Quando se foge, cheio de pinta, para o sol da Caparica já não é só para apanhar banhos de toalha estendida na areia em dias escaldantes. O cenário é outro, até porque hoje há novas caras por ali, há mais que ver, fazer e comer numa Costa da Caparica renovada que, nos últimos anos, muito deve a Gregory Bernard, empresário francês que diz, sem papas na língua, que a Caparica lhe “salvou a vida”, vendo potencial naquelas praias urbanas. Está a transformar o conhecido quarteirão do Barbas numa espécie de Venice Beach portuguesa — já tem dois complexos que servem de casa a restaurantes, escolas de surf e eventos de toda a espécie.

Qual era o sítio mais próximo de Lisboa com boas praias e boas ondas para o surf? Uma breve pesquisa no Google Maps deu-lhe a resposta: a Costa da Caparica. Nunca lá tinha estado, apenas em Lisboa, em visitas rápidas e intermitentes durante viagens de negócios. Gregory já foi homem dos sete ofícios — agora também o é, mas numa versão mais zen —, daqueles que dão dores de cabeça e burnouts, a razão que o fez querer mudar de vida. Trabalhou em cinema, na área da moda e nas telecomunicações, sempre num ritmo mais alucinante do que aquele que podia acompanhar. Tinha muitas empresas, muitos projetos, muito stress — esbarrou contra o iceberg e acabou com um esgotamento. “Tive de parar. Estava a viver entre muitas cidades, sem parar e fui obrigado a desligar. Descobri as terapias alternativas e percebi que o meu caminho tinha de ser por aí, tinha de abrandar e adotar um estilo de vida mais saudável”, conta Gregory, cujo pai é médico com uma crença absoluta na medicina tradicional e que ficou cético às escolhas do filho.

Neste processo, Gregory sabia que Lisboa estava “na moda” e que havia “uma tendência louca sobre a cidade”. Não restaram dúvidas para onde viria “abrandar o ritmo”. No primeiro dia que chegou à Caparica apaixonou-se por uma casa mesmo junto ao restaurante Barbas, e comprou-a sem demoras. “Senti aquilo que eu queria sentir: não ser mais um no meio da multidão. Aqui a vida era diferente, era tudo mais calmo”, diz.

Quando chegou a ciática estava a impedi-lo de se movimentar mais do que o estritamente necessário. “Queriam operar-me e tudo, mas não deixei. Comecei a fazer exercícios alternativos, yoga, surf, a água fria ajudava, e ao fim de três ou quatro meses estava bem. A Caparica salvou-me a vida e a minha saúde mental”, confessa. “Percebi que há sempre alguma coisa que podes fazer por ti, podes escolher sujeitar-te ao que é mau e te afeta negativamente ou podes escolher uma filosofia que abrace a natureza, a comida saudável, o desporto, e conseguia pôr tudo isso em prática aqui”.

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Gregory mudou-se há pouco mais de três anos e já conseguiu abrir dois complexos entre a praia do Norte e a praia do CDS ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

Depois da descoberta inicial, acabou por ir ficando e criar amizades. Quando pensou assentar arraiais de uma vez, aliciaram-no com uns complexos para venda onde funcionavam restaurantes. Percebeu que estava na hora de mudar a Caparica e mergulhou de cabeça como faria no mar. “Quando és um serial-entrepreneur não consegues estar quieto — eu vim para descansar mas comecei logo a ver como conseguia fazer mudanças por aqui”, afirma. Viveu muitos anos em Los Angeles e diz ter visto o que aconteceu por lá. “Vi a evolução de Venice Beach, de Santa Monica, de Miami Beach, outros paredões no México e Rockaway em Nova Iorque, vi toda a evolução dessas grandes zonas de praia”, conta. “Percebi naquilo em que se tornaram e acho que aqui podia acontecer o mesmo, transformar isto numa espécie de Venice Beach portuguesa. E vai acontecer, portanto comecei esse processo”.

