Nuno Afonso, um dos vice-presidentes da direção do Chega que vai perder o cargo, admitiu, em entrevista ao Observador, que a permanência na direção “depende da proposta” de André Ventura, tendo em conta que, à exceção do lugar de presidente e dos vice-presidentes, apenas sobram cargos de vogal.

“Não podemos perder o caráter de protesto”

Poucos minutos antes de a decisão se ter tornado oficial no III Congresso, Nuno Afonso admitiu que “ficaria magoado” com a saída, apesar de a aceitar e de não se opor, já que está nos estatutos do partido que o órgão é nomeado pelo presidente. Mais do que a estranheza da decisão, o até aqui vice-presidente questiona a mensagem que vai ser passada com esta mudança: “Eu acho que, sendo candidato a uma câmara tão importante como é Sintra, deixar de ser vice-presidente e passar para outra função qualquer, em vésperas de eleição, não sei que tipo de imagem passará.”

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O coordenador autárquico espera perceber a “lógica por detrás” da decisão, consciente de que “o André [Ventura] não é pessoa de tomar decisões impulsivamente”, o que faz crer que “há de ter um motivo para fazer as trocas”. Porém, se a decisão é esta, Nuno Afonso espera que se torne regra: “Todas as razões serão válidas se forem para ser levadas como regra e for uma regra que se mantenha depois para o futuro. Se a decisão é que cada vice-presidente só possa fazer um mandato e for para cumprir por todos é um regra.”

Sobre ser um dos membros do partido mais moderados, Nuno Afonso dispensa a palavra por esta não ser “carne nem peixe”, “bom ou mau”. Contudo, depois de ter ouvido André Ventura a atirar-se aos críticos internos e a pedir que não haja moderação, não acredita que as palavras tenham sido dirigidas a si: “Se essa questão dos moderados é para mim… sinceramente não acredito. Estive no MEL esta semana a discursar e disse claramente que a importância do Chega em Portugal é precisamente porque somos o único partido que tem a capacidade de dizer aquilo que mais nenhum dos outros desta suposta direita ou centro de direita tem coragem de dizer.”

O coordenador autárquico acredita que para o partido crescer não tem de se moderar nem fugir dos “temas” que o “trouxeram até aqui”. “Acho que tem de haver não moderação, mas formas de explicar às pessoas aquilo que nós defendemos”, insistiu, frisando que é preciso que “apareçam outras pessoas a falar”, com “discursos diferentes” e com capacidade de “chegar a mais pessoas”.

Não podemos perder o caráter de protesto, nós somos um partido antissistema e não nos podemos moderar demasiado senão vamo-nos aproximar daquilo que já existe e ninguém vai votar em lados b. Se ficarmos demasiado próximos do CDS, do PSD ou até de uma Nova Democracia que não deu em nada… não vamos longe como eles não foram”, acredita Nuno Afonso. Neste sentido, o coordenador autárquico considera que “sem o ADN de protesto” não é possível “crescer mais do que isto” e, por isso, “é para manter”.

Apesar de a moderação não ser o caminho a seguir, o dirigente do Chega, certo de que “sozinhos dificilmente” lá chegarão, frisou que há “muitas bandeiras” que são precisas de manter mas que será preciso “sempre negociar”. “Terá de haver uma associação com outros partidos. Se o PSD tivesse um resultado que, com a nossa ajuda, conseguisse formar governo — só os dois ou mesmo com o CDS — a questão seria o quão dispostos estão para fazer governo, sabendo que nós não abdicaríamos de muitos dos princípios que defendemos para formar governo”, explicou, ao recordar as palavras do líder do partido que disse “ou é como nós queremos, ou não é”.