Sem público, mas cada vez mais ambientados ao circuito da moda milanesa, os criadores nacionais continuam a marcar presença naquele que é um dos mais relevantes calendários do pronto-a-vestir masculino. Durante cinco dias (a terminar a próxima terça-feira), Milão recebe dezenas de propostas de marcas reconhecidas, mas também de nomes emergentes, para o verão de 2022. Gigantes como Dolce & Gabbana, Fendi, Zegna, Prada e Armani antecipam-se às semanas da moda femininas e proporcionam um primeiro vislumbre do que será a estação quente do próximo ano.

Entre eles, voltou a estar o jovem David Catalán, a quem coube encerrar o alinhamento do último domingo. Um elevador de carga e a fachada de um armazém industrial foram o cenário escolhido pelo criador espanhol radicado em Portugal. Um claro contraste com uma coleção construída a partir de referências especialmente emocionais — “Madre” é um tributo do designer à própria mãe.

Mantendo uma base de workwear, onde predominam as gangas tingidas e os cortes de alfaiataria — uma marca do estilo Catalán –, o designer explorou a delicadeza de malhas e camisas leves. A enriquecer os coordenados, capuzes e pequenas gravatas decalcadas de memórias e fotografias da mãe a trabalhar na carpintaria, a mesma onde desenhava e produzia peças em vime, mas também no cenário rural onde cresceu. A paisagem acabou por ditar a paleta predominante na coleção — uma harmonia quente de beges e ocres que, apesar dos azuis que fecharam a apresentação, situam o verão de 2022 em terra, muito mais do que no mar.

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Imediatamente antes, Miguel Vieira pôs a tónica na cor. Num desfile preenchido por tonalidades açucaradas de rosas e azuis, o criador português voltou a partir de uma matriz de alfaiataria para, pontualmente, descontrair a silhueta masculina. Fê-lo através de padrões — onde o xadrez, os estampados animais e os elementos botânicos e de natureza saltaram à vista –, da fluidez de peças em seda (por oposição à estrutura do fato de corte clássico) e de cintos que adelgaçaram a silhueta criada por blazers de diferentes cortes.

Mas nem só da riqueza cromática vive a coleção “Cores do dia”. Paralelamente com uma paleta luminosa, o criador privilegiou materiais como a seda, o algodão mercerizado e lãs virgens. No final, o quadro é bem diferente daquele a que Miguel Vieira habitou o seu público ao longo de anos. O criador tem substituído o dualidade entre preto e branco pelo desbravar de cores e estampados, da mesma forma que se rendeu ao athleisure enquanto tendência macro. O resultado é hoje um guarda-roupa masculino mais permeável a elementos de moda, mas também mais versátil, e que se assume cada vez mais como o carro chefe da marca Miguel Vieira.

A semana da moda masculina de Milão termina esta terça-feira. Depois de Vieira e Catalán, que apresentaram as suas coleções com o apoio do Portugal Fashion, a moda portuguesa já tem regresso marcado à cidade italiana — em setembro, Alexandra Moura volta a pisar esta passerelle internacional.

Até lá, veja as imagens dos desfiles de Miguel Vieira e David Catalán na fotogaleria.