A vacinação nas faixas etárias acima dos 18 anos vai começar dentro de duas semanas, a 4 de julho, anunciou esta quarta-feira o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo. O responsável pela task force para a vacinação contra a Covid-19 esteve na Comissão de Saúde da Assembleia da República, numa participação por vídeochamada, e garantiu que “dentro de duas semanas vamos ter todas as faixas etárias em processo de vacinação”.

Esta é a boa notícia. A má notícia é que, mesmo assim, Portugal pode falhar a data que havia apontado para alcançar os 70% de pessoas vacinadas com pelo menos uma dose contra a Covid-19 — 8 de agosto. Henrique Gouveia e Melo informou que a escassez de vacinas, com a qual admitiu estar preocupado, adiará em duas semanas a meta inicialmente delineada. A nova data apontada pelas autoridades de saúde é agora 20 de agosto: “Usaremos todos os stocks que temos para conseguir atingir essa meta até 8 de agosto, mas eventualmente poderá ser mais tarde”, avisou.

Aliás, a abertura do processo de vacinação a todas as faixas etárias é reflexo de um esforço para enfrentar uma possível quebra no ritmo de inoculações. Até agora, no que dizia respeito às faixas etárias acima dos 50 anos, a task force abria a vacinação a uma dada faixa etária quando 60% a 70% dos indivíduos no grupo etário acima já estavam inoculados com pelo menos uma dose. Mas na tentativa de colmatar o problema da escassez das vacinas, e no que toca às faixas etárias abaixo dos 50 anos, neste momento inicia-se a vacinação numa dada faixa etária quando o grupo etário acima tem apenas 40% dos indivíduos inoculados.

Escassez de vacinas dificulta processo de vacinação

Numa intervenção inicial no Parlamento, Gouveia e Melo garantiu que os problemas na vacinação não aparecem “por falta de capacidade dos nossos sistemas”, mas antes “porque não temos vacinas suficientes”. “Os planos têm sido sempre revistos em baixa e os prazos de entrega puxados para a frente”, lamenta: “Estamos a vacinar o máximo que podemos. Temos stocks muito limitados”.

Além da falta de vacinas, o outro problema é que a disponibilidade dos stocks é “irregular”, explica: há trimestres que começam por ter falta de doses e acabam com um ritmo superior, o que torna a situação imprevisível e “dinâmica”.

Por exemplo, o vice-almirante revelou que a previsão inicial era o país receber 11 milhões de vacinas no segundo trimestre, mas só 7,2 milhões de vacinas puderam ser utilizadas. Do total, 1,4 milhões de vacinas chegarão nos últimos dois dias no trimestre e, por isso, vão transitar para os próximos três meses. Em julho, altura em que estava prevista a chegada de 800 mil vacinas da Janssen, Portugal só vai receber 164 mil — uma queda abrupta que está na origem das preocupações do vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.

Outra preocupação “forte”, explica o militar, é com a variante Delta, uma vez que estudos britânicos indicam que uma dose da vacina da AstraZeneca só tem 30% de eficácia contra a variante — mais uma razão para acelerar toma desta vacina, explica.

Portugal poderá vacinar até 140 mil por dia com alargamento de horários

O problema é, portanto, a falta de vacinas e não a capacidade de vacinação, assegurou Gouveia e Melo. Garantindo estar a fazer “o melhor” que pode, o vice-almirante confirma as projeções já conhecidas da vacinação (47% da população já recebeu a primeira dose, perto de 30% a segunda) e diz que o país num momento de “aceleração do processo de vacinação” — embora com a preocupação de “equilibrar as regiões” e as doses que recebem.

O coordenador da task force congratula-se por esta semana ter sido possível, pela primeira vez, fazer “de forma sistemática” mais de 100 mil inoculações por dia, uma capacidade que está “testada” e comprovada. Aumentando os horários, sublinha, Portugal poderá vacinar até 140 mil por dia.

Henrique Gouveia e Melo afirmou ainda que não há falta de recursos humanos para a vacinação, também graças ao apoio das autarquias e ao trabalho “sem mácula” dos enfermeiros. Tem dúvidas sobre como é que os recursos humanos vão reagir à chegada da época de verão (em que há mais marcação de férias) e ao cansaço dos profissionais de saúde, mas tem “promessas” de que eles vão ser mantidos ou mesmo reforçados durante o verão.

“Metodologia Casa Aberta” permite vacinar sem agendamento e durante as férias

Para facilitar o processo de vacinação, nos casos de quem não se é chamado para tomar a segunda dose da vacina, em algumas freguesias do país as autoridades estão a pedir à população que se dirija aos centros de vacinação sem agendamento a partir de uma certa hora, caso tenha sido vacinada num determinado período de tempo.

Outra estratégia é a “Metodologia Casa Aberta”, uma modalidade em que alguém vacinado com a primeira dose num determinado centro de vacinação pode receber a segunda dose noutro local. Outra possibilidade é ser completamente vacinada antes das férias ou receber a segunda inoculação quando regressar a casa. É este o plano da task force para enfrentar a mobilidade que as férias de verão motivam.

Além disso, ao domingo, único dia da semana em que costuma  haver uma grande quebra no processo de vacinação, as autoridades de saúde vão aumentar no ritmo de vacinação. Isso já foi feito no passado para elevar o ritmo de inoculações administradas às segundas e terças-feiras, que no início do processo de vacinação também registavam quedas abruptas na administração das doses.