O terreno está a ser preparado para que a ‘cerca’ à Área Metropolitana de Lisboa (AML) se mantenha por pelo menos mais uma semana. Depois de Fernando Medina, esta quarta-feira foi a vez de Marta Temido vir explicar que o mais provável é mesmo que as “medidas específicas” para Lisboa, sendo uma área “de risco”, continuem em vigor.

Foi no aniversário do relatório de primavera do Observatório Português para os Sistemas de Saúde — cuja última edição, publicada na terça-feira, critica a gestão da pandemia em Portugal — que Marta Temido respondeu às questões dos jornalistas, dizendo que os números “levam a crer” que a situação de Lisboa “ainda não esteja ultrapassada”. Por isso mesmo, as medidas — que neste momento passam pela proibição de entrar e sair da AML ao fim de semana e à paragem no desconfinamento, que na última avaliação já não avançou em Lisboa — devem manter-se.

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O desconfinamento é, aliás, o processo que tem promovido algum desentendimento entre o Presidente da República e o Governo: Marcelo Rebelo de Sousa chegou a dizer que consigo não haverá recuo, mas o Governo dá menos certezas. Desta vez, Marta Temido prometeu que o Governo “tudo fará” para que não se ande para trás, embora sem garantias.

Resposta a Merkel: “Se soubéssemos o que sabemos hoje…”

A ministra da Saúde aproveitou a ocasião para responder a Angela Merkel, um dia depois de a chanceler alemã ter criticado a decisão de Portugal de receber adeptos britânicos durante a final da Liga dos Campeões, isto numa altura em que circulam variantes vindas de vários pontos do estrangeiro.

Temido admitiu que a circulação de pessoas é “um dos maiores desafios” que o país enfrenta — e que “se soubéssemos o que sabemos hoje”, em “determinados momentos”, o Governo teria tomado decisões diferentes — mas fez questão de sublinhar que “as mutações não ficam reservadas a um território” e que é preciso “segui-las com atenção”. Ainda assim, frisou, é expectável que Portugal, como o mundo, continue a estar exposto às mutações e novas variante.

Se a variante Delta já tem uma transmissão de 70% na região de Lisboa e Vale do Tejo (e terá uma transmissibilidade 60% superior à da variante britânica, por exemplo), os alarmes voltaram a soar esta terça-feira, quando o governo indiano anunciou que teria detectado uma nova mutação, a Delta Plus, que já estaria até presente em países como Portugal. Afinal, trata-se da mesma mutação nepalesa da Delta, já conhecida, e que Marta Temido confirmou estar presente em 24 casos em Portugal.

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Atraso nas vacinas é “marginal”, diz Temido

Nas mesmas declarações aos jornalistas, Temido comentou ainda a hipótese, admitida no Parlamento pelo vice-almirante Gouveia e Melo, de que a meta de vacinar com uma dose 70% da população até 8 de agosto se atrase por duas semanas. É um atraso “relativamente marginal” numa operação “desta dimensão” em relação ao prazo inicial, garantiu, apelando a que quem tiver oportunidade de ser testado aproveite sempre e a que quem for chamado para ser vacinado não falte.

Um terço dos doentes em cuidados intensivos com Covid-19 em Lisboa já tinha uma dose da vacina

Sobre a notícia do Público que hoje indicava que um terço dos internados em cuidados intensivos em Lisboa já tinham recebido a primeira dose da vacina, Temido lembrou que as vacinas são “efetivas e seguras, mas não são milagres” — é preciso tomar a segunda dose e esperar uns dias para maior eficácia. “O facto de as pessoas se vacinarem pode ser útil a terceiros. A consciência de que as nossas ações afetam os outros é o maior incentivo”, insistiu. Apesar do possível atraso na vacinação, Portugal está já a comprar vacinas para 2022 e 2023, a contar com uma provável necessidade de reforço das doses.