Enviada especial do Observador em Budapeste, Hungria

João Moutinho leva 17 temporadas ao mais alto nível. De 2004 até agora, representou Sporting, FC Porto, Mónaco e Wolverhampton. Jogou na Primeira Liga, na Ligue 1 e na Premier League. Está a disputar o quarto Europeu da carreira, esteve em dois Mundiais, foi campeão europeu e conquistou uma Liga das Nações. Moutinho, a par de Cristiano Ronaldo, Pepe ou José Fonte, é um dos jogadores mais experientes da Seleção Nacional. E talvez por isso tenha sido ele o escolhido para falar esta segunda-feira na conferência de imprensa diária da equipa de Fernando Santos.

O jogador do Wolves, que foi muito elogiado pelo selecionador nacional na conversa informal que este teve com os jornalistas este domingo, garantiu que ainda não sabe se vai ser titular contra França — foi suplente utilizado com a Hungria e a Alemanha — e que Fernando Santos “é que tem de avaliar e achar quais é que são os melhores jogadores para jogar”. “Estamos todos disponíveis. Falando de mim, posso trazer, como os meus colegas, empenho e a promessa de fazer o meu melhor. Ninguém entra em campo com medo de fazer as coisas. Tentámos mas não conseguimos. O que se pode esperar da equipa é que vamos dar o nosso melhor e vamos estar focados no nosso objetivo e esperar que as coisas nos possam sorrir com todo o esforço”, disse Moutinho, que compreendeu e respondeu a perguntas feitas em português, inglês e francês. Sobre tudo o que foi dito e analisado na sequência da derrota com os alemães, o médio garante que tenta fazer “as próprias análises ao jogo”.

“Não sou de ver jornais. Houve coisas que não correram como queríamos. Infelizmente, não correu bem. Tivemos uma semana em que trabalhámos todos muito bem e colocámos em prática o que o mister queria mas não conseguimos transportar isso da mesma maneira para o jogo. O futebol é assim. Por vezes as coisas correm bem, outras vezes nem tanto. Não podemos estar aqui a lamentar o que poderíamos ter feito, todos deram o máximo”, garantiu o jogador de 34 anos.

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Ainda assim, Portugal depende apenas de si mesmo para chegar aos oitavos de final. Um empate contra França, na quarta-feira, chega para a Seleção seguir em frente — e até a derrota pode chegar, caso os restantes resultados dos outros grupos assim o favoreçam e a equipa seja um dos melhores terceiros classificados. “Temos as nossas chances intactas e dependemos de nós. É mais uma final. O primeiro era uma final, o segundo também e o terceiro será igualmente”, explicou João Moutinho, que indicou ainda que “a azia vai passando” quando questionado sobre o atual estado de espírito do grupo depois da derrota pesada contra a Alemanha. “A cara de quem ganha nunca é a cara de quem perde. Ficámos tristes e temos de encarar as coisas de forma realista. A cada dia que passa vamos pensando na próxima tarefa e essa agora é contra a França. Queremos dar uma imagem melhor do que no último jogo”, acrescentou.

“É normal que tenha de refrescar a equipa aqui ou acolá”, reconhece Fernando Santos, que diz que Portugal vence numa final com a Alemanha

Sobre os franceses de Didier Deschamps, Moutinho explicou que se trata de “uma equipa muito coesa”. “Defende com todos os homens e depois ataca com velocidade na frente. Já jogámos vários vezes contra eles. Não é uma final antecipada, é mais uma final. Queremos dar o nosso melhor”, afirmou, recusando-se depois a dar a própria análise sobre a possibilidade de Renato Sanches ser promovido à titularidade. “Não sou o treinador, essas questões são para o selecionador. Todos trabalhamos da melhor maneira e focados para dar o nosso melhor dentro de campo. Estamos aqui para ajudar a Seleção. Jogadores que entram e saem é para o selecionador. Cada jogador tem as suas características e cada um, quando é chamado, tem de ajudar a conseguir o resultado que ambicionamos”, referiu.

Por fim, o jogador do Wolves garantiu ainda que não existem “segredos” para a longevidade que já leva na carreira e não deu grandes esclarecimentos sobre uma hipótese que foi adiantada este domingo por Fernando Santos — a possibilidade de ser treinador quando deixar os relvados. “Não há segredos. É trabalhar como sempre trabalhei. Há que ter cuidados com o descanso e a alimentação para se ter uma carreira longa. As lesões não me têm acompanhado muito e isso é uma grande ajuda. Preparo-me bem para os treinos e para os jogos, de modo a ter uma boa performance e estar muito tempo neste mundo. Ser treinador? Penso nisso, mas não muitas vezes. Sinto-me bem para dar o meu contributo dentro de campo e depois pensarei noutra altura da carreira”, terminou João Moutinho.

Esta segunda-feira, a dois dias da partida decisiva contra França, a Seleção Nacional voltou a treinar no complexo desportivo do Vasas SC ao final da tarde e sob o intenso calor que se faz sentir por estes dias em Budapeste. João Félix já trabalhou totalmente integrado depois de ter falhado a partida contra a Alemanha por lesão mas Nuno Mendes, que também está a braços com uma mialgia muscular, ainda só realizou trabalho específico com o fisioterapeuta e alguma corrida. Os guarda-redes também trabalharam à margem e os restantes jogadores foram divididos em dois grupos, cumprindo alguns exercícios de troca de bola e depois uma espécie de jogo sem balizas. Adicionalmente, a Federação Portuguesa de Futebol revelou ainda que toda a comitiva foi sujeita a testes à Covid-19 durante este domingo e que todos testaram negativo.