“Desde ontem que sinto que estou a viver numa ditadura!!” É asssim que começa a publicação de Anna Westerlund, ceramista, proprietária de uma casa na unidade hoteleira Zmar em Odemira, e viúva do ator Pedro Lima. É com uma fotografia do casal, exatamente na casa do Alentejo, que ilustra o seu texto.

“Temos uma casa no Zmar Eco Experience, e o governo decidiu que a temos de disponibilizar para receber doentes Covid de Odemira, a maior parte deles trabalhadores nas estufas locais. Diz o primeiro-ministro que eles têm direito a viver em condições dignas (obviamente, mas esse direito não começou ontem!)”, escreve na sua página de Instagram.

Odemira. Sem acordo, Governo avança com requisição civil do Zmar, mas proprietários dizem que “ninguém vai sair das suas casas”

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Sem ter chegado a acordo com os proprietários da unidade hoteleira, o Governo avançou com a requisição civil do Zmar, em Odemira, local onde passarão a ficar isolados doentes infetados com o vírus da Covid-19.

No despacho, publicado em Diário da República, determina-se que a responsabilidade de gerir o empreendimento turístico passa a ser do município de Odemira, com o apoio da autoridade de saúde e da Segurança Social. A requisição será válida enquanto a declaração da situação de calamidade for aplicável ao concelho alentejano.

“Pergunto eu, há quanto tempo é que eles não vivem em cima uns dos outros enfiados em casas sabe-se lá em que condições. Não é desde o tempo do covid!!! E agora não são os empresários que os contratam que são responsáveis por eles? Não é o governo que fecha os olhos à quantidade deles que devem estar ilegais que cuida deles? Sou eu que sou obrigada a ceder a minha casa para os receber”, acrescenta a ceramista.

Para além disso, lembra que o resort se encontra numa situação financeira complicada. “Melhor ainda, o Zmar está já há muito tempo numa situação financeira difícil e agora que tinha um investidor decidido a dar ao Zmar a dignidade que merece, acontece isto”, escreve.

A publicação, que já teve mais de 10 mil gostos, continua: “Pergunto eu se o investidor desistir, quem é que se vai preocupar com os 200 trabalhadores do Zmar que vão ficar sem trabalho? Se o Zmar fechar quem é que se vai preocupar com a dinamização turística importante que este empreendimento proporciona naquela região? Se o Zmar fechar quem é que se vai preocupar com os proprietários que ficam com casas na “terra de ninguém”? Gostava de saber o que é que o primeiro ministro vai requisitar nessa altura!?”

Anna Westerlund não esconde a sua indignação com a decisão do Governo. “Pelos vistos nós cidadãos comuns que cumprimos com as nossas obrigações, perdemos facilmente os nossos direitos a favor de empresários que não tomam conta dos direitos dos seus trabalhadores.” Para a ceramista, o que está a acontecer na unidade hoteleira “e que parece uma simples requisição civil para resolver o Covid naquela zona é o camuflar de uma descaracterização daquela região que se enche de estufas, da ganância económica que não pára para pensar nem olha a meios.

“Isto que está a acontecer no Zmar é muito grave”, termina a ceramista.