A vacinação de adultos pode deixar os mais novos à mercê do vírus e, embora não façam parte da população de risco, esse cenário pode vir a fazer com que os mais jovens se tornem num “reservatório” da variante Delta, mais contagiosa, mas também ambiente propício ao surgimento de novas variantes. A conclusão é de um virologista britânico de referência, citado pelo The Guardian, que mostra preocupação com a situação que se está a criar ao concentrar apenas a vacinação na população adulta, deixando desprotegida a população em idade escolar.

Julian Tang, na Universidade de Leicester, refere que “a predominância da variante Delta [também conhecida por indiana] sobre a variante Alpha [britânica] confirma uma transmissibilidade maior desta variante sobre a anterior — e uma transmissibilidade muito maior em relação ao vírus original”.

O resultado desta situação é, segundo o especialista, que “o vírus vai concentrar-se em populações em idade escolar, que eventualmente se tornarão num reservatório e condutor de qualquer epidemia da variante Delta”. Além disso, podem tornar-se “um acesso crítico para novas mutações que possam surgir” no futuro.

E aqui a corrida pela vacinação valeria de pouco, já que as novas variantes que surgem colocam sempre novos desafios a este nível — veja-se, por exemplo, o encurtar do intervalo entre as duas doses da vacina AstraZeneca, precisamente depois do estudo Public Health England (PHE) ter vindo revelar que esta vacina confere 92% da proteção contra hospitalizações por contágio com a variante Delta, mas apenas após a toma da segunda dose.

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As crianças mantêm-se fora desta vaga de imunização e ainda no início deste mês a Organização Mundial de Saúde veio reafirmar que essa não é uma prioridade. Mas o argumento apresentado relaciona-se sobretudo com a disponibilidade de vacinas. Kate O’Brien, pediatra e diretora do departamento de vacinas da OMS, afirmou que “as crianças têm um risco muito baixo de contrair a Covid” e quando o “fornecimento de vacinas é insuficiente para todos no mundo, imunizar crianças não é uma prioridade”.

Ainda assim, alguns países já aprovaram a vacina contra a Covid-19 para os mais jovens, caso do Canadá que foi o primeiro país do mundo a aprovar a Pfizer para adolescentes com mais de 12 anos ou a Dinamarca na semana passada No início de maio, também a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) validou a administração da vacina da Pfizer e da BioNTech a adolescentes entre os 12 e os 15 anos, cabendo agora a cada país europeu determinar quando entende avançar neste caminho.

Agora cada Estado-membro da União Europeia tem de decidir quando ou se pretende usar a vacina nestas faixas etárias. Embora as autoridades de saúde ainda não tenham anunciado a decisão, o Infarmed garante que estão a decorrer “atualmente vários ensaios clínicos” e que “não parece ser necessário o desenvolvimento de vacinas especificas para este grupo etário”.