Abriu em 2018 o Dr. Bernard, em homenagem ao seu pai médico — daí o Dr. e também o próprio apelido que têm em comum —, que se transformou num complexo de bem-estar com boa comida, uma escola de surf, aulas de yoga e eventos temáticos. Conseguiu “dar outra fama a esta zona de praias urbanas da Costa” e trazer um público que dantes não frequentava aqueles areais.

Mas quando chegou, conta que o cenário não era como o que se vê agora. “Esta zona tinha uma reputação má para os portugueses”, diz. “Eu sei que as praias da Linha, por exemplo, têm outro estatuto, até porque estão perto de tudo, é mais estável e burguês. Mas estas praias não eram vistas dessa maneira. Acredito num crescimento enorme desta zona nos próximos anos, a Covid atrasou esse crescimento, mas é inevitável”.

Inevitável porque muita gente “percebeu o estilo e qualidade de vida” que se pode ter ao pé destas praias, que juntam o melhor dos dois mundos: o da vida urbana com o da natureza.  “A sociedade moderna puxa-te para outras coisas: prazeres efémeros e baratos, gratificações imediatas, fama, dinheiro, coisas que te conduzem para um lugar que não é bom”, refere. “Mas a pandemia ajudou as pessoas a perceber que têm outras necessidades. As cidades precisam de se reinventar, criar beleza dentro das selvas urbanas, porque o ritmo frenético é como uma onda que te puxa para dentro do mar. É difícil sair, mas é possível, e eu quero mostrar isso com os meus negócios”.

A comida é um ponto central nos seus negócios: quer-se feita com ingredientes o mais naturais possível e de produtores locais ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

No verão passado abriu o segundo pavilhão, o Palms, com um conceito diferente do Dr. Bernard mas onde as bases de bem-estar e de boa comida são o denominador comum. É mais um passo naquilo que, ainda que sem bola de cristal, já viu acontecer lá fora. Hoje, senta-se virado para o mar para ter vista sobre o paredão e fica a analisar quem passa. São pessoas diferentes, não são as mesmas que por ali andavam há três anos quando chegou à costa. “Até ao nível do estilo, que é uma coisa que eu notava muito em Venice Beach, as coisas mudaram. As pessoas estão mais excêntricas, consegues ver os cool kids a virem para esta zona da Costa, e isso dantes não acontecia”, repara.

Ir à Costa da Caparica é para muitos um exercício de ócio estival que não vai muito mais além de um bom dia estendido no areal, a receber os raios do astro rei, e uma ou outra refeição à beira-mar com cheiro a peixe assado na grelha. Há quem fique para o sunset, mas raramente a coisa passa daí e, depois de estar instalado nestas bandas há mais de três anos, Gregory quer mudar isso. Quer que a Costa se torne também num destino para jantar que não implique corpos salgados saídos do mar que acabam por ficar.

“Acho que finalmente conseguimos perceber a fórmula que resulta e que faz sentido para nós depois destes anos. Eu errei em muita coisa quando comecei, mas a marca Dr. Bernard já se consolidou, temos uma oferta consistente e as pessoas que conhecem voltam”, diz. “A ideia agora é tornar a Costa também num sítio onde as pessoas venham só jantar, por exemplo, sem terem de ter ido à praia primeiro, virem cá porque temos boa oferta gastronómica, porque temos sempre coisas a acontecer”.

Com a pandemia a tal fórmula fica mais limitada, mas nem por isso impossibilitada de acontecer às mãos de Greg e Ana Fernandes, diretora criativa do Palms. Querem eventos, querem desporto, querem festas quando for possível que estas aconteçam, querem pop ups com chefs durante o verão, coisa que está entregue a Pedro Abril (Shogun e Casa Manjapão) que está agora a fazer consultoria no espaço. “Como é que manténs as pessoas cá? Como é que as chamas para o jantar? Com coisas que não têm noutros sítios. Temos de nos mexer assim, mesmo com as restrições Covid”.

