O homem que denunciou ao Ministério Público que estava a ser preparado um assalto a umas instalações militares do país, sem precisar que seriam os Paióis Nacionais de Tancos, não foi localizado pela polícia, mas o seu advogado já veio dizer ao tribunal que ele está no estrangeiro. O coletivo, no entanto, pede que ele diga onde, uma vez que na informação enviada ao tribunal pela defesa se fala apenas em “estrangeiro”.

Paulo Lemos, mais conhecido por “Fechaduras”, já teve duas datas marcadas para ser ouvido em tribunal. Na primeira, em março, o coletivo de juízes de Santarém comunicou que não conseguiu notificá-lo e pediu à polícia para o localizar, marcando uma data para abril. Sem sucesso na sua localização, os juízes marcaram nova data para esta segunda-feira. Mas três dias antes, o advogado que o representa acabaria por dar sinal de vida ao processo.

Num requerimento enviado ao tribunal, o advogado Miguel Marques Bom diz que “tomou conhecimento” que o seu cliente “se encontra ausente do País” por lhe ter sugerido ma “hipótese de trabalho irrecusável nos tempos de crise que se vivem”, pelo que não poderá comparecer em tribunal.

A defesa sugere que o tribunal utilize, por isso, o depoimento “longo e pormenorizado ” que prestou durante a fase de instrução. Um pedido aliás já feito pela defesa do militar da GNR Bruno Ataíde, também arguido no processo.

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O coletivo de juízes, presidido por Nelson Barra, tem privilegiado o depoimento presencial, como fez com a antiga Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, que ainda pediu para responder por escrito. No entanto, por questões de saúde, tem permitido inquirições por videoconferência.

Contradições, a “imaginação da PJ” e um ex-ministro da Defesa no banco dos réus. O dia em que o assalto a Tancos chegou a tribunal

Neste caso, o coletivo constatou , no entanto, que no requerimento da defesa de Lemos não “é indicado o país, morada e contacto do mesmo, nem tão pouco é referido durante quanto tempo o mesmo ficará a trabalhar no estrangeiro”. E, segundo a lei, e neste caso concreto, só é possível reproduzir ou ler declarações prestadas perante a autoridade judiciária se tiverem sido “esgotadas as diligências para apurar o seu paradeiro” ou “não tiver sido possível a sua notificação para comparecimento”.

Assim o tribunal pede que o advogado de Fechaduras mande esta informação em falta e decidiu suspender a audiência desta segunda-feira, que seria para ouvi-lo.

Paulo Lemos é conhecido por “Fechaduras” por causa da sua habilidade em abrir portas. Chegou a ser arguido no processo, mas não foi pronunciado, como foram os 23 arguidos — entre eles o ex-ministro da Defesa — que estão agora a ser julgados. Terá sido abordado pelo mentor do assalto, João Paulino, para participar no crime, mas depois ter-se-á arrependido. Segundo contou a uma procuradora do Ministério Público a quem revelou o plano do crime, três meses antes de se concretizar, “Fechaduras” prometera à mãe afastar-se dos crimes que lhe preenchiam o registo criminal. A defesa dos restantes arguidos, no entanto, tem tentado demonstrar ao longo do processo que “Fechaduras” só não foi acusado por ser um alegado informador da Polícia Judiciária civil.