Este sábado, 31, arrancou na Madeira a vacinação de jovens a partir dos 12 anos, sendo esta a primeira região a começar a inocular indivíduos a partir dessa idade. Ao longo do chamado “open day” de vacinação, que começaria oficialmente às 13h, a Madeira conseguiu inocular 1207 jovens numa tarde, números a que o jornal Público teve acesso, sendo que 368 tinham idades entre os 12 e os 15 anos e 839 entre os 15 e os 17 anos. Na próxima quarta-feira, dia 4 de agosto, haverá mais uma jornada de vacinação para estes jovens, sem necessidade de agendamento.

Centenas de adolescentes residentes na Madeira afluíram este sábado bem cedo ao Centro de Vacinação do Funchal para serem vacinados contra a Covid-19. “Começamos antes da 09h”, disse a enfermeira Ana Gouveia, responsável pela estrutura de vacinação, realçando que o pessoal teve de “reorganizar-se” porque a operação de vacinação estava prevista para começar pelas 13h. A responsável salientou que “logo que o centro abriu tinha pais e adolescentes para serem vacinados” e foi preciso “reorganizar termos de equipas, espaço, distribuição, preparação de vacinas”.

“Começamos logo a vacinar. Não podíamos perder esta oportunidade”, realçou Ana Gouveia, argumentando que as pessoas “não viram bem que era a partir das 13h”. A enfermeira Ana Gouveia salientou que o processo de vacinação foi desencadeado e “cerca de 100 pessoas desta faixa etária, entre os 12 e os 17 anos, estava vacinada em menos de meia hora”.

Ana Gouveia salientou que as autoridades regionais de saúde “já estavam a prever que a adesão à vacinação fosse boa”, tendo em conta os telefonemas recebidos, todas as questões colocadas e o facto de a “população madeirense aderir bem à vacinação”. Complementou que “ao longo dos últimos dias já havia a preocupação de muitos pais que queriam ver os filhos vacinados antes dos 17 anos”.

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Antes das 13h, a hora marcada para ter início a ‘casa aberta’ de vacinação no Funchal, centenas de pessoas aguardavam em longa filas pela sua vez. Entre estes, uma jovem de jovem de 17 anos em lágrimas — não porque não pretendia ser vacinada, mas por “ter medo de agulhas desde criança”, assegurou à agência Lusa, vincando que concordava com a administração da vacina porque “é mais seguro para todos”.

A mãe, Alexandra Mendes, acompanhava-a, confirmou o medo da filha, e opinou que esta é “uma boa medida”, acrescentando que, sendo profissional de saúde, é preciso levar em conta que os jovens “vão voltar à escola e vão estar tudo juntos”.

Também Josef Sechava, um emigrante da Venezuela, que estava junto do filho José André, com 12 anos, para ser inoculado, admitiu ter “falado com amigos de vários países sobre a situação” e chegou à conclusão que “há mais benefícios em ter a vacina do que não ter”. “Há muitas teorias e divergências, mas eu queria ser vacinado e foi também uma decisão de família, mas sinto-me mais seguro”, declarou José André, garantindo não ter “qualquer receio”.

Dois irmãos, Pedro e Laura Rodrigues, ele com 15 anos e ela com 17, estavam acompanhados pelo pai, que, apesar de considerar “não ser o momento para ser vacinado”, aceitou a decisão dos filhos, sustentando que “são livres para tomar as suas opções e avaliar a situação”. Laura opinou que a vacinação permite que “o próximo ano escolar seja mais seguro e não seja preciso voltar às aulas à distâncias, que são muito prejudiciais”, tendo o irmão (Pedro) complementado que esta é uma forma de se “sentir mais seguro”.

Tiago Batista com 13 anos também vincou que a vacinação “é uma proteção” para si e para “os que estão à sua volta”, reforçando a mãe, Ana Batista. Para a mãe, Ana Batista, esta medida “é uma mais-valia para tornar possível retomar a vida normal, um ano letivo com aulas presenciais” e defende que “os jovens hoje estão muito bem informados sobre a situação da pandemia”.

Mariana Leça, com 17 anos, tinha acabado de ser inoculada e afirmou que “esta é uma boa medida porque todos sabem que a Covid-19 afeta também os jovens e muitos, ultimamente, têm sido infetados”. “A vacinação vem criar uma imunidade maior e é uma forma de nos protegermos e à nossa família”, realçou a jovem.