No fundo, trata-se de perceber quem é o público a quem conseguem chegar e tentar atraí-lo de alguma forma, juntando-o já a quem habita aquela zona e a torna num tecido urbano “interessante” formado pelos “novos locais que são a próxima geração de pessoas que vai mudar a Caparica”. “Tem tudo para dar certo: fica a meia hora do aeroporto, tem as melhores praias e ondas, está perto de uma grande cidade”. Apesar de reconhecer as mudanças e de ter quebrado muitos dos preconceitos em relação àquela zona, o francês diz que as assimetrias sociais são “necessárias porque é a realidade das cidades é esta e as comunidades têm de englobar toda a gente”.

Tanto o complexo Dr. Bernard como o Palms dão nas vistas pela cor e pelo estilo mais “excêntrico e pop” ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

E apesar de ter noção de que em muito contribuiu para a mudança naquela zona da Caparica, sabe que não pode (nem consegue) fazer o trabalho sozinho. Há muitos espaços livres, interiores e exteriores, à espera de serem explorados, mas é preciso que tal como se criou uma comunidade em torno da nova Costa, que se crie uma comunidade que invista e caminhe na mesma direção que Gregory. “Se a Caparica quer mesmo crescer tem de haver uma sinergia entre os restaurantes aqui e a própria Câmara, juntar a comunidade toda para que possamos criar coisas incríveis, é preciso aproveitar o que temos de bom: a comida, a natureza, o desporto, o bem-estar. Deixem as pessoas que querem investir, investir, e expandir, mas temos de trabalhar no mesmo sentido”, aponta, pedindo responsabilidades conjuntas naquele que é um início de uma mudança maior.

“Quem vem da ponte podia simplesmente vir em frente, mas as pessoas acabam a virar à esquerda para as outras praias e esquecem-se o quão incrível pode ser este quarteirão”, conta.

Palms Blitz, a onda veio e Gregory apanhou-a

O pavilhão onde se ergue o Palms, foi na verdade o primeiro espaço que Gregory comprou quando chegou à Costa. Dantes era ocupado pelo conhecido restaurante cabo-verdiano Tia Bé — com casa em Cacilhas — que acabou por passar para as mãos do empresário o complexo da Praia do Norte. Problema: estava num estado de degradação elevado e Greg não tinha capacidade financeira na altura para fazer todas as obras necessárias. Foi pouco tempo depois que o próprio Barbas, na impossibilidade de manter todos os espaços que detinha no quarteirão, fez a proposta a Gregory para que ficasse com o pavilhão da praia do CDS, onde é atualmente o Dr. Bernard. Mas já lá vamos.

O espaço, aberto apenas no verão passado, foi todo pensado e construído pela equipa ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

“Abri primeiro o Dr. Bernard porque o espaço estava em condições e consegui logo pô-lo a funcionar. O Palms foi um work in progress, porque fomos nós, a equipa, que fomos limpando, reconstruindo tudo ao longo dos últimos tempos”, conta. “O Palms surgiu de uma forma muito orgânica. É como uma onda, sabes? O que o surf me ensinou é que não controlas nada na tua vida. Às vezes vem uma onda e das duas uma: ou apanhas essa onda e aproveitas o melhor que ela tem para te dar, ou podes deixá-la ir”. Neste caso, decidiu mesmo apanhar a onda, em vez de “correr contra a corrente”.

Abriu no verão de 2020 este segundo espaço, com um ambiente e decoração completamente distintos dos do Dr. Bernard. O teto axadrezado rosa e azul dá nas vistas, mas casa na perfeição com o estilo vaporwave que Gregory e Ana Fernandes quiseram imprimir no espaço. O deck está pintalgado com os mesmos tons de todo o restaurantes, rosa, verde água e branco, assim como as mesas — as plantas criam um ambiente tropical e Wasted Rita remata a decoração com ilustrações suas na parede.

