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Nesta cozinha não entram homens. “The Future of Food is Female” regressa com jantares temáticos “para dar palco às mulheres”

Este artigo tem mais de 2 anos

Jenifer Duke, fundadora do projeto, fala em falta de oportunidades na carreira e em desequilíbrio na presença de mulheres na cozinha. Próxima edição de jantares arranca já esta segunda-feira.

Os jantares acontecem todas as segundas de julho no Queimado, dentro do hotel Esqina © Queimado/Facebook
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Os jantares acontecem todas as segundas de julho no Queimado, dentro do hotel Esqina © Queimado/Facebook

Os jantares acontecem todas as segundas de julho no Queimado, dentro do hotel Esqina © Queimado/Facebook

“Porque é que eu não chamei a este evento ‘The Future of Food is People’?” — a questão é de Jenifer Duke, dona da loja e bar de vinhos Rebel Rebel, em Lisboa, e fundadora do projeto The Future of Food is Female. A resposta? “Porque estamos em Portugal, e porque aqui o problema tem uma dimensão maior. Há muito poucas mulheres com lugar de destaque e a fazer carreira na gastronomia. É preciso mudar, é preciso agitar mentalidades”. O futuro, esse que Jenifer quer ajudar a construir no mundo da gastronomia, “tem de passar também pelas mulheres” e o seu evento, que chega agora à quarta edição, vai juntar na cozinha do Queimado mulheres chefs de várias nacionalidades para cozinharem, todas as segundas-feiras de julho, um menu temático. O primeiro jantar acontece já esta segunda-feira, dia 5.

Nasceu e viveu nos Estados Unidos e, antes de se ter mudado para Lisboa, passou por Berlim onde começou a sua empreitada pelos vinhos naturais à qual se dedica agora. Antes disso, Jenifer trabalhou em recursos humanos, em altos quadros de empresas, o suficiente para “ver muita coisa errada nas hierarquias e na forma como as mulheres têm acesso ao mercado de trabalho em todas as áreas”.

Ao longo dos últimos dez anos em que esteve envolvida na carreira de recursos humanos, Jenifer tentou — em áreas que iam desde o governo ao investimento bancário — lutar pela igualdade de género e igual acesso de oportunidades. Mas “é um problema sistémico”, diz. “E na carreira gastronómica é muito visível. É sistémico as mulheres serem constantemente esquecidas nesta área, que não lhes seja dada a oportunidade de mostrarem as suas capacidades. Há tantos estereótipos associados à mulher que enerva”.

Jenifer Duke é norte-americana e veio para Lisboa para abrir uma loja de vinhos naturais. Pelo meio criou o Triple F ©DR

Para Jenifer, um dos grandes problemas é o quão fechado está o “círculo da gastronomia” nas cidades, acabando por cair na contratação fácil e, consequentemente, pela contratação “sempre das mesmas pessoas, quase sempre homens”, diz. “Quem gere um negócio tem esse problema em pensar a longo prazo e prefere contratar a opção mais fácil, pessoas que já estão em quase piloto automático nas cozinhas — normalmente homens formados. Mas não pensa no facto de poder estar a educar uma nova geração de chefs”.

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A mulher, cujo papel social e familiar sempre foi associado à cozinha, deixa de estar associada a este espaço quando se fala em carreira, “é incompreensível que isto aconteça”, refere.

Se os homens pudessem, por momentos, superar os seus egos e dar um passo atrás para pensarem — quem é que vos criou? Quem é que vos deu à luz? Quem é que vos alimentou? São mulheres! Porque é que continuamos a dar às mulheres o lugar de fala na cozinha de casa mas não lhe damos o mesmo respeito nas cozinhas dos restaurantes? É muito frustrante mesmo”.

“A minha resposta é simples: temos de começar por algum lado e esse lado são as mulheres. Desde que não sejas um homem cisgénero podes participar. Eu não sou polícia do género, estou a dar às pessoas que não são masculinas uma oportunidade de mostrarem os dotes delas”, afirma.