Natacha Leça também foi vacinada e enfatizou que esta é uma “medida certa”, falando da “confiança nos médicos”, embora considere que “há o perigo de ainda não terem sido administradas as vacinas entre os 20 e os 22 anos.

Adolescentes da Madeira deram “sinal de maturidade”

Os adolescentes da Madeira deram “um sinal de maturidade” ao aderirem em massa ao dia aberto da vacinação contra a Covid-19, tendo sido administradas mais 230 vacinas antes da abertura oficial programada, disse o secretário da Saúde. Pedro Ramos disse ainda que está previsto mais uma ‘casa aberta’ para esta faixa etária na próxima quarta-feira, que a iniciativa se vai estender a outros concelhos da região, incluindo a ilha do Porto Santo onde muitos passam férias

Estamos muito satisfeitos com a forma como o open day anunciado para hoje está a decorrer, uma vez que ainda antes do seu início já vacinámos 234 jovens adolescentes entre os 12 e os 17 aos”, afirmou Pedro Ramos no Centro de Vacinação do Funchal.

Falando sobre a grande adesão da população adolescente, que eram acompanhados pelos pais, o governante admitiu que “já esperava” e considerou que evidencia “um sinal de maturidade, de cidadania daqueles que pertencem a este escalão etário”.

Pedro Ramos argumentou que são jovens que “têm responsabilidade, que sabem que têm alguma mobilidade, que querem estar com os seus amigos” e “sabem que esta é mais uma arma que têm à sua disposição para continuarem a estar protegidos”.

O governante insular sublinhou que esta é uma medida “adicional” que não vem “imunizar na totalidade”. Pedro Ramos salientou que o Governo Regional da Madeira tomou a decisão de vacinar os adolescentes a partir dos 12 anos, em sintonia com as autoridades de saúde do arquipélago, “depois de consultar tudo aquilo que tem sido feito a nível mundial, a evolução da pandemia na maioria dos países, não só no continente europeu, mas também mundiais”.

“Sabemos que, neste momento, há 27 países que estão a vacinar os jovens adolescentes entre os 12 e os 17 anos”, destacou. Pedro Ramos realçou que “os jovens infetam-se” e que a própria Direção-Geral da Saúde (DGS), que recomendou sexta-feira a administração da vacina neste escalão etário em casos de comorbilidades, “admitiu que muitas crianças, muitos jovens foram infetados no decurso desta pandemia em Portugal”.

Para o secretário do executivo madeirense, esta constatação é um “sinal que [os adolescentes] precisam estar protegidos adicionalmente”.

Não podemos proteger apenas um escalão etário, apenas os idosos, os adultos. Temos de proteger os nossos jovens, porque temos de proteger o nosso futuro”, salientou, recordando que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou dados esta semana que indicam que “Portugal estaria a desaparecer”.

Enfatizou ser preciso “proteger os jovens” e “o inicio do ano letivo dentro de um mês”, reforçando que “vacinados estarão sempre todos mais seguros”. O governante sublinhou que o executivo da Madeira e as autoridades de saúde do arquipélago tiveram “uma opinião diferente” nesta matéria e “respeitam todas as opiniões, toda a fundamentação que possam querer trazer para ter uma posição diferente”

“Mas a decisão do Governo [Regional] desde o início da pandemia, em sintonia com as autoridades regionais tem sido proteger a saúde pública da nossa região e se queremos proteger a saúde publica protegemos dos zero anos, os mais idosos, e até vacinamos pessoas com mais de 100 anos“, referiu.

Pedro Ramos destacou que se está perante “um problema de saúde publica”, declarando: “Estamos a falar de uma pandemia. Não podemos ter dúvidas, gerar incertezas, ansiedades e temos de tomar decisões. As decisões que são tomadas são de âmbito sanitário e não devem ter outro tipo de aproveitamento”.

Instado a comentar a situação de um casal que foi identificado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) junto ao centro de vacinação a tentar dissuadir as pessoas de serem inoculadas, opinou ser uma “perturbação” por parte de pessoas que “se calhar estão a ter este tipo de comportamento porque não estão totalmente informadas sobre o que é que está a decorrer neste momento no Tecnopolo”. “Aqui está a decorrer uma fase muito importante da abordagem da pandemia na Madeira ao covid-19 e isso tem a ver com a importância que damos à nossa saúde pública e à população”, concluiu.