigarro, divertia-se. “Isto? Quando eu andava aqui a estudar eram o triplo das pessoas que estão aqui e não me metiam medo”, comentou com o Observador.

Conhece intimamente a direita: esteve com Manuel Monteiro no CDS e depois na Nova Democracia; esteve ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa na oposição interna a Francisco Pinto Balsemão; ajudou a fazer a Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas e Ribeiro Telles; foi uma peça importante MDLP de Spínola; e, antes disso, pertenceu ao MIRN de Kaúlza de Arriaga.

Diogo Pacheco Amorim é o grande ideólogo de Ventura

LUSA

Além da influência política, Pacheco Amorim, de origem aristocrática, conservadora e monárquica, é também um elo importante de ligação de Ventura à elite empresarial portuguesa. O vice-presidente do partido foi um dos comensais que esteve presente no almoço com Miguel Félix da Costa, Carlos Barbot, Paulo Côrte-Real Mirpuri, João Pedro Gomes, Francisco Sá Nogueira, Francisco Cruz Martins, organizado por João Maria Bravo, dono do grupo Sodarca, empresa que lidera o fornecimento de armas, munições, tecnologia e equipamento militar ao Estado.

Ricardo Regalla é outra peça importante na máquina de Ventura. Consultor numa imobiliária de luxo, aficionado tauromáquico e antigo simpatizante do CDS, fumador compulsivo — tal como Pacheco de Amorim, aliás — não largou a samarra durante os dias em que a caravana passou pelas terras frias do interior. Tem uma relação mais do que profissional com André Ventura: quando as coisas apertaram em Coimbra foi ele quem conduziu Dina Nunes, sobretudo bege e luvas de pele vermelhas, para um local mais afastado. Tinha como missão protegê-la.

Ricardo Regalla é o diretor de comunicação do partido

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Lucinda Ribeiro, dirigente do partido e uma das evangélicas mais influentes e politicamente ativa no Chega, também já se juntou à campanha em diversos pontos do país. Mas tem-se mantido discreta ao contrário dos restantes.

Os operacionais

Luc Mombito é, a par de Dina Nunes, uma das relações pessoais mais antigas de André Ventura nesta campanha. Amigo de longa data de André Ventura, foram colegas no seminário de Penafirme. Afilhado de Mobutu Sese Seko, antigo ditador do Zaire, é ele quem conduz o carro onde segue sempre Ventura, Dina Nunes e o chefe de segurança do líder do Chega. Mas o seu papel é muito maior: participa nas reuniões políticas de campanha e mantém uma relação privilegiada com muitos elementos da cúpula do partido. Em Braga, no jantar-comício que juntou 170 pessoas, foi um dos mais cumprimentados pelos apoiantes do líder.

Pedro Moura é um dos elementos mais importantes na comitiva. Líder do aparelho na região Vale do Sousa, braço direito de José Lourenço, presidente da poderosa distrital do Chega/Porto, é o responsável do partido pelas redes sociais, e orgulha-se publicamente de comandar as verdadeiras “milícias digitais” do Chega.

A sua ascensão no aparelho do partido fez-se pela força. Em setembro, em entrevista, prometeu “limpar a casa” — leia-se, o partido — e a afastar os infiéis. É um dos protagonistas da reportagem da SIC, “A Grande Ilusão”, assinada por Pedro Coelho, quer pela violência do discurso (comprovada por áudios gravados), quer pelos métodos de coação e ameaça a outros militantes.

Apesar de estar permanentemente a gravar os discursos de Ventura e a conversar com outros elementos da comitiva, a sua intervenção pública resume-se a isso. A sua presença faz-se notar, seja pelos gestos efusivos, seja pela agitação permanente. Mas tem-se mantido num plano secundário, mais de bastidores.

Pedro Moura, responsável pelo partido no Vale do Sousa, está com as redes sociais do partido

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Um trabalho que divide em parte com Rita Matias, dirigente do Chega, cantora ocasional nas iniciativas do candidato — foi ela quem cantou os parabéns a Ventura, em Viseu — e filha de Manuel Matias, antigo líder do Partido Pró-Vida (PPV), que se fundiu com o Chega. E tal como a filha, também Manuel Matias é multifacetado: além de assessor e conselheiro de Ventura, tem uma constante preocupação com a segurança. Foi ele, na Praça 8 de Maio, em Coimbra, que enviou um vídeo à equipa de segurança com a baixa vazia e sem manifestantes. Era a luz verde para que Ventura avançasse. A caravana acabaria surpreendida por uma  manifestação relâmpago.

Pedro Pinto, ex-dirigente do CDS no consulado de Assunção Cristas e atual líder do Chega/Beja, é outra das sombras de Ventura. Além de conduzir a carrinha de nove lugares que transporta o staff do candidato, é um dos mais fervorosos defensores do líder.

Em Castelo Branco, só a intervenção de um agente da PSP impediu que passasse a vias de facto com um manifestante anti-Ventura. Em Coimbra, perante mais de cem pessoas que gritavam contra o líder do Chega, respondeu aos gritos dos manifestantes de braços no ar.