“Há pessoas que querem ter sucesso imediato, eu percebo a ideia, mas eu nunca quis isso. É preciso construires primeiro a tua marca para seres credível e, portanto, quando o Palms surgiu tudo o resto foi muito orgânico. As pessoas vinham naturalmente, já nos conheciam”, diz. Abriram no passado ano com um menu de comida mexicana e andava tudo muito à volta disso, tendo recebido ainda um pop up de verão, o Bang Bang Mini Club, com cachorros e frozen cocktails. Mas a história agora é outra. É outra desde que Gregory deu de caras com David Liptay e a mulher Anna Bárath, húngaros acabados de chegar à Costa da Caparica.

O somatório foi simples: Gregory queria pizzas no Palms e David tinha pizzas. O casal tinha na Hungria a marca Blitz, onde ambos cozinhavam numa carrinha Opel Blitz de 1954, em jeito de street food, comida com foco na sustentabilidade e com ingredientes locais. Tudo “fazia match” com o que Greg queria. Em maio de 2021, o Palms passou a Palms Blitz, um restaurante onde o forno é a joia da coroa e de onde saem pizzas de massa fofa feitas com produtos locais, dos vegetais ao próprio queijo.

O forno quando aquece a 500º consegue assar uma pizza em 90 segundos ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

“Naturalmente, queremos ser autênticos e autenticidade significa estarmos conscientes dos nossos arredores, dos campos, das quintas, dos produtos que nos rodeiam e, em geral, de onde estamos”, explica o casal. “Com a mudança para Portugal, a nossa visão culinária abriu-se para uma gama muito mais ampla, onde os grandes ingredientes estão em todo o lado. Chamamos a Portugal a Califórnia da Europa por um bom motivo”.

A base do restaurante passa pelo uso do forno de lenha, todo em bronze, e do fogo, voltando aos métodos de antigamente onde era habitual cozinhar-se assim. Quando está a 500º cozinha pizzas em 90 segundos. Quando acaba de cozer essas pizzas o forno começa a arrefecer e permite que se assem legumes lentamente.

O menu é curto e foca-se essencialmente nas pizzas, que vão da mais básica margherita (10 euros) à salami (12 euros) com ventricina, mozzarella e padron, a vegan dream (12,50 euros) com folhas de couve, pimenta em conserva e ricota de semente de cânhamo caseira, a cheesus christ (11,50 euros) com ricota de limão, gorgonzola e provolone picante, ou a marrakesh (11 euros)com Harissa, que é pasta de malagueta, pimento Piquillo, queijo de cabra fresco e raspas de limão — no total são oito pizzas diferentes. Há ainda burrata (8,50 euros) e uma salada (7 euros) com ervilhas, favas, pecorino romano, endro e bulgur, no que toca aos pratos frios. Já nos quentes vem para a mesa uma couve-flor assada com tahini (7 euros) ou a beringela assada (9 euros) com tomate, requeijão, parmesão e pão de pizza.

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Fica a faltar o único doce da carta: uma versão reinventada do banana split — mais uma vez, também feito no forno — onde a banana assa e carameliza e é servida com gelado Davvero (6 euros), que tem um corner no Dr. Bernard.

Para David e Anna é fundamental que se evite qualquer tipo de desperdício alimentar, é um dos pilares do Blitz, que também garante dar prioridade a todos os produtores locais, porque é fundamental para um alimentação sustentável. E Gregory concorda. Se dependesse da sua vontade já tinha um campo agrícola onde plantaria o suficiente para conseguir abastecer as cozinhas dos dois restaurantes — “mas é coisa que está os planos, ter um terreno para permacultura”.

