Pedro Passos Coelho não quer nem vai disputar a liderança do PSD. O antigo primeiro-ministro sabe que há uma parte do partido (e da direita) que o deseja, mas um regresso à política ativa não está previsto no horizonte próximo. Ou seja: não contem com ele para disputar as diretas de 2022.

O Observador sabe que a vontade do ex-presidente social-democrata é manter-se fora dos palcos principais nos próximos anos e que toda e qualquer conversa sobre um eventual regresso à liderança do partido, com os dados que existem hoje, é extemporânea.

A verdade é que a presença do antigo primeiro-ministro nos dois dias do congresso do Movimento Europa e Liberdade relançou a discussão (há muito persistente) sobre o regresso de Pedro Passos Coelho para federar as direitas.

Passos, que assistiu aos dois dias de congresso, afastou qualquer leitura política sobre a sua presença ali. “Nada disso, nada disso, nada disso. Não quero ser um ator”, repetiu perante a insistência dos jornalistas.

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O antigo primeiro-ministro marcou voluntária ou involuntariamente a ‘Aula Magna da Direita’: antes, durante e depois de todas as intervenções, foi sempre ele o foco das atenções, foi sempre ele que os presentes quiseram saudar e cumprimentar e ver e tocar. Todos quiseram ficar ao lado do mito sebastiânico da direita.

Durante ‘Aula Magna da Direita’, foram vários os protagonistas que criticaram a ausência de uma liderança marcadamente à direita no PSD, capaz de fazer frente ao bloco das esquerdas.

Aliás, os três líderes dos partidos à direita do PSD — Francisco Rodrigues dos Santos, André Ventura e João Cotrim Figueiredo — criticaram a estratégia escolhida por Rui Rio de aproximação ao centro e a procura insistente por acordos de regime com António Costa.

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Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais e challenger de Rio nas últimas eleições internas, foi quem melhor sintetizou o pensamento dominante destes dois dias de congresso.

“Hoje estamos a falar de convergência simplesmente porque Pedro Passos Coelho deixou de ser líder do PSD. Não tenho dúvidas de que Rui Rio seria muito melhor primeiro-ministro do que António Costa, a verdade é que não tem adesão popular, não é entendido como uma verdadeira alternativa. E em democracia sem ganhar eleições não se consegue mudar o rumo de país.”

Como explicava aqui o Observador, também Marcelo está preocupado com o momento do partido. Passos seria uma solução para um problema que preocupa o Chefe de Estado, mas toda e qualquer tentação que Marcelo venha a ter de influenciar o antigo primeiro-ministro só terá o efeito contrário — a relação entre os dois está longe de ser a melhor e Passos nunca aceitará fazer ativamente parte dos planos que Marcelo possa ter.

O ex-líder do PSD não quer ser envolvido nessas contas e, se um dia decidir avançar para a liderança do PSD, e esse cenário não está excluído, só o fará se entender que tem condições objetivas de chegar a primeiro-ministro

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