Quando terminou o ensino secundário na Maia, em 2015, Nuno Borges enfrentou uma questão comum a muitos outros miúdos de 18 anos naquela fase da vida: e agora? Podia ficar em Portugal e tentar conciliar o ténis com os estudos, podia apostar tudo numa carreira de profissional. Entre uma e outra, surgiu uma terceira via. E foi por aí que seguiu: aceitou um convite da Mississipi State University e teve a possibilidade de conciliar os estudos com o desporto. Quase seis anos depois, olhando para todo o trajeto, a escolha foi mesmo a mais acertada.

Estoril Open. Nuno Borges vive “experiência única” a caminho do quadro principal

“Pensava que se ficasse em Portugal e a estudar na universidade seria difícil conciliar as duas coisas. Não ia poder treinar à vontade tal como treino lá [nos Estados Unidos da América], pois as coisas lá são muito bem separadas e consigo fazer as duas coisas ao máximo sem que uma interfira com a outra, o que é ótimo. Os primeiros dois meses foram de adaptação ao sistema que eles têm. Como não cheguei a ir para a universidade em Portugal não sabia muito bem como funcionava, tinha mais dificuldade em encontrar os edifícios, saber os tempos que tinha de utilizar para me orientar e falar com as pessoas, mas a adaptação é sempre difícil no início para toda a gente. Os treinos também são muito mais feitos para mim, tenho mais atenção. Os treinos são mais centrados em cada jogador, são desenvolvidos para cada um de nós”, contou ao RAQUETC em 2017.

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Já nessa altura, o maiato admitia que tinha feito coisas que nunca pensara algum dia fazer. Mais uma vez, valeu a pena: chegou a ser o número 1 do circuito universitário de ténis norte-americano, foi eleito o Melhor Jogador de todo o campeonato em 2019, conseguiu um inédito número de 189 vitórias pela universidade de Mississipi. Mas esse foi apenas um início e não um fim. E depois de ter assumido a carreira profissional em 2020, teve esta semana o ponto mais alto desse curto percurso. Um ponto que queria prolongar ao máximo, mesmo encontrando pela frente um antigo número 3 do ranking mundial em janeiro de 2018, que está agora no 42.º posto.

Atual 331.º da hierarquia do circuito ATP (com dez títulos no circuito ITF), conseguiu entrar no quadro principal de um torneio ATP pela primeira vez depois de ter derrotado o espanhol Roberto Carballes Baena (91.º). “É um sonho tornado realidade, nem sequer achava que teria hipóteses de jogar o qualifying. Só aí já foi uma experiência muito boa, ainda estou perplexo. É uma experiência incrível e única. Agora? É para dar tudo, tenho de aproveitar estas oportunidades para sentir que deixei tudo lá e que não sobrou nada”, prometeu. E cumpriu, virando uma entrada a perder por 4-1 para uma vitória em dois sets por 7-6 (7-5) e 6-3 em quase duas horas com o australiano Jordan Thompson, atual 61.º da hierarquia. Seguia-se um dos “pesos pesados”, o croata Marin Cilic, vencedor do US Open em 2014 e finalista vencido em Wimbledon (2017) e na Austrália (2018).

Depois de ter levado o número 6 do Estoril Open às vantagens no terceiro jogo, Nuno Borges manteve o serviço para o 2-2, perdeu depois num jogo em branco de Cilic e sofreu o break de seguida, confirmado com o 5-2. A história do primeiro set parecia escrita mas, mais uma vez, o maiato mostrou que é um autêntico guerreiro no court e deu nova demonstração de superação em dois capítulos: primeiro, salvou quatro set points, fez o 5-4 e ganhou depois o seu serviço para o empate a cinco antes da primeira interrupção pela chuva; depois, chegou a estar na frente por 0-30 no serviço de Cilic, fez o 6-6 apesar da derrota e cometeu menos erros no tie break, com grande mobilidade e variação de jogo e um serviço sem falhas para ganhar por 7-5 antes de nova paragem, com uma chuvada agora maior numa altura em que tinha chegado ao final o primeiro set para o português.

A segunda pausa foi maior, ainda com uns ligeiros chuviscos no arranque, mas as características do encontro não mudaram, com Nuno Borges a tentar segurar os seus jogos de serviço, a conseguir mais uma vez salvar dois breaks no quinto encontro e a chegar com confiança ao 4-3, jogando com grande personalidade perante um Marin Cilic com grandes dificuldades em encontrar o seu melhor rendimento perante a consistência e a entrega em campo do português. No entanto, e na parte final, o croata conseguiu mesmo fazer o break no 5-4 e fechou o segundo set depois de Nuno Borges ter conseguido ainda salvar dois set points no serviço contrário.

A derrota poderia ter o condão de quebrar a grande réplica que o tenista português tinha dado ao longo de todo o encontro mas Nuno Borges voltou a apresentar-se a bom nível, conseguindo levar o quarto jogo no serviço de Cilic para as vantagens sem fazer o break e segurando os seus jogos de serviço até o croata conseguir mais uma vez quebrar em 4-3. A perder depois por 5-3 e com 0-30 a abrir, o português aguentou da melhor forma ao fazer quatro pontos seguidos para o 5-4 mas, a servir, o croata fechou mesmo o terceiro e último set.