“Billie”

Este documentário de James Erskine sobre Billie Holiday assenta nas centenas de horas de entrevistas feitas pela jornalista Linda Lipnack Kuehl para a biografia da cantora que planeava escrever mas não conseguiu, por ter morrido inesperadamente. A Billie Holiday que emerge destas dezenas de depoimentos de pessoas que a conheceram e tocaram com ela é a de uma mulher dramaticamente marcada por uma infância dura e sexualmente promíscua, e pelos muitos homens (agentes, namorados, maridos, funcionários do governo americano) que a maltrataram, exploraram, perseguiram e roubaram; mas também vítima de si mesma, como o demonstra a propensão crónica para se envolver sentimentalmente com homens violentos e sem escrúpulos (o que alguns dos entrevistados atribuem à existência de um forte traço masoquista na personalidade de Holiday). O assombroso génio vocal da cantora, esse, está a anos-luz da tristeza, da inquietação e da infelicidade que a atormentaram ao longo da sua demasiado breve vida.

“O Mauritano”

Tahar Rahim (da série “The Serpent”), Jodie Foster e Benedict Cumberbatch são os principais intérpretes deste filme de Kevin McDonald (“O Último Rei da Escócia”) sobre a história real de Mohamedu Ould Slahi, um mauritano que, após os atentados de 11 de Setembro de 2001, esteve detido durante 14 anos na prisão de Guantánamo sem acusação nem julgamento, tendo sido torturado para que confessasse coisas que não tinha feito. Acabou por ser considerado inocente em tribunal em 2010, mas mesmo assim teve que esperar mais seis anos até ser libertado. O caso de Slahi é desumano e lamentável e “O Mauritano” está do lado certo da razão e da justiça, o que não chega para fazer dele um bom filme, já que segue, na forma e no gesto narrativo, as convenções, os estereótipos e o clima emocional dos policiais jurídicos sobre “culpados inocentes”. A causa é boa e louvável, mas a sua dramatização cinematográfica, nem por isso.

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“Prazer, Camaradas!”

Logo depois o 25 de Abril, muitos jovens estrangeiros, quase todos de extrema-esquerda, bem como alguns portugueses que estavam no exílio, acorreram a Portugal para ajudarem a fazer a revolução ou trabalharem nas herdades e propriedades ocupadas, nomeadamente no Alentejo e Ribatejo. Em “Prazer, Camaradas!”, um documentário dramatizado, José Filipe Costa (“Linha Vermelha”) filma, passado quase meio século, alguns desses estrangeiros, agora idosos, a recordar e a encenar, com os homens e mulheres da cooperativa ribatejana onde se instalaram, também eles agora já adiantados nos anos, muitas das situações e peripécias que então viveram, bem como os choques sociais e culturais que protagonizaram, em especial no plano dos costumes e dos hábitos sexuais. A ideia é curiosa, mas “Prazer, Camaradas!” corre o risco de ser apelativo essencialmente aos nostálgicos e aos estudiosos dos tempos turbulentos e tresloucados do PREC e do “Verão quente” de 1975.

“Marighella — O Guerreiro”

O actor Wagner Moura estreia-se na realização com este  filme sobre os últimos anos de vida do guerrilheiro urbano Carlos Marighella, que após ter sido expulso do Partido Comunista Brasileiro em que militou e do qual foi deputado, aplicou-se a combater o repressivo regime militar com o seu grupo revolucionário Acção Libertadora Nacional, que levaria a cabo vários assaltos, atentados bombistas, sequestros e assassínios, até à morte do seu líder, em 1969, numa emboscada liderada pelo delegado Sérgio Fleury. O actor e cantor Seu Jorge interpreta Carlos Marighella e o filme é inspirado no livro “Marighella, o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, do jornalista Mário Magalhães. “Marighella-O Guerreiro” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.