A presidente da Junta de Freguesia de Longueira-Almograve, no concelho de Odemira, disse este sábado esperar que a cerca sanitária decretada pelo Governo, devido à pandemia de Covid-19, “dure poucos dias” e alertou para os prejuízos económicos.

“Isto está a causar prejuízos, naturalmente. Esta é uma zona turística e isto é muito mau para a economia”, destacou à agência Lusa a autarca, Glória Pacheco, admitindo ter ficado “surpreendida” com esta medida do Governo, em vigor desde sexta-feira.

Em Logueira-Almograve, uma das duas freguesias do concelho de Odemira (Beja) onde foi decretada uma cerca sanitária — a outra é São Teotónio -, devido à elevada incidência de casos de Covid-19, “provavelmente, há umas semanas atrás”, esta medida “estivesse em cima da mesa”, mas “agora não se justifica”, argumentou.

“Nessa altura havia mais casos no concelho, mas, neste momento, segundo sei, os casos estão muito em confinados e são só em algumas quintas. Aqui na comunidade nem há casos”, pelo que “nunca pensámos que isto fosse acontecer”, frisou.

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Na sua freguesia, “a parte turística e da restauração estavam fechados há meses” e, logo no momento em que “as pessoas estavam a investir e a melhorar as condições para poderem reabrir”, acompanhando o desconfinamento do país, “têm de dar não sei quantos passos atrás”, lamentou.

Para Glória Pacheco, já que a população nada pode fazer, porque a cerca sanitária está em vigor, pelo menos que esta “não dure muito”.

“Tenho muita esperança de que isto seja rápido e que os números [da incidência de Covid-19] melhorem. Espero que seja só uma questão de poucos dias, para o bem de todos”, assinalou.

E que a cerca seja aproveitada também “para que o Governo tome medidas de fundo e crie legislação” para permitir “melhorar as condições de todos”, ou seja, dos trabalhadores agrícolas, nomeadamente dos migrantes, e da população residente: “Para ficarmos na mesma não vale a pena passar por isto”, defendeu.

A presidente da junta de freguesia salientou também que “o Governo não pode alegar que não tinha conhecimento do que se passa” no concelho, em relação a problemas sociais como a falta de condições para o alojamento dos trabalhadores agrícolas, tal como o presidente da Câmara de Odemira, José Alberto Guerreiro já tinha afirmado na sexta-feira, em conferência de imprensa.

“As entidades locais, como as juntas de freguesia e a câmara e assembleia municipal, já aprovaram diversos documentos que foram enviados para o Governo que reportavam as dificuldades”, por exemplo “ao nível dos serviços públicos, que têm falta de recursos humanos”, e estas “dificuldades de sobrelotação da habitação também não são de agora, não foi a pandemia que as provocou, vêm de há muito e foram igualmente comunicadas”, afiançou Glória Pacheco.

Covid-19. Requisição do Zmar em Odemira pode lesar “direitos humanos”, diz a Ordem dos Advogados

Na freguesia de Longueira-Almograve está situado o turismo Zmar Eco Experience, alvo de uma requisição civil do Governo para alojar pessoas em isolamento profilático ou confinamento obrigatório, mas o representante da massa insolvente, Pedro Pidwell, e o advogado de 114 dos 160 donos de casas no complexo, Nuno Silva Vieira, admitiram hoje à Lusa que podem avançar para os tribunais para impedir essa utilização.

Pedro Pidwell, que representa os mais de 400 credores do empreendimento, que aprovaram na terça-feira um plano de reestruturação do Zmar, indicou ainda que, após reunião com a GNR, foi identificado “um núcleo de casas” no complexo, “separado das casas dos proprietários e mais ou menos isolado”, que será usado para começar a receber quem aí tiver de ficar, caso seja necessário.