O Google I/O, conferência anual de software da empresa de tecnologia norte-americana, voltou depois de um ano ausente devido à pandemia de Covid-19. E trouxe novidades como: a próxima versão do Android, o sistema operativo móvel da Google, uma parceria com a Samsung para uniformizar os softwares dos smartwatches das duas empresas, uma para ajudar a detetar o cancro da pele, alterações ao motor de pesquisa e até uma espécie de hologramas.

Tudo começou com Sundar Pichai, o presidente executivo da Google, a subir ao palco principal do I/O. Apesar de a sessão inicial ser transmitida online — como será toda a conferência e respetivos workshops  –, houve audiência pequena em Mountain View, na Califórnia. “Não é o mesmo sem todos os programadores aqui” assumiu Pinchai. Em sete pontos, mostramos o resumo da sessão de apresentação.

[Reveja no vídeo abaixo o evento de apresentação do Google I/O de 2021]

O Android 12 quer ser o mais pessoal e colorido dos Android e até vai deixar abrir o carro

Esta era a novidade mais esperada para este I/O: novidades sobre o Android 12, a próxima versão do sistema operativo móvel mais utilizado em todo o mundo. Como é que se resume o que a Google divulgou deste software? Com uma palavra: “colorido”. Além de novidades como mais funcionalidades de privacidade e segurança, o foco da empresa prendeu-se com as hipóteses de customização de cores que vai passar a oferecer no sistema. Esta passam por “dar controlo ao utilizador” para escolher a cor de cada botão tátil numa app, por exemplo. Estas opções vão ser alargadas a mais serviços da Google em 2022.

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Porém, sendo um novo sistema operativo de 2021, a Google quis também mostrar que, à semelhança da concorrência da Apple, também se preocupa com a privacidade. Apesar de não ter anunciado que vai passar a oferecer funcionalidades que barrem o acesso de app terceiras a dados pessoais — como fez o iOS 14.5 –, vai dar mais controlo aos utilizadores também neste campo.

Umas das principais novidades de privacidade é a opção de, a partir do menu de definições, o utilizador poder passar a desligar a câmara e o microfone do smartphone. “Mesmo que tenham dado autorização, isto desliga a câmara”, disse a empresa. Ou seja, vai passar a haver mais um mecanismo que evite ter a câmara ligada por engano num situação embaraçosa.

As apps da Google vão ter mais opções para customização de cores

Com o Android 12 vai também passar a ser possível ver um histórico de dados, como a localização, que certa app recolheu. Outra das novidades nas definições é a adição de botões de acesso rápido para desligar novos controlos, como o pagamento sem fios, utilizando os serviços da Google.

Tudo isto não chega? À semelhança do que a Apple apresentou em 2020, o novo Android também vai poder ser usado para abrir e fechar um carro. O lançamento desta funcionalidade vai ser “no outono” e vai funcionar, inicialmente, apenas com alguns modelos da BMW.

A versão de testes [Beta] do Android 12 ficou disponível esta terça-feira. À semelhança de versões anteriores, vai ficar disponível inicialmente nos smartphones da Google, os Pixel, em setembro. Só mais tarde é que chegará a outros dispositivos. A data dependerá de cada fabricante.

O Tyzen, dos relógios da Samsung, funde-se com o Wear OS, dos smartwatches da Google

Esta foi uma das grandes novidades do eventos. Não é segredo nenhum que a Google quer alargar os seus produtos no mercado dos smartwatches — como mostrou quando comprou a Fitbit em 2019. Contudo, desde aí, que este setor da indústria tecnológica continua a ser dominado pela Apple, com o Apple Watch, que utiliza o sistema operativo Watch OS nos aparelhos. Atrás, está a Samsung, com o Tyzen. Agora, há uma parceria que vai juntar “num só” o Tyzen e o Wear OS, o sistema operativo da Google para relógios inteligentes.

Google compra Fitbit por 2,1 mil milhões de dólares

A Google não avançou muitos pormenores, dizendo pouco mais do que vai “trazer o melhor do Wear e do Tizen para uma plataforma única e unificada”. Um responsável da Samsung referiu no evento que o próximo smartwach da empresa sul-coreana, que à semelhança de anos anteriores deverá ser anunciado em agosto, vai usar este novo sistema. A Google adiantou ainda que os próximos equipamentos da Fitbit vão também contar com este software.

