As buscas realizadas às instalações do Novo Banco na sequência da operação Cartão Vermelho levaram à apreensão de 190 mil dólares (cerca de 161 mil euros ao câmbio desta terça-feira) em dinheiro vivo. Este valor estava guardado num cofre do Novo Banco alugado e controlado por Luís Filipe Vieira.

Os fundos em dinheiro vivo foram apreendidos de imediato por se suspeitar da alegada origem ilícita do mesmo.

Luís Filipe Vieira conseguiu reestruturar a dívida do seu grupo Promovalor ao Novo Banco, avaliada em cerca de 400 milhões de euros, por não ter recursos suficientes para pagar a mesma. Além de ter recomprado, por alegado intermédio do empresário José António dos Santos, uma dívida da Imosteps de 54 milhões por cerca de 9 milhões de euros — um desconto superior a 80%. Contudo, tinha depositado no passado dia 7 de julho os referidos cerca de 190 mil dólares em dinheiro vivo num cofre do mesmo banco.

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Ao que Observador apurou, Vieira costumava enviar um funcionário de uma empresa sua para movimentar o cofre, fosse para ali guardar dinheiro vivo, fosse para levantar algum do numerário que ali estava.

Na residência de Luís Filipe Vieira também foi apreendido dinheiro vivo, mas em valores reduzidos. Além de cerca de 2.300 dólares, foi igualmente detetado numerário em kwanzas (moeda de Angola), meticais (moeda de Moçambique) e em reais (moeda do Brasil).

Advogado de Vieira diz que foi o reembolso em dinheiro vivo de um empréstimo feito em cheque

Contactado pelo Observador, o advogado Manuel Magalhães e Silva confirmou a apreensão realizada e explicou a origem dos fundos guardados pelo seu cliente. “Em determinado tempo e circunstância, o sr. Luís Filipe Vieira emprestou 250 mil dólares ao sr. Mário Dias através de um cheque do BCP. Um dia, no regresso de uma viagem a Angola, o sr. Dias reembolsou o sr. Vieira em numerário — valor esse que foi guardado nesse cofre. Restam cerca de 190 mil dólares que foram apreendidos durante as buscas”.

Mário Dias morreu em novembro de 2020. Construtor civil e amigo próximo de Luís Filipe Vieira, ficou conhecido por ter sido o homem que liderou a obra de construção do novo Estádio da Luz, tendo sido dirigente do Sport Lisboa e Benfica e administrador da Benfica Estádio, SA — uma subsidiária do Sport Lisboa e Benfica, Sociedade Anónima Desportiva.

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Além de garantir que estes factos podem ser confirmados pelo filho de Mário Dias e pelo BCP (banco a que pertence a conta que foi sacada com o cheque emitido por Vieira), Magalhães e Silva acrescentou ainda que o reembolso foi feito por Mário Dias “em duas ou três tranches”, tendo o último pagamento ocorrido “há cerca de três anos”.

O Observador confrontou ainda o advogado com a informação de que Luís Filipe Vieira teria enviado um funcionário seu para depositar e levantar numerário do cofre do Novo Banco agora apreendido. Magalhães e Silva diz que tal pode ser explicado pelo facto de “Tiago Vieira, filho do sr. Vieira, ir muitas vezes aos Estados Unidos e ter feito pedidos regulares ao pai e à mãe de 400, 500 ou mil dólares para cada uma das viagens”, afirma.

Novo Banco diz que a lei não obriga a conhecer o conteúdo dos cofres

Questionados pelas autoridades presentes no ato da buscas, responsáveis do Novo Banco garantiram desconhecer por completo o conteúdo do cofre controlado por Luís Filipe Vieira. Contactada pelo Observador, fonte oficial do banco não quis fazer comentários.

Ao que o Observador apurou, a lei de combate ao branqueamento de capitais impõe severas regras de compliance às instituições financeiras mas exclui os cofres. Assim, os bancos não são obrigados a saber o conteúdo dos valores que os clientes depositam nos respetivos cofres alugados. Logo, não há nenhum registo de quando e como aquele dinheiro vivo foi depositado naquele cofre por Luís Filipe Vieira, nem se sabe qual o valor total que foi guardado. “Não sabia nem tinha de saber. Era o que faltava! Os bancos limitam-se a dar a chave do cofre que é alugado”, explica Manuel Magalhães e Silva, advogado de Luís Filipe Vieira.

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Rei dos Frangos não guardava dinheiro vivo em cofre mas sim em sacos de supermercado

Esta não foi a única situação em que as autoridades apreenderam quantidades significativas de dinheiro vivo durante as operações de busca do passado dia 7 de julho. Além do numerário apreendido a Vieira, também José António dos Santos viu o Ministério Público apreender-lhe por ordem do juiz Carlos Alexandre cerca de um milhão e 130 mil euros em dinheiro vivo.

O “Rei dos Frangos”, nome pelo qual é conhecido José António dos Santos, tinha 400 mil euros em notas numa mala, 200 mil euros num saco do Pingo Doce, 110 mil euros na gaveta da secretária do seu escritório e mais dois sacos do Museu do Hospital das Caldas da Rainha com 150 mil euros.

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José António dos Santos é igualmente presidente do Conselho de Administração da Caixa Agrícola de Crédito Mútuo da Lourinhã. Esta terça-feira, a Caixa Central do Crédito Agrícola manteve a confiança no empresário que é suspeito de burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

“O caso em apreço está a ser investigado pelas entidades competentes. A Caixa Central continuará naturalmente atenta ao seu desenvolvimento. E exercerá os deveres que tem em função da gravidade eventualmente detetada incluindo a reavaliação superveniente, se necessário”, garantiu fonte oficial da Caixa Central do Crédito Agrícola ao jornal Eco.