O Presidente da Tunísia, Kais Saied, decretou na terça-feira a exoneração de cerca de 20 altos funcionários governamentais, poucos dias depois da destituição do primeiro-ministro, Hichem Mechichi, e da suspensão do parlamento por um período de 30 dias.
Desde o domingo passado, e após uma jornada de manifestações de protesto em todo o país, Kais Saied avançou com várias “medidas excecionais”, que também envolveram o afastamento dos ministros interinos da Defesa e da Justiça, Ibrahim Bartaji e Hasna Ben Slimane, respetivamente.
Estas medidas, justificadas pelo Presidente pela necessidade “de recuperar a paz social e salvar o Estado e a sociedade”, estão a ser classificadas como um “golpe de Estado” pela maioria dos partidos políticos tunisinos.
Na lista de responsáveis exonerados, publicada na terça-feira no Diário Oficial do Estado tunisino, constam, entre outros, o Procurador-Geral da República, o secretário-geral do Governo, o diretor de gabinete da presidência do Governo, o chefe da Autoridade Geral para os Resistentes, Mártires e Feridos da Revolução e Operações Terroristas e ainda vários conselheiros do ex-primeiro-ministro.
Num comunicado de imprensa, o partido islamita Ennahda, a principal força política no parlamento tunisino e parceiro do Governo, defendeu, na segunda-feira, um diálogo político para ultrapassar a crise e o clima de instabilidade que se instalou no país, apelando a Kais Saied para reconsiderar as medidas assumidas.
A formação política conservadora exortou igualmente os cidadãos a não saírem para as ruas em novos protestos, admitindo recear o surgimento de conflitos civis. Também defendeu a realização de eleições legislativas e presidenciais antecipadas para proteger o processo democrático e evitar um regime autocrático.
No domingo, vários milhares de tunisinos manifestaram-se contra os dirigentes do país, nomeadamente contra o partido islamita Ennahdha, maioritário no parlamento e apoiante do então primeiro-ministro, Hichem Mechichi. Os protestos decorreram em várias cidades do país, apesar do amplo dispositivo policial mobilizado para limitar os movimentos dos manifestantes.
Milhares de manifestantes protestam contra a classe política na Tunísia
“A Constituição não permite a dissolução do parlamento, mas permite que se congelem as suas atividades”, declarou, no domingo, Kais Saied, apoiando-se no artigo 80.º da lei fundamental tunisina, que admite essa situação em caso de “perigo iminente”.
Em 2011, a Tunísia iniciou a transição democrática com a designada “Revolução do Jasmim”, que levou ao fim do regime de Zine El Abidine Ben Ali, no poder há duas décadas, e originou um total de dez Governos, incapazes de solucionar a grave crise económica e social do país.
A crise política tunisina está a ser acompanhada com preocupação e com grande atenção pela comunidade internacional, que tem pedido contenção da violência e um regresso da estabilidade, incluindo em França, antiga potência colonial, que já apelou ao regresso do “normal funcionamento das instituições”.