Existem grandes motivos para toda a atenção que tem sido dada a Wally Funk, mulher de 82 anos que acompanhará Jeff Bezo, o homem mais rico do mundo, na primeira viagem turística espacial da Blue Origin.

Esta terça feira decorrerá a descolagem da nave e a ex-piloto de aviões, primeira investigadora de segurança aérea do National Transportation Safety Board (NTSB) e primeira inspetora da Federal Aviation Administration (FAA) será a pessoa mais velha a viajar no espaço.

Depois de Richard Branson, é a vez de Jeff Bezos ir ao espaço, numa viagem com muito simbolismo e que promete ser histórica

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O multimilionário publicou nas suas redes sociais o vídeo do momento em que revelou a Funk que iria faria parte da tripulação de um dos seus foguetões e que orbitaria em torno da Terra – tornando-a na astronauta que sempre quis ser. Nesse mesmo vídeo ficamos a saber que Wally Funk é piloto desde os seus 19 anos, que já soma 19.600 horas de voo e que já ensinou mais de 3.000 outras pessoas a pilotar. Contudo, nunca foi capaz de cumprir o seu maior sonho, ainda que tenha demonstrado habilitações para tal. Porquê? Por ser mulher.

Segundo o jornal britânico The Telegraph, em 1961, Mary Wallace “Wally” Funk, com apenas 21 anos e já com o cargo de instrutora profissional de aviação, aderiu ao programa “Mulheres no Espaço” — um projeto inspirador que, na realidade, nunca conseguiu cumprir o seu objetivo e enviar uma mulher para o espaço. Foi o primeiro “não” recebido pela ex-piloto no que toca à sua vida de astronauta. Ainda assim, nunca desistindo, entrou num programa da NASA projetado provar que as mulheres também eram capazes de serem submetidas aos mesmos testes físicos e psicológicos a que os astronautas masculinos são sujeitos.

Este projeto foi bem sucedido e 13 mulheres provaram que podiam passar nos mesmos testes rigorosos que os homens. Mas nada aconteceu depois disso. Inclusive, a equipa ficou conhecida por Mercury 13 e observaram, de terra, as descolagens e os voos realizados pelos astronautas masculinos da NASA. A segunda negativa ao sonho de Funk. Foi então que se dedicou à carreira de piloto, por ter percebido que o seu género era um entrave à vida de astronauta, e que, mais tarde, veio a assumir os altos cargos na FAA e no NTSB.

1979 foi outro ano em que o espaço parece ter aberto portas a Funk —  a NASA anunciou que estava, pela primeira vez, a aceitar candidatas de astronautas do sexo feminino. Candidatou-se quatro vezes, mas nunca conseguiu ser aprovada, em grande parte por causa de sua idade — tinha já 40 anos. Decidiu então que tinha sido a sua terceira e última desaprovação e começou a juntar dinheiro para que conseguisse comprar uma viagem. Já não se importava por não ser astronauta e sim uma turista espacial, apenas queria concretizar o seu sonho, acrescenta o jornal britânico The Guardian.

Mas não foi necessário a partir do momento em que Jeff Bezos entrou na sua vida e lhe ofereceu uma viagem a bordo da sua nave da Blue Origin, que parte esta terça-feira. Num outro vídeo das suas redes sociais, podemos ver o momento em que Wally participa nos testes e simuladores enquanto experimenta material que utilizará durante a sua viagem espacial. Segundo Bezo, a futura astronauta esteve melhor do que os qualquer um dos homens da tripulação. O entusiasmo é notável, bem como o sentimento de “missão cumprida”.

Parece que, finalmente, a futura astronauta conseguiu vencer os estereótipos sociais. Enquanto que na década de 1960 o problema era ser do género feminino e na década de 80 o problema era ter mais de 40 anos, em 2021 não surgiu qualquer uma destas questões como entrave. Wally termina com a esperança de que as mulheres se sintam inspiradas e que sigam os seus passos.