O movimento político do opositor russo Alexei Navalny foi dissolvido e todos os escritórios regionais encerrados. A decisão surge na sequência da entrada de um pedido na justiça russa para declarar os principais objetivos e pilares da organização como ideias extremistas.

Marcada para 17 de maio, a audiência final poderá colocar todos os membros da organização em risco de serem condenados com penas até seis anos de prisão.

Entretanto, Moscovo proibiu a organização de fazer qualquer tipo de publicação online, de organizar protestos e de ter acesso às contas bancárias, mas antes disso, os responsáveis da organização espalhados pelas várias regiões da Rússia já tinham anunciado que iriam suspender toda a atividade, de forma a evitarem repercussões jurídicas.

Em declarações à BBC, Leonid Volkov, um dos colaboradores mais próximo de Navalny, afirma que não há condições para a organização continuar a operar na Rússia, mostrando-se receoso com as possíveis condenações dos apoiantes do opositor. Volkov é um dos políticos que, desde 2019, vive fora do país, por também enfrentar várias acusações na justiça.

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Alexei Navalny reapareceu publicamente esta quinta-feira, a primeira vez desde o fim de uma greve de fome que durou mais de três semanas. O opositor russo surgiu com o cabelo rapado e com menos 15 kilos. Na audiência em que marcou presença, o juiz recusou o recurso interposto pela defesa contra uma multa por difamação de um veterano soviético da II Guerra Mundial.

Apesar do estado debilitado, Navalny manteve a postura robusta e acusou o presidente Putin de ser “um rei sem roupas”, que roubou o seu povo e o privou de um futuro.

O Ministério Público russo também entrou com um pedido na justiça para que a Fundação Anticorrupção de Navalny (FKB) seja suspensa e a sua atividade considerada extremista. Esta sexta-feira, a rede de filiais acabou por ser incluída na lista de organizações “extremistas e terroristas”, de acordo com informação divulgada pelos serviços de informação russos. Segundo a equipa de Navalny, a medida não implica a proibição completa do movimento político opositor ao Kremlin.

O medo da acusação é grande

Perante o medo de serem considerados culpados na justiça, vários apoiantes de Navalny tem cortado ligações com a organização.

Irina Fatyaonova, responsável pela equipa do opositor russo em São Petersburgo, afirma à BBC que desfiliou-se da organização, sob o risco de ser rotulada como extremista.

Segundo Fatyaonova, a pressão das autoridades tem aumentado desde que Navalny voltou à Rússia. “Desde janeiro, não houve um dia calmo ou sem um processo criminal para tratar”, afirma.

A política russa pretende agora concorrer às eleições locais sozinha, algo que Leonid Volkov já tinha sugerido que poderia acontecer em outras zonas do país. “A situação é difícil, mas o que acontece se todos ficarmos assustados?”, pergunta Irina, que afirma não querer olhar para a próxima geração e ter vergonha por não ter tentado mudar o contexto em que esta cresceu.