Numa altura em que os números da pandemia voltam a subir de forma preocupante em Lisboa e Vale do Tejo, um terço dos doentes internados em cuidados intensivos nos hospitais da região lisboeta são pessoas que já tinham tomado a primeira dose da vacina. Isto porque, apesar de a vacinação permitir esperar que os efeitos da doença sejam mais leves, nestes casos a proteção fica longe de estar completa.

Os números são esta quarta-feira revelados por João Gouveia, presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva, citado pelo Público. O especialista explica que este grupo de doentes ainda só tinha tomado a primeira dose da vacina, alguns deles “há pouco tempo”, o que pode ajudar a explicar porque é que, aparentemente, a vacinação não ajudou a proteger estas pessoas.

A vacinação trouxe outra novidade, explica o mesmo médico: o perfil dos doentes mudou e, com a população mais velha já protegida, os doentes internados (com base nos números estudados em Lisboa) são agora homens e mais jovens do que antes — mais de metade terá menos de 55 anos e na semana passada havia pessoas com menos de 25 anos e sem fatores de risco em risco de vida, ao mesmo tempo que os hospitais de Lisboa reforçam as camas de cuidados intensivos.

A solução? Para o especialista, acelerar o processo de vacinação e avançar com medidas para reduzir seriamente a transmissão, sobretudo em Lisboa, que concentra 70% dos casos críticos. É a mesma opinião que vários especialistas transmitiram esta semana ao Observador: com um R(t) em níveis preocupantes e a piorar sobretudo em Lisboa, no Algarve e na Madeira, voltar a fechar o país não será a solução — até porque a ligação entre o aumento de casos e o número de doentes e mortos não é direta — mas em Lisboa a maioria defende que é preciso aumentar restrições. Além disso, no geral, é urgente testar e vacinar mais.

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R(t) em níveis preocupantes. Transmissão do vírus agrava-se em todo o país, em especial no Algarve, Lisboa e Madeira

Entretanto, Lisboa é, segundo o relatório semanal da Direção-Geral da Saúde sobre vacinação, a região mais atrasada na vacinação completa, o que pode ajudar a explicar estes números. Em Portugal, 4.688.551 milhões de pessoas (ou 46% da população) já receberam pelo menos uma dose da vacina, enquanto 2.947.718 (29%) têm a vacinação completa.

Lisboa é a região mais atrasada na vacinação completa. 46% dos portugueses receberam pelo menos uma dose da vacina

Quanto à região de LVT, o número é um pouco mais baixo: 45% das pessoas já receberam pelo menos uma dose, mas apenas 24% estão totalmente vacinadas nesta região.