A aliança entre Isaltino Morais e Rui Rio está em risco de ruir. O apoio do PSD à candidatura independente do atual presidente da Câmara Municipal de Oeiras chegou a ser um dado adquirido, mas o dossiê acabou por ficar na gaveta perante o impasse registado na cúpula social-democrata. Rio pediu tempo para medir os prós e os contras apresentados e a decisão deverá ser tomada em breve. Mas as coisas estão tremidas para o lado de Isaltino.
Apesar de ser encarada como natural pela generalidade do núcleo duro de Rio, a solução de apoiar Isaltino Morais nunca foi encarada de ânimo leve. Para o quartel-general do PSD, ao abdicar de apresentar um candidato próprio a Oeiras, o PSD poderia estar a comprometer a sua estratégia de afirmação nestas autárquicas.
O passado de Isaltino Morais também é um fator a considerar. O autarca foi condenado pelos crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais e cumpriu pena de prisão efetiva. Em entrevista ao Observador, a 18 de fevereiro, Rui Rio arrumou a questão da seguinte forma:
“Civicamente, alguém que efetivamente é condenado, cumpre pena de prisão e depois sai, essa pessoa não pode estar condenada à prisão perpétua. Em Portugal, não há prisão perpétua. Não sou favorável a que alguém que teve uma penalização grave como essa deva ser excomungado da sociedade, perseguido e deva estar numa situação limite até ao fim da sua vida.”
Este argumento, que o líder social-democrata usou em público e usa em privado, não convence todos os dirigentes do PSD. Na reunião da Comissão Permanente Nacional (CPN) do PSD onde a questão foi discutida, dois dos vice-presidentes do partido, David Justino e Isabel Meirelles (que chegou a ser candidata a Oeiras em 2017), contestaram a escolha e tentaram travar a decisão. O debate acabou num impasse.
Entretanto, o caso de Isaltino voltou para assombrar o PSD. É que tal como pode acontecer com José Sócrates, também o crime de corrupção de que era acusado Isaltino Morais prescreveu — facto que não passou despercebido quando o jornal “Público” deu destaque à semelhança entre os dois casos e explicou que José Sócrates beneficiou do mesmo regime de prescrições aplicado a Isaltino Morais.
Mesmo sem a decisão fechada, os mais próximos de Rui Rio não ignoram que um eventual apoio à candidatura independente de Isaltino coloca um problema de narrativa ao PSD: o partido terá dificuldades em abençoar a corrida de Isaltino Morais e, ao mesmo tempo, condenar publicamente o estado da Justiça à boleia das decisões tomadas no âmbito da Operação Marquês (“o povo não entende esta decisão [de Ivo Rosa]”; “o regime está doente”; “a justiça já demonstrou não estar capaz de se credibilizar”; “o país vive na impunidade”, Rui Rio dixit)
O líder do PSD terá agora de tomar pesar todos os argumentos, sendo que há um lado emocional e político que pesa muito: além da boa relação que existe entre Rui Rio e Isaltino Morais, a vontade das estruturas locais (concelhia e distrital) é estar ao lado do atual presidente da Câmara.
Percebe-se porquê: convicção que existe no partido é de que é impossível separar as águas entre quem é do PSD e quem apoia Isaltino Morais. Mais: se esta solução fosse para a frente, Isaltino Morais abdicaria de apresentar candidatos a determinadas juntas de freguesia para permitir ao PSD entrar nesse espaço.
Arredado do poder desde 2013, seria uma forma de os sociais-democratas reconquistarem influência numa das principais autarquias do país. Com um bónus: Isaltino Morais já deu a entender que, vencendo estas eleições, o próximo ciclo será o último como autarca. Se o PSD recuperar peso na Câmara, estaria na pole position para, em 2025, tentar ganhar em definitivo a autarquia de Oeiras.
Falhando este acordo, o partido terá de encontrar uma alternativa. E, nesse caso, há duas escolas de pensamento: ou aposta numa figura consagrada ou num jovem quadro que use estas eleições como rodagem para futuras disputas eleitorais. Está tudo dependente de Rui Rio.