A Comissão Europeia acredita que o PIB português vai crescer 3,9% este ano, menos duas décimas do que tinha previsto em fevereiro e uma décima a menos do que a última estimativa governamental, do mês passado. No entanto, para 2022 a revisão é feita em alta e de forma considerável — Portugal deve crescer 5,1% (em vez de 4,3%), com a Comissão a ser mesmo mais otimista do que o ministro das Finanças em 0,2 pontos percentuais. É por isso que o comissário europeu para os Assuntos Económicos, Paolo Gentiloni, considera que há uma “perspetiva muito boa para a economia portuguesa”.

“Temos uma projeção do crescimento português de 5,1%, acima da média da UE e da zona euro”, afirmou em conferência de imprensa. O político italiano lembra que a pandemia teve forte impacto no turismo internacional e que, por essa razão, “a previsão de crescimento acelera ano após ano — porque o ponto de partida não é fácil”. Também o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, referiu à agência Lusa que “depois de mais de um ano de sofrimento económico, Portugal pode agora ter esperança de que o pior já tenha passado”.

No texto dedicado a Portugal neste relatório, o executivo europeu sublinha que “a economia portuguesa irá crescer novamente a partir do segundo trimestre de 2021, à medida que as medidas para conter a pandemia de Covid-19 são gradualmente relaxadas”.

As contas de Bruxelas têm em conta nomeadamente a ajuda do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, com impacto no investimento, e a recuperação do turismo, que “ganhará velocidade no terceiro trimestre de 2021”. As exportações e as importações devem crescer “a níveis altos durante o horizonte de projeções, devido sobretudo a efeitos na indústria das viagens”. Ainda assim, a Comissão não espera que este setor atinja nestes dois anos os níveis habituais, até porque é muito dependente face a turistas do exterior, “onde a incerteza acerca do caminho para a recuperação permanece alta”.

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As previsões de crescimento de Bruxelas são iguais às do Banco de Portugal (de março) e do FMI (de abril) este ano. Já o Conselho de Finanças Públicas (CFP) está menos confiante, tendo estimado em março um crescimento de 3,3%. Para 2022, as contas europeias indicam um crescimento que fica apenas abaixo da previsão do Banco de Portugal, a entidade mais confiante na aceleração desse ano (5,2%). O CFP aponta para os mesmos 4,9% do Governo.

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Bruxelas acredita ainda que as contas do Estado vão ficar com um défice de 4,7% este ano (mais duas décimas do que a previsão de novembro passado), melhorando depois em 2022, para 3,4%. Em ambos os casos, o executivo europeu é mais pessimista em duas décimas do que o ministro João Leão. Já a dívida pública deverá baixar de 133,6% para 127,2% este ano e ainda mais em 2022, para 122,3%, segundo as previsões económicas da primavera, publicadas esta quarta-feira.

Em relação ao desemprego, depois de ter subido em Portugal apenas quatro décimas no primeiro ano da pandemia (de 6,5% para 6,9%), Bruxelas antevê uma descida para 6,8% em 2021 (menos do que os 7,3% previstos pelo Governo em abril) e uma redução ainda maior em 2022, para 6,5% — também aqui menos do que o esperado pelo executivo português (6,7%).

A Comissão é, aliás, mais otimista neste capítulo do que FMI e Banco de Portugal (ambos acreditam numa taxa de 7,7% este ano), e ainda mais do que o Conselho das Finanças Públicas (que prevê 8,3%). Para 2022, as previsões dessas três instituições ficam entre 7,3% e 7,6%, mais uma vez acima das contas de Bruxelas.

Espanha e França lideram crescimento europeu

Após uma recessão superior a 6% em 2020, Bruxelas acredita que a zona euro vai crescer 4,3% este ano e o conjunto dos 27 estados-membros 4,2% (uma melhoria de cinco décimas face à previsão de há três meses). Em ambos os casos, antevê agora também um crescimento de 4,4% em 2022.

A perspetiva para a União Europeia é agora mais “risonha” e o crescimento será “robusto”, nas palavras do Comissário Europeu para os Assuntos Económicos, Paolo Gentiloni, tendo em conta a “recuperação mais forte do que anteriormente esperado” do comércio global e o “impulso de crescimento proporcionado pela integração dos Planos de Recuperação e Resiliência”.

Bruxelas conta ainda com a ajuda da vacinação contra a Covid-19. “O ritmo mais rápido das vacinações nos últimos meses deverá permitir que as restrições sejam ainda mais atenuadas no segundo semestre do ano”, afirmou Gentiloni.

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A economia espanhola — a mais afetada pela pandemia no ano passado, com uma quebra de 10,8% — deverá liderar o crescimento europeu nestes dois anos. Os 5,9% previstos pela Comissão Europeia (revisão em alta de três décimas) para 2021 e os 6,8% para 2022 deverão permitir a Espanha recuperar até ao final desse ano o fôlego que tinha antes de o vírus fazer estragos no país.

Este ano, a segunda economia que mais deve crescer será França (outro dos países mais afetados em 2020), com um crescimento previsto de 5,7%. Ainda na casa dos 5%, deverão ficar Roménia (5,1%), Croácia e Hungria (ambos com 5%).

No ano seguinte, em que o ritmo de crescimento desacelera em França — embora ainda a um nível elevado (+4,2%) —, o destaque, a seguir a Espanha, vai para Malta e Croácia (ambos com 6,1%), Grécia e Letónia (6%).

A economia alemã — o motor da UE — viu também as perspetivas revistas em alta esta quarta-feira. Após uma recessão de 4,9% em 2020, espera-se agora em Bruxelas um crescimento de 3,4% este ano e de 4,1% em 2022. E Itália, outra das maiores economias da zona euro, deverá ter crescimento de 4,2% e 4,4%, depois de ter tido a segunda maior recessão entre os países comunitários em 2020 (-8,9%)

Notícia atualizada às 12h.