Mesmo assim, a Google levantou um pouco o véu e prometeu que esta unificação de sistemas vai permitir disponibilizar aparelhos “com mais autonomia de bateria”. A principal vantagem de uma parceria assim, refere a Google, é que os produtos das duas empresas vão também passar a poder disponibilizar mais aplicações próprias para estes dispositivos, além de passarem a permitir uma maior integração entre o Android, que a Samsung utiliza nos seus smartphones, e os smartwatches.

Uma app para saber se tem cancro da pele (e outras novidades médicas)

A funcionalidade vai ficar disponível no final do ano

E se, ao ver um sinal ou marca na pele que parece preocupante, pudesse usar a câmara do smarphone para perceber se pode ou não ser sinal de cancro da pele? A Google quis responder a esta pergunta com um “sim, vai ser possível”, ao anunciar no final do evento alguns dos avanços que tem conseguido fazer graças à inteligência artificial (IA). Isto a começar por um serviço que vai disponibilizar online que permite tirar uma fotografia à pele e pedir uma análise para tirar teimas de saúde.

Quando combinamos esses avanços em IA com outras tecnologias, como câmaras de smartphones, podemos desbloquear novas maneiras de as pessoas ficarem mais bem informadas sobre a sua saúde também”, diz a Google.

De acordo com a empresa, “em cada ano, há quase dez mil milhões de pesquisas no Google relacionadas com problemas de pele, unhas e cabelo”. Por isso, a ferramenta de assistência dermatológica com IA é uma aplicação baseada na web que vai “facilitar a compreensão do que pode estar a acontecer com a pele”. Depois de iniciar o serviço — que vai funcionar pelo browser –, basta usar a câmara do smartphone para “tirar três imagens da pele, cabelo ou unha de diferentes ângulos”. Em seguida, serão feitas perguntas sobre o tipo de pele, há quanto tempo é que há uma queixa do problema e outros sintomas que ajudam a ferramenta a restringir as possibilidades. Mesmo assim, caso seja necessário, a Google vai recomendar que cada caso seja visto por um médico. A funcionalidade ficará disponível em modo teste “no final do ano”.

Além desta novidade, a Google mostrou outras inovações nas quais a IA pode ajudar em questões médicas, como a deteção de tuberculose ou cancro da mama. Para isso, a empresa anunciou que está a começar a disponibilizar à comunidade médica um sistema de deteção utilizando esta tecnologia para tornar os resultados mais fiáveis. Relativamente a este última novidade, a Universidade de Cornell, nos EUA, lançou um estudo no qual mostra como este sistema pode salvar mais vidas, informa a empresa.

Mais “contexto” para as pesquisa que faz no Google

De forma resumida — porque explicamos tudo com mais detalhe neste artigo –, a Google aproveitou este I/O para anunciar que vai expandir a funcionalidade de mostrar “mais contexto” ao pé das hiperligações que surgem quando um utilizador faz uma pesquisa no motor de busca. Antes de um utilizador abrir algumas hiperligações, carregando nos três pontos ao pé do resultado, surgirá uma sub-janela dentro do separador do navegador de internet, ou da aplicação usada, na qual a empresa fornecerá mais “informação de contexto” para ajudar neste processo.

O motor de pesquisa da Google vai mudar e mostrar “mais contexto” sobre aquilo que procuramos

O “About this result” [“Sobre este resultado”, em português, o nome da funcionalidade] vai ser lançado em todos os países de língua inglesa já este mês. Ou seja, mesmo que use o Google em inglês, se o computador estiver em Portugal, ainda não poderá experimentar esta nova funcionalidade.

Videoconferências que quase parecem hologramas

Vamos a mais um jogo do “e se?”? Então, como perguntou a Google, e se pudesse ver uma pessoa no ecrã como se este fosse uma verdadeira janela? Quase como um holograma. Segundo a empresa, isto permite reduzir a distância em momento como confinamentos vividos durante uma pandemia. Além disso, permite tornar as videochamadas em algo bem mais “interessante”. Entra em cena o “Project Starline” [como pode ver no vídeo acima].

Também desenvolvemos um sistema inovador de exibição de campo de luz que cria uma sensação de volume e profundidade que pode ser experimentada sem a necessidade de óculos ou auriculares de ouvido adicionais”, anunciou a Google.

