Gianmarco Tamberi estava “louco” quando saltou para o colo de Mutaz Barshim. Mas um “louco” de ouro. É que os dois atletas, um italiano e outro do Qatar, respetivamente, resolveram partilhar a medalha de ouro no salto em altura. Se isto não são duas personificações do que é a essência e alma olímpica, não sabemos então o que poderá ser.

Foi uma competição fantástica, a do salto em altura, este domingo, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Mas que competição. A técnica, os saltos, a fé nas capacidades que se notava nas passadas de cada atleta a caminho do colchão, mas na esperança de não deitar a vareta ao chão.

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Aí, com saltos de 2,37 metros, Tamberi e Barshim foram os melhores. E, no final, com ambos a falharem os 2,39 metros (as três tentativas), havia decisões a tomar: ou um “jump off” a ver quem ficava medalhado com o ouro, ou dividir a medalha. O fair play venceria sempre, mas a decisão foi bonita e deixou ambos os atletas felizes. Notou-se.

“É fantástico. Partilhar [o ouro] com o Marco é um sentimento fantástico. Um grande sentimento. Estou mesmo muito contente. É irreal. É uma loucura e estou mesmo tão feliz. Era a única coisa que me faltava, agora estou completo”, confessou Barshim após a magnífica competição. Barshim, em Londres 2012, partilhou a medalha de bronze com Derek Drouin, do Canada, e Robert Grabarz, britânico. Mais tarde, a medalha recebeu um “upgrade” para prata, porque o vencedor violou regras anti-doping. Mas, esta segunda partilha terá sido certamente mais satisfatória.

No Rio de Janeiro, nas olimpíadas de 2016, as histórias foram diferentes para os agora campeões olímpicos. Barshim ficou com a prata e, neste último ciclo olímpico, foi campeão do mundo em 2017 e 2019. Com um recorde pessoal de 2,43 metros, é o n.º 2 de todos os tempos, atrás de Javier Sotomayor, que saltou 2,45 metros (!) em 1993. Tamberi, no entanto, nem chegou a ir ao Brasil devido a lesão. Assim, mal venceu este domingo, agarrou um gesso em forma da sua perna, que dizia “Road to Tokyo 2020”. Notava-se que o número tinha sido riscado e dizia 2021. O italiano, agora com sorte, agarrou-se ao azar, palpável, a um