A moda parece estar concentrada em manter a distância, mas há obviamente exceções e abertas pelos provocadores do costume. No último sábado, Domenico Dolce e Stefano Gabbana receberam convidados para aquele que foi o primeiro desfile com assistência em cerca de um ano. O espetáculo de luz e cor destacou-se na natural contenção que pauta a passerelle italiana, num momento em que o número de novas infeções está longe de dar tréguas, um pouco por toda a Europa.

Dentro de estúdios ou inserida em cenários idílicos, a moda masculina tomou conta de Milão durante cinco dias. Pesos pesados como Giorgio Armani, Prada e Fendi desfilaram lado a lado com marcas e criadores menos sonantes, incluindo os representantes portugueses Miguel Vieira e David Catalán. Enquanto Zegna e Fendi apresentaram uma paleta de tons pastel tendo a arquitetura como pano de fundo, Armani convidou um grupo restrito de pessoas a desfrutar do jardim da sua própria casa.

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Também a Etro se rendeu à envolvente natural — a marca italiana tomou conta de uma linha de comboio abandonada. Para a Prada, a relação com o design voltou a ser transportada para o próprio cenário. Foi num corredor vermelho intenso que Miuccia Prada e Raf Simons apresentaram as suas propostas para o verão de 2022. Recordamos os pontos altos de mais uma semana da moda masculina de Milão.

Ermenegildo Zegna

O designer Alessandro Sartori leva a cabo a tarefa de refrescar uma marca globalmente conhecida pela alfaiataria clássica e o progresso é flagrante. No vídeo divulgado há poucos dias, a Ermenegildo Zegna misturou o formato mais tradicional de desfile com momentos de performance, criando imagens distópicas em referência à atual pandemia, sempre com a arquitetura urbana como pano de fundo. O estilo Zegna sai revitalizado na coleção, com tonalidades de verde, azul e rosa pastel a abrirem o apetite de uma nova audiência, materiais como o linho e o cânhamo a trazerem leveza ao guarda-roupa estival. As peças podem não dispensar técnicas e construções complexas, mas a silhueta é agora marcada pela descontração e pelo conforto.

Fendi

Algo uniu os desfiles da Fendi e da Zegna. Além da geometria arquitetónica que lhe serviu de cenário, também Silvia Venturini Fendi começou por servir a coleção do próximo verão como se de uma bandeja de macarons se tratasse. Também aqui, a mira é apontada à última geração de consumidores de moda de luxo, rendidos a uma nova paleta masculina, mas também ao exagero de bolsos cargo em calções micro e aos cropped blazers, peça que, horas depois, já era o trunfo da Fendi para o verão que há-de vir. Poupada nos estampados, foi com cores lisas que a marca realçou os detalhes do vestuário. Incorporados nesta brisa estival surgiram ainda as malas Peekaboo e Baguette, clássicos infinitamente renováveis.

Dolce & Gabbana

Foi no último sábado que o desfile da Dolce & Gabbana voltou a ganhar contornos de espetáculo. Numa espécie de catedral psicadélica, resultado das coloridas luzes emprestadas pela tradição festiva da região de Puglia, no Sul de Itália (as mesmas usadas pela Dior no desfile da coleção cruise, há quase um ano), um grupo restrito de convidados voltou a sentar-se para assistir à apresentação. Se os primeiros coordenados exibiram os mesmos motivos coloridas da luminária, depressa a restante coleção resgatou referências do arquivo da própria marca, sobretudo dos anos 1990 e 2000, mas sem que o brilho e a cor arredassem pé. Um festival de luz que incluiu swimwear, gangas luxuosamente trabalhadas, fatos de treino e peças de alfaiataria, tudo à grande, à la Dolce & Gabbana.

Prada

Para Miuccia Prada e Raf Simons, a proposta é normalidade, um bem que tem escasseado nos últimos tempos mas que agora foi pertinentemente resgatado enquanto conceito da coleção primaverão-verão 2022. Mais do que coordenados balneares, cores gulosas ou peças virais (embora os pequenos calções-saia em malha tenham todo o potencial para isso), a marca italiana fez desfilar exemplares de alfaiataria, malhas confortáveis, hoodies, blusões de pele, chapéus bucket blazers de corte reto. A celebração do guarda-roupa de todos os dias, levemente colorida por riscas, padrões florais e padrões do século passado.

Giorgio Armani

As portas do palazzo abriram-se para 80 convidados. No número 21 da Via Borgonuovo — antiga sede do império Armani e atual residência pessoal do mestre italiano –, o criador apresentou um verão de matriz clássica, que mantém parte das suas raízes naquela que é a estrutura do fato masculino. Ainda assim, Giorgio Armani tem vindo a abrir a porta à descontração e a uma veia de sportswear. Estas são visíveis através dos bombers em linho, malhas aconchegantes e bermudas estampadas. No final, os manequins ocuparam o jardim, abrindo caminho para o designer que, regra geral, saúda a plateia sozinho. Pela mão trouxe Leo Dell’Orco, o seu braço direito. Aos 86 anos, o maestro pode estar prestes a passar o testemunho.