Para já, faz testes no jardim de sua casa e vai plantando e provando o que a terra lhe dá — tem courgettes suculentas e delas aproveita também as suas flores para cozinhar. Serviu-as panadas e brincou: “o que faço aqui não é farm to table, é antes backyard to table”.

Uma das ideias de Greg é conseguir ter um espaço de cultivo para fornecer as cozinhas dos restaurantes ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

A ligação à natureza não se fica pela comida, basta pôr os olhos na carta de vinhos que é curta mas só tem referências de vinhos naturais como o Flui Pet Nat, Olho no Pé, Uivo Curtido ou COZ’s Pop. Há sidras naturais, kombucha caseira e soda da Why Not.

O Palms Blitz, no entanto, quer ser mais do que um restaurante de praia e Ana Fernandes, enquanto diretora criativa, está responsável pela programação cultural e gastronómica que está planeada para o verão que aí vem. A ideia é que todos os fins de semana haja DJ sets temáticos, que vão sendo anunciados nas redes sociais. Vai surgir um corner com gelados, doces e paninis também feitos no forno de David e um dia por semana Ana quer implementar o aperitivo ao estilo italiano — os clientes compram os cocktails e em cima do balcão há pequenos aperitivos para poderem acompanhar.

Será no corner onde em 2020 esteve o Bang Bang Club que este verão haverá gelados, paninis e outros pop ups ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

O complexo tem um andar de baixo que está ainda em obras, mas muito em breve terá uma escola de surf — à semelhança da do Dr. Bernard — e também o novo projeto de Gregory, uma sala de realidade virtual para simular surf e outras atividades.

“Eu quero que as pessoas de Lisboa venham cá e saibam que têm sempre algo a acontecer, seja no Palms ou no Dr. Bernard. A comida está garantida, mas além disso os eventos são uma parte importante para atrair outras gentes que queira vir a um concerto, a evento gastronómico, fazer surf ou yoga, enfim”, remata o empresário que não está esquecido da loja online que ainda quer criar com merchandising, produtos de bem-estar, bebidas e plantas para fitoterapia.

O primeiro nunca se esquece

O Dr. Bernard foi o seu primeiro filho e diz ser daquelas “experiências que nunca esquece”. Quando comprou o pavilhão ao Barbas este estava praticamente pronto a abrir portas, faltava só pôr tudo ao estilo que caracteriza Gregory Bernard — excêntrico, colorido e urbano. Quando acabou, a ideia era clara: “não queria competir de modo algum com os negócios que já estavam instalados aqui”. A ideia sempre foi reproduzir paredões de praias urbanas por onde já tinha passado antes e testado o respetivo sucesso.

Arrancou devagar e sozinho, sem experiência alguma na área da restauração, mas foi ganhando espaço e nome no quarteirão. A febre dos pop ups antecipou-se por aqui: entre maio e outubro de 2019 o Dr. Bernard recebeu o ONA At The Beach, um projeto de Luca Pronzato, que passou pelo prestigiado Noma. Luca acabou a levar para o restaurante um grupo de jovens chefs e pessoas ligadas à cozinha, portugueses e estrangeiros, para servirem refeições muito focadas nos ingredientes portugueses — e com isso falamos de peixe e petiscos para partilhar sobretudo — com grande ênfase também nos vinhos naturais.

A mudança no panorama gastronómico da Costa acelerou com o ONA, disso não há dúvidas, mas Greg admite que as pessoas ainda não estavam prontas. “O que fizemos aqui foi incrível, mas muito dispendioso, trouxemos muitos chefs e fazíamos um restaurante diferente todas as semanas, no fundo era isso”, reflete. “Talvez o ONA tenha acontecido demasiado cedo aqui na Costa, foi muito ambicioso porque nós criámos uma coisa muito consistente, mas se calhar devíamos ter arrancado logo em Lisboa que tinha uma cena gastronómica diferente. Em Lisboa as pessoas estavam mais recetivas ao nosso conceito da altura”.