Esta é uma ferramenta que, ao contrário de maior parte das coisas que a Google apresentou, provavelmente não iremos experimentar tão brevemente. Através de várias câmaras e sensores, a inteligência artificial da Google permite criar uma imagem bastante realista que permite que durante uma conversa quase nos esqueçamos que estamos a falar para um ecrã. “Para tornar essa experiência possível, estamos a aplicar pesquisas em visão computacional, machine learning, áudio espacial e compressão em tempo real” explica a empresa. O efeito “é a sensação de uma pessoa sentada à frente, como se ela estivesse bem ali”. Pelo menos é a promessa. Mesmo assim, a empresa está a utilizar a mesma tecnologia para permitir dar vida a fotografias, anunciou também.

O Workspaces, o Microsoft Teams e Office da Google, vai chegar a mais pessoas

O Google Workspaces, a ferramenta da Google que engloba serviços como o Google Docs, o Google Drive ou o Gmail, vai passar a oferecer mais funcionalidades. De forma a concorrer com plataformas como o Slack, o Microsoft Team ou o Facebook Workplace, o Workspaces vai passar a oferecer aos utilizadores mais ferramentas gratuitas que antes só oferecia a clientes pagos, anunciou a empresa. Além disso, este serviço da Google vai passar a permitir que se façam videochamadas dentro de documentos e outras opções de colaboração.

A Google chama a esta novas opções “Smart Canvas” e passam, maioritariamente, por funcionalidades que permitem facilitar o trabalho à distância entre duas ou mais pessoas. “Especificamente, estamos a aprimorar as aplicações que centenas de milhões de pessoas usam todos os dias – como Documentos, Folhas de Cálculo e Apresentações – para transformar a colaboração e tornar o Google Workspace ainda mais flexível, interativo e inteligente”, refere a Google. Estas novas ferramentas vão ser lançadas “até ao final do ano”.

E tudo o resto: computação quântica, fotografias, inteligência artificial, um campus sustentável e até palavras-passe mais protegidas

Num evento que veio com um ano de atraso e, também por isso, teve cerca de duas horas de duração, a Google aproveitou para mostrar todas as novidades que tem andado a desenvolver. Além das que já referimos, a empresa mostrou: novas opções de controlo para o Google Photos — o serviço de fotografias da Google que deixa de ter espaço ilimitado gratuito a 1 de junho — como a possibilidade apagar itens das “memórias” (uma secção do software); opções de controlo melhorada para, rapidamente, ajudar os utilizadores a mudar passwords que tenham guardadas nos gestor de palavras-passe da Google; e até mudanças no algoritmo de melhoria de imagem para não discriminar pessoas com base no tom de pele (os sistemas atuais de melhoria de imagem não costumam ser tão eficazes em peles mais escuras, explicou a empresa).

E não foi só isto. Logo no início da apresentação, a empresa mostrou como tem melhorado os seus sistemas de assistentes digitais, como o “LaMDA”. Este é um projeto que permite às máquinas discutirem “qualquer tópico” para discutir novas interações. Um pouco como o que é mostrado nos robôs da série de ficção científica Westworld.

Num exemplo, Pichai mostrou como esta inteligência artificial se fez passar pelo planeta Plutão tendo uma conversa quase fluída — atualmente, os assistentes digitais apenas respondem, sem dar mais informações. Como as respostas não foram pre-definidas, “nunca se repetem”, explicou Pinchai. Noutros dos exemplos, o LaMDA falou como se fosse um avião de papel — sim, a sério. Contudo, ainda está numa fase inicial de investigação, “por isso pode errar”, lembra o executivo.

A Google também fez questão de lembrar que continua a querer mudar o mundo dos computadores através da computação quântica. No entanto, ainda está numa fase inicial. Num momento um pouco insólito que teve como protagonista o ator Michael Peña — uma das estrelas dos filmes da Marvel “Homem-Formiga”, que tocam de forma fictícia nestes temas — a Google mostrou um pouco do seu novo laboratório no qual investiga o que pode ser o futuro dos computadores. “Tem algumas das zonas mais frias do universo”, disse um dos investigadores da Google. “Mais frio do que o Canadá”, perguntou Penã. “Sim, mais frio do que o Canadá”, respondeu.

Por fim, houve ainda espaço para a Google mostrar que quer ser “sustentável”, ao mostrar como é que está a construir campus. A Google agora pode transferir tarefas de computação móvel entre diferentes centros de dados, com base na disponibilidade de energia livre de carbono por hora em horário regional, anunciou a empresa. “Isso inclui fontes variáveis ​​de energia, como solar e eólica, e também energia livre de carbono ‘sempre ativa’, como nosso projeto geotérmico anunciado recentemente”, disse a Google ao mostrar que está a construir os novos edifícios com palas que são painéis solares e tem estruturas debaixo de terra para recolher energia geotérmica.