Erftstadt, 17 de julho de 2021. O homem que ambiciona ser o próximo chanceler da Alemanha, e que é já o sucessor de Angela Merkel na liderança do partido (CDU), é apanhado a rir-se na pior altura possível, no pior dos cenários. Erftstadt, na Renânia do Norte-Vestfália, foi uma das cidades alemãs mais afetadas pelas cheias que já fizeram mais de 100 mortos e, de um dia para o outro, acordou submersa. Durante uma visita do Presidente alemão ao local, quando falava das vítimas, em tom solene e pesado, Armin Laschet é apanhado em segundo plano, a vários metros de distância, a rir-se.

Uma cidade submersa, perto de 1300 desaparecidos e os alertas que não evitaram uma tragédia. As cheias mortais da Alemanha

As críticas, de políticos e de populares, foram rápidas e certeiras, e Armin Laschet — primeiro-ministro do estado da Renânia do Norte-Vestfália — foi igualmente veloz a desculpar-se, assumindo ter tido uma postura “inapropriada”. O pedido de desculpas foi publicado nas redes sociais.

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“Agradeço ao Presidente pela sua visita. O destino das pessoas afetadas está nos nossos corações”, escreveu Laschet no Twitter. “Lamento a impressão que foi criada através de uma conversa. Isso foi inapropriado e eu sinto muito”, acrescentou, referindo-se ao momento imortalizado pelas câmaras.

O que se vê, afinal? O vídeo que correu as redes sociais mostra, em primeiro plano, Frank-Walter Steinmeier, Presidente da Alemanha, a falar da tragédia que afeta o país em tom pesaroso.

Ao longe, a vários metros de distância, numa zona de bastidores, vê-se Armin Laschet a rir-se, enquanto conversa com, pelo menos, dois colegas de partido: Gregor Golland, vice-presidente da CDU na Renânia do Norte-Vestfália, e Frank Rock, administrador de Rhein-Erft-Kreis, o distrito onde fica Erftstadt.

Depois de Laschet, também Rock apresentou o seu pedido de desculpas. “Ontem chorei com os afetados, mas também me ri numa breve situação. Se magoei os sentimentos das pessoas ao fazê-lo, peço desculpas. Até o administrador de distrito é humano e comete erros.”

Mais à frente, se a gravação for vista até ao final, acontece o contrário. Enquanto Armin Laschet está em frente às câmaras, a falar com um semblante carregado sobre a tragédia, é o Presidente Steinmeier que é visto a rir em pano de fundo (a partir do minuto 9), mas de forma menos efusiva.

As críticas partidárias chegaram de várias frentes e centraram-se no candidato a chanceler da Alemanha. “Estou realmente sem palavras”, escreveu o secretário-geral do SPD (Partido Social-Democrata), Lars Klingbeil, no Twitter, partilhando o vídeo do momento. O vice-presidente do partido social-democrata alemão, Kevin Kühnert, seguiu as pisadas de Klingbeil, num tom mais mordaz: “Uma questão de caráter.”

Hans Decruppe, presidente do grupo parlamentar de Die Linke (A Esquerda) no conselho distrital de Rhein-Erft, também condenou o sucedido e considerou o comportamento de Laschet “indigno e impróprio”.