Afinal, a suposta nova mutação da variante Delta do coronavírus não é novidade: trata-se da mesma mutação que já era conhecida e identificada em Portugal como a “mutação nepalesa”, agora rebatizada pela Índia como “Delta Plus”.

O alarme surgiu depois de a Índia ter emitido, nesta terça-feira, um alerta para a disseminação de uma mutação da variante Delta, a tal Delta Plus, que já teria sido detectada em nove países, incluindo Portugal. Mas em declarações ao Observador, fonte oficial do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge explica que isto “não é nada de novo”.

“Numa primeira fase, chamaram-lhe mutação nepalesa, mas já está presente em Portugal há algum tempo”, detalha a mesma fonte, acrescentando que a prevalência desta mutação dentro da variante Delta é de 2,5%.  E, apesar de a Índia ter alertado para a sua “elevada transmissibilidade” e de haver estudos que indicam que poderá afetar de forma mais grave os pulmões, o INSA lembra que é cedo para confirmar esses elementos, frisando que a variante está identificada como sendo “de interesse” e a ser “monitorizada”.

Oito respostas sobre a K417N, a mutação do Nepal que afinal já existia e que sozinha não muda grande coisa

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De resto, esta mutação (que tecnicamente se chama K417N) já tinha sido identificada antes nas variantes da África do Sul e de Manaus, no Brasil, como explicava o Observador no início deste mês. Na altura, eram vários os especialistas que explicavam que, até então, não havia provas de que esta mutação fosse tornar a variante Delta mais perigosa do que era.

A Delta Plus, ou mutação nepalesa, é aliás a mesma mutação que fez parte dos argumentos do governo britânico para no início de junho ter decidido retirar Portugal da “lista verde”, ou seja, da lista de países considerados mais seguros, a partir dos quais era possível viajar para solo britânico sem fazer quarentena.

Portugal sai da lista verde do Reino Unido. Governo lamenta “decisão cuja lógica não se alcança”

Na altura, escassos dias depois de os adeptos britânicos terem vindo a Portugal assistir à final da Liga dos Campeões, o executivo de Boris Johnson justificou a decisão “ultra cautelosa” com o aumento dos números em Portugal e com a progressão da variante nepalesa em território nacional — um argumento que foi questionado por vários peritos portugueses, uma vez que a mutação não era considerada particularmente relevante. Assim, os turistas britânicos passaram a ter de fazer uma quarentena obrigatória de dez dias e vários testes depois de regressar a casa.

Em resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, veio aliás questionar a decisão britânica, dizendo ver ali uma opção “intempestiva” e tomada com base numa “irrelevância estatística”.

Índia eleva grau de preocupação, especialistas duvidam

No alerta emitido esta terça-feira, o governo indiano explicava que esta mutação já teria sido detetada em nove países, incluindo Portugal, e em três estados indianos.

Em comunicado, citado pela Reuters, o Ministério da Saúde indiano indicou que a variante Delta Plus demonstrou uma elevada transmissibilidade, daí que todos os estados onde a mesma foi identificada tenham sido aconselhados a tomar medidas para travar a sua disseminação, nomeadamente através do aumento da testagem.

O Hindustan Times, tendo por base as conclusões conhecidas até agora por parte do Insacog (um consórcio de laboratórios que estuda o coronavírus e as suas mutações), refere que a Delta Plus, além da possibilidade de se transmitir mais rapidamente do que outras variantes, poderá afetar os pulmões com mais intensidade e, possivelmente, poderá reduzir a capacidade dos anticorpos para a neutralizar. No entanto, todas estas questões ainda estão a ser analisadas e ainda parece cedo para tirar conclusões, tendo em conta que existem poucos casos identificados e analisados até agora.

Entretanto, esta quarta-feira, uma notícia da BBC explica que a Índia classificou a Delta Plus como “uma variante que merece preocupação”, uma decisão que se toma quando é preenchido um critério de uma lista que inclui fácil transmissibilidade, doença mais grave ou eficácia reduzida dos tratamentos. Esta classificação está, no entanto, um grau acima da “variante de interesse” estabelecida pelos especialistas portugueses.

De resto, os virologistas britânicos citados pela BBC questionam a classificação pelos indianos, argumentando que não há dados suficientes para provar que a mutação torna esta variante mais perigosa.

Texto atualizado no dia 23 de junho, às 11h31, com declarações do INSA e novas explicações sobre a mutação Delta Plus.