Está longe de ser consensual a participação do multimilionário Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, no conhecido programa de humor norte-americano Saturday Night Live (SNL). As críticas vêm não só de fãs do late-night, mas também do próprio elenco, que mostrou desagrado quanto à escolha do segundo homem mais rico dos EUA, que não tem experiência na comédia, nem na representação ou no mundo artístico.

O anúncio de que o magnata seria o anfitrião do programa foi feito pelo próprio SNL, nas redes sociais. Como é habitual, publicou uma imagem com a data em que programa será emitido, em direto (8 de maio), seguido do nome do apresentador convidado (Elon Musk), assim como do artista responsável pela atuação musical (neste caso, Miley Cyrus).

Dentro do próprio elenco, o desagrado foi visível nas redes sociais, mas segundo a Indie Wire, as publicações foram rapidamente apagadas. Por exemplo, a CNBC escreve que o humorista Bowen Yang, que faz parte do elenco, publicou uma história no Instagram com um tweet de Musk onde este escrevia “Vamos descobrir como é que o Saturday Night Live realmente é”. Yang respondeu com um emoji triste e acrescentou: “O que raio isso sequer significa” (“What the fuck does that even mean”).

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Andrew Dismukes, que é argumentista no programa desde 2017, também reagiu no Instagram ao publicar uma fotografia de Cheri Oteri, atriz que fez parte do elenco do SNL de 1995 a 2000. Em letras garrafais, escreveu: “A ÚNICA CEO COM QUEM QUERO FAZER UM SKETCH É A CHER-E OTERI”.

A atriz Aidy Bryant, também membro do elenco, mostrou o desagrado de forma mais subtil. Também no Instagram partilhou um tweet do antigo candidato presidencial Bernie Sanders, em que o senador criticava a desigualdade na distribuição da riqueza no país. Escrevia Sanders que “as 50 pessoas mais ricas neste país possuem mais riqueza do que cerca de 165 milhões de americanos”, o que, considerava o senador, é uma “obscenidade moral”. Elon Musk é o segundo homem mais rico dos EUA, apenas ultrapassado por Jeff Bezos, o fundador da Amazon, segundo o Bloomberg Billionaires Index.

Fora do elenco também chovem críticas. Nas redes sociais, um utilizador questiona: “Estamos todos na mesma página com o facto de o Elon Musk ser uma escolha estranha para o SNL, certo?”

Há ainda quem peça a saída do criador e produtor do programa, Lorne Michaels. Ou quem diga preferir ver “tinta a secar” do que ver Musk como anfitrião.

Jenelle Riley, editora na revista Variety, diz que está “mais do que desapontada com o SNL”. “Não aprenderam nada. Um anfitrião deve ter algum talento discernível além de… ser rico?“, escreveu, acrescentando que não deveria ter sido escolhido alguém que “espalha informações erradas sobre uma pandemia”.

Musk tem sido criticado nos últimos meses por comentários a desvalorizar a pandemia e, numa entrevista num podcast do The New York Times, chegou a dizer que não ser vacinado. Pouco depois recuou, e esclareceu no Twitter que confia nas “vacinas em geral e na vacina contra a Covid-19 em particular”. O empresário de 49 anos também defendeu, em março de 2020, que o “pânico sobre o coronavírus é idiota”. Ainda assim, em julho do ano passado, anunciou que estava a ajudar a companhia farmacêutica alemã CureVac a desenvolver uma vacina para a Covid-19.

Não é a primeira vez que o SNL está debaixo de fogo pelas escolhas de anfitriões que não estão ligados à representação, ao mundo artístico nem à comédia, especificamente. Aconteceu o mesmo em novembro de 2015, precisamente dois meses antes de se iniciarem as primárias no partido republicano para as presidenciais, com a escolha de Donald Trump. Ainda assim, o programa foi para a frente, mas a performance não deixou de ser criticada.

No caso de Musk, a experiência cinge-se a aparições únicas nos The Simpson, na série The Big Bang Theory e um cameo no filme Iron Man 2.

O Saturday Night Live está no ar há mais de três décadas. Todos os sábados, além do elenco residente, uma celebridade é convidada para apresentar o programa e participar em vários sketches humorísticos. O programa ainda não se pronunciou sobre as críticas que têm surgido.