Até ao meio-dia desta quinta-feira, foram suprimidos 43 comboios devido à greve na CP, segundo um balanço da empresa enviado ao Observador: 13 comboios urbanos do Porto, 29 comboios regionais (dos quais, 15 são supressões parciais, ou seja, de apenas uma parte do trajeto), e um comboio intercidades no Alentejo. Assim, dos 549 comboios que deveriam ter circulado até às 12h, operaram 506.
A PSP de Lisboa diz que “não há grandes congestionamentos” no trânsito além do habitual por causa da greve e aponta apenas para um ligeiro aumento do tráfego rodoviário, mais notório nos acessos no sentido Sintra-Lisboa. Já a divisão do Porto indica que o trânsito “está a circular normalmente”.
Os efeitos da greve, porém, pouca se notaram ao início da manhã. Na estação de Queluz-Belas, na Linha de Sintra, a reportagem da Rádio Observador deu nota, pelas 8h00, de que os comboios estavam a passar sem grandes perturbações. Aliás, a informação que consta nos painéis informativos, e confirmada por utentes à Rádio Observador, revela isso mesmo: que não têm havido supressões, embora se tenha verificado, pelo menos, o atraso de um comboio. Além disso, estão menos passageiros nas plataformas do que é habitual, sinal de que os comboios estão a circular ou de que os utentes procuraram alternativas, perante os avisos que circularam na véspera de que a greve poderia causar perturbações. O traço mais evidente da paralisação é, para já, na estação de Queluz, o facto de as bilheteiras se encontrarem fechadas.
Comboios a andar, mas bilheteiras fechadas por causa da greve de trabalhadores da CP
Num outro ponto de reportagem, na estação do Cacém, a TVI24 mostrava, pelas 7h00, que, na linha de Sintra, todos os comboios estavam a passar desde as 6h00 regularmente, sem comboios suprimidos, embora alguns circulassem com redução de carruagens. Cerca de 1h00 depois, a estação televisiva dava conta, no mesmo local, de um comboio suprimido no sentido Lisboa-Oriente, mas que não provocou grandes ajuntamentos, dado que o transporte seguinte chegou 10 minutos depois. Um outro comboio também foi, entretanto, suprimido, mas também não causou ajuntamentos naquela estação.
Ao Observador, fonte da PSP em Lisboa diz que “não há grandes congestionamentos” no trânsito, na capital, por causa da greve, e aponta apenas um ligeiro aumento do tráfego rodoviário. Os acessos no sentido Sintra-Lisboa são onde se verifica maior movimento. A reportagem da Rádio Observador notou, porém, um tráfego intenso entre Alvalade e a estação de comboios do Cais do Sodré, antes das 9h00. Segundo informação recolhida no local, foi suprimido, pelo menos, um comboio naquela estação, mas não houve constrangimentos dado que o comboio seguinte chegou 10 minutos depois.
[Oiça aqui a reportagem da Rádio Observador no Cais do Sodré a partir do minuto 1:20]
Já no Porto, fonte da divisão da PSP indica que não está a ser observado um movimento “anormal, além do habitual”. “Não observamos nada de anormal. O trânsito está a circular normalmente, nada de anormal além do habitual.”
A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Setor Ferroviário (SNTSF) e pela Federação de Sindicato de Transportes e Comunicações (FECTRANS), da CGTP, não tendo sido decretados serviços mínimos pelo Tribunal Arbitral do Conselho Económico e Social. Os trabalhadores pedem aumentos salariais generalizados, a redução do horário de trabalho para as 35 horas e da idade de reforma, assim como pela melhoria do serviço público prestado.
À Rádio Observador, José Manuel Oliveira, da FECTRANS, revela que não se avançou na negociação dos aumentos salariais. “Hoje os salários de entrada neste setor irão ficar muito próximos do salário mínimo nacional, nomeadamente em categorias de elevados níveis de conhecimentos técnicos e de responsabilidade, com o problema de distorcer a grelha salarial, colocando no mesmo nível de vencimento categorias com funções e responsabilidades diferentes”, critica.
Greve com “importante expressão”
De acordo com o coordenador da Fectrans, embora ressalvando que não podem “avançar com números concretos”, é possível dizer, “neste momento, que a maioria dos trabalhadores das empresas que estão envolvidas na greve estão efetivamente a aderir à mesma”.
Já o coordenador da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, Sebastião Santana, avançou à Lusa que a greve “está a ter uma importante expressão”.
“De uma maneira geral, os dados que vêm tanto da Fectrans como da Federação Nacional são de uma greve que está a ter uma importante expressão, embora possa não estar a ter visibilidade no que toca aos comboios, porque há uma série de substituições feitas pela empresa”.
E prosseguiu: “É uma greve que está a levar os trabalhadores à luta e a identificarem-se com ela”.
José Manuel Oliveira explicou à Lusa que a greve da CP e da IP “até pelo desenvolvimento tecnológico, a visibilidade dos serviços que estas empresas prestam, muitas vezes não está diretamente ligada ao número de trabalhadores que estão em atividade desde o início da manhã”.
Para o dirigente sindical, há, no entanto, “muitos serviços que não são visíveis e que estão em greve, nomeadamente, bilheteiras fechadas e mesmo as mesas de controlo de circulação, algumas delas estão a ser operadas por trabalhadores de chefias intermédias e por quadros superiores que estão a substituir os trabalhadores em greve”.
No caso dos trabalhadores das oficinas temos “uma grande adesão”, na ordem dos 90% e o que se pode ver é uma “demonstração de que os trabalhadores estão descontentes quanto à política salarial nestas empresas e que cada vez mais os salários de entrada são salários mínimos nacionais”.
Para Sebastião Santana, a adesão dos trabalhadores, nomeadamente dos do “quadro de pessoal transitório”, que são aqueles da “administração pública que continuam a trabalhar nas infraestruturas de Portugal, é difícil de aferir até porque há um grande número que agora estão em teletrabalho”.
Ainda assim, reconheceu à Lusa que está a haver “impactos nos serviços, principalmente nos de menos visibilidade, que é onde parte destes trabalhadores estão”.
Em comunicado, a CP avisou que “a greve abrange o período entre as 00h00 e as 24h00 de dia 27 de maio, mas o impacto na circulação poderá estender-se para além desse período, nomeadamente ao final do dia 26 de maio e às primeiras horas da manhã de dia 28 de maio”.
Os trabalhadores manifestaram-se também em frente ao Ministério das Infraestruturas, tutelado por Pedro Nuno Santos. Segundo imagens transmitidas pela SIC Notícias, por volta das 11h00 eram algumas as dezenas de manifestantes que estavam reunidos naquele local. Pedem, sobretudo, aumentos salariais.