Não é o único dos apoiantes mais próximos de Ventura que ferve em pouca água. Jerónimo Fernandes, líder da Concelhia do Chega/Porto, tem acompanhado a caravana do partido para todo o lado, apesar de não fazer formalmente parte da comitiva. Chegou a travar-se de razões com um grupo de jovens manifestantes em Portalegre. Particularmente interventivo nas redes sociais, são deles algumas pérolas publicadas no Facebook como o “partido do Chicão nem chega a ser mais um partido paneleiro”.

João Tilly, professor, líder da distrital do Chega/Viseu, conhecido pelos seus vídeos no Youtube e Facebook, pelas posições assumidamente antivacinação e teorias de conspiração sobre a origem do vírus, vai servindo de técnico de som nos discursos de Ventura e DJ ocasional. Dono de uma playlist que vai de Kylie Minogue a Michael Bublé, passando por Michael Jackson e, claro, a Dancing Queen, dos ABBA, banda sonora das saídas de palco de Ventura. No último vídeo publicado, Tilly defendeu que os jornalistas que acompanham a campanha do candidato são “miseráveis” e deviam estar “presos”.

Os dois generais

Apesar de não terem estado sempre na campanha de Ventura, houve duas figuras que se destacaram pelo peso e pela mobilização que conseguiram: José Lourenço, líder da distrital do Chega/Porto, e Filipe Melo, líder da distrital do Chega/Braga.

O primeiro é um empresário, ex-simpatizante do CDS, amigo de Fernando Madureira, líder da claque dos Super Dragões, e conhecido pelas suas ligações a Caesar De Paço, milionário, ex-consul de Portugal e depois de Cabo Verde em Palm Cost, nos Estados Unidos, e protagonista de várias reportagens assinadas pela revista Visão e depois pela SIC.

Enquanto líder distrital, foi ele o único a quebrar o protocolo e a falar depois de Rui Paulo Sousa no comício drive-in de Leça da Palmeira, a maior mobilização de apoiantes do Chega até ao momento. Quem tem peso, tem peso. Oportunidade que não desperdiçou. Entre várias considerações sobre Marcelo Rebelo de Sousa, disse que jamais deixaria os seus dois filhos com Paulo Pedroso. “Só se estivesse por perto”. Subiu no aparelho do partido a pulso, acusado de ameaçar e coagir os seus adversários internos.

José Lourenço, líder da toda poderosa distrital do Chega/Porto

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Filipe Melo, o “católico, apostólico e romano” que lidera a distrital de Braga, pode muito bem dizer o mesmo. Protagonizou uma guerra fratricida pelo poder na cidade minhota contra Rúben Milhão, pastor da Igreja Missionária Evangélica de Braga. Venceu por desistência de Milhão, entre queixas de ameaças e coação.

Em grande medida, é graças a Filipe Melo que existe a lei da rolha imposta por Ventura. Durante as eleições internas, Melo escreveu no Facebook que não seria a “brasileira” Cibelli Pinheiro de Almeida, então presidente da Mesa da Distrital de Braga, a mandar num partido “nacionalista”. A partir daí, Ventura emitiu uma diretiva interna onde proibia expressamente críticas públicas a dirigentes do partido. Filipe Melo, ainda assim, sobreviveria para contar a história — e foi ele que conseguiu organizar o maior jantar-comício desta campanha, em Braga.

Filipe Melo, ao lado de Ventura, em Braga

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Os sargentos

Por todo o país, há figuras que se vão juntando à campanha de André Ventura e que vão engrossando as estruturas do Chega. Em Faro, o líder do partido foi recebido pelo vice da distrital, João Graça, presidente da Assembleia de Freguesia Sagres, eleito por um movimento independente próximo do PSD.

Em Santarém, foi Manuela Estêvão, farmacêutica, antiga militante do PSD, ex-candidata pelos sociais-democratas à Câmara do Cartaxo, a fazer as vezes de cicerone na qualidade de líder do Chega/Santarém. Não faltou o agradecimento da praxe a Gerardo Pedro, que era o gestor das redes sociais do partido até se demitir à boleia das denúncias de vários perfis falsos nas redes sociais associados ao Chega. Desmentiu sempre essa acusação. Enquanto Ventura discursava, no coreto de Santarém, não parou de filmar e de apoiar o líder.

Manuela Estêvão foi militante do PSD durante 40 anos. É líder do Chega/Santarém

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José Vaz Pires, ex-autarca do PSD em Bragança, recebeu Ventura em Bragança, na qualidade de presidente daquela estrutura.  Maria Cristina Saleiro Miranda, ex-Aliança, fez um um discurso particularmente apaixonado em Viana do Castelo, onde é líder da distrital.

Leiria não foi exceção: Luís Paulo Fernandes, presidente do Chega/Leiria, foi deputado à Assembleia Municipal de Pedrógão Grande eleito pelo PSD na condição de independente, serviu de mestre de cerimónias na quarta-feira. Presidente da Associação Portuguesa dos Itinerantes Certificados (APIC), pôs à disposição de Ventura um senhor camião para fazer a festa. Tudo pelo líder.

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