A ideia de criar um evento onde não entravam homens na cozinha surgiu de “forma aleatória” e como resposta ao “prazer em organizar eventos” que Jenifer sempre teve. “Comecei com uns eventos na minha loja de vinhos, mas depois percebi que queria fazer uma coisa colaborativa e por que não juntar só mulheres trabalhadoras e inspiradoras e dar-lhe esse lugar de destaque na cozinha? Foi o impulso que me deu para criar o Triple F [The Future of Food is Female]”.

O cartaz foi anunciado no Instagram onde Jenifer faz grande parte das comunicações sobre o evento ©Triple F/Instagram

O primeiro aconteceu a 10 de março de 2019, no Café Boavida, e ainda nesse dia Jenifer foi bombardeada com questões. “Quando é que voltas a fazer outra edição? Posso participar na próxima? Devias fazer isto mais vezes e convidar esta e aquela chef”, conta. “Eu nunca pensei que tivesse o impacto que teve na altura, confesso. Ainda por cima porque é um meio mais fechado e poucos me conheciam”.

Depois do sucesso da primeira, acabou por mergulhar de cabeça na sua loja de vinhos e o projeto ficou “on hold”, um hiato prolongado pela primeira vaga da pandemia em 2020. O Triple F só voltou em agosto numa ação especial feita na Fábrica Musa, em Marvila, e repetiu a dose em dezembro, voltando agora para “dar de novo palco às mulheres”.

“Eu podia ter chamado ao evento ‘The Future of Food is People’ se estivesse em Berlim ou assim, mas aqui ainda há um longo caminho pela frente no que diz respeito à compreensão e aceitação do papel da mulher, isto para não falar de pessoas não binárias, trans, LGBTQ. Portugal ainda não está lá”, admite. “Portugal está definitivamente atrás no que toca a esta questão do equilíbrio nas cozinhas também”.

Mulheres ao comando e uma ronda de jantares temáticos

Quando a nova edição do The Future of Food is Female foi anunciada, Jenifer notou que havia padrões de estilos de cozinha e, desta vez, decidiu que o Triple F ia assentar em menus temáticos, onde maioritariamente as chefs participantes têm raízes ou ligação às respetivas zonas do globo. A primeira noite, esta segunda, dia 5, terá um menu asiático com as chefs Anh Dao (raízes no Vietname) e Victoria Nabi (influências do Camboja), seguindo-se uma noite dedicada à comida portuguesa no dia 12, um menu latino-americano no dia 19 de julho e o último estará focado na comida francesa. As chefs das restantes segundas-feiras vão sendo anunciadas semana a semana no Instagram do Triple F.

Anh Dao (esquerda) e Victoria Nabi (direita) são as chefs do primeiro jantar cujo tema é menu asiático ©DR

Algumas das mulheres vivem em Lisboa, mas esta é a primeira vez que Jenifer está a pagar viagens a algumas chefs estrangeiras que vão estar nos eventos ao longo do mês. “Era um dos objetivos onde queria chegar, conseguir trazer pessoas de fora a Lisboa”, diz. “A questão que noto cá é que muitas mulheres não estão disponíveis para entrar nesta indústria, ou não se sentem à vontade porque têm os seus projetos e nunca cozinharam numa cozinha profissional. Acho que grande parte da culpa é precisamente porque nunca lhes dão oportunidade para tal”.

Os menus são divulgados na sexta-feira anterior ao evento e terão sempre entre sete a oito pratos — tudo pensado para a partilha — para que cada chef consiga ter mais do que uma especialidade sua na carta — também os preços serão amigáveis (4-12 euros), “para que as pessoas possam provar o mais possível”, diz Jenifer.

Os menus temáticos serão acompanhados de vinhos naturais também eles produzidos por mulheres — e à venda na Rebel Rebel —, pelos cocktails de Cheila Tavares, que já passou pelo bar Machimbombo, e ainda pela Fiz Kombucha, de Ana Jungen, que tem estado presente já nos vários eventos Triple F.

As reservas podem ser feitas no site do Queimado para qualquer um dos eventos já agendados.

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