Contudo, não nega o sucesso que foi e o público diferente que conseguiu atrair, muitos nem nunca tinham posto os pés naquela praia, quanto mais no Dr. Bernard. Depois de um primeiro confinamento seguido de um verão intenso de 2020 e de uns meses de inverno ao ritmo dos de verão, o complexo Dr. Bernard mudou em 2021.

Agora, os menus focados na máxima de Gregory “somos o que comemos” seguem um conceito de inspiração mexicana com alma portuguesa, sobretudo no que diz respeito aos ingredientes locais usados na confeção. A carta, servida entre as 13h e as 22h, vai buscar alguns clássicos Tex Mex como os totopos com guacamole (6 euros) ou os nachos (7 euros) que podem ser com queijo ou chili de carne, isto se estivermos a falar das entradas. Não falham as quesadillas (6-8 euros) de queijo, camarão, frango ou chili, os tacos (7-8 euros) de peixe, carnitas, choco frito ou camarão, há ainda empanadas argentinas (3,50-6 euros) e uma série de pratos especiais das cozinhas do mundo como chicken wings com molho picante (8 euros), amêijoas com chouriço e tequila (12 euros), choco com molho tártaro (15 euros) ou ribs (9,50 euros). Os hambúrgueres, com opções vegetarianas, completam o menu, que inclui também uma série de veggie bowls.

Muita gente que está em teletrabalho acaba por ocupar esta sala durante o dia no Dr. Bernard ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

Existe ainda um menu de pequenos-almoços com tostas de pão de massa mãe, bagels, uma breakfast burrito bowl ou com tortilla.  Já os sábados e domingos são dias de brunch (10h às 16h) com um menu de 15 euros, que inclui bebidas quentes e frias e duas opções de pratos principais.

O espaço ganhou nesta reabertura um novo juice bar, que é nada mais nada menos que um bar de sumos naturais em que cada um representa uma cor do arco-íris — tal como as paredes do restaurante — feitos apenas com ingredientes naturais e orgânicos. Além dos sumos, há smoothies, chás biológicos da Paisagindo Bio pensados para colmatar falhas do sistema imunitário, e ainda vários produtos do talho vegan e vegetariano Asoka Veggie Market, que podem ser consumidos no local quando adicionados às veggie bowls ou comprados em regime take-away. Ainda em março, abriram aquilo a que chamam de “ice cream disco corner” numa parceria com a Davvero com gelados da marca italiana.

“Sabemos que as pessoas vêm aqui para terem uma oferta gastronómica diferente, que nós acabamos por complementar com as atividades de bem-estar”, conta Gregory, referindo-se à escola de surf e ginásio que funciona no piso inferior do restaurante e também às aulas de yoga regulares que ali decorrem. “Notámos foi que o teletrabalho trouxe uma vontade às pessoas em terem outra qualidade de vida, em estarem mais próximas da natureza. Vir trabalhar para aqui, em frente ao mar, comer bem, é perfeito”.

A escola de surf inclui aulas privadas e de grupo. Fica no piso inferior e no mesmo espaço tem também um ginásio agora renovado ©Filipe Amorim/OBSERVADOR

A notória procura por quem está em teletrabalho e prefere fazê-lo com vista para o mar que enche grande parte da sala interior do Dr. Bernard, fez Gregory ir mais longe e começar a pensar em abrir um outro espaço que seja apenas cowork, um projeto que já está em andamento, apesar de não adiantar grandes detalhes. A verdade é que o restaurante foi adaptando o espaço para receber quem por ali se instala confortavelmente de computador em punho, tanto que até uma cabine para telefonemas e reuniões passou a fazer parte do cenário.

“Nos próximos anos isto vai mudar. As pessoas vão perceber que o ritmo das cidades é demasiado alucinante e vão ter de fazer escolhas. E a Costa é uma delas”, esclarece sem qualquer pinga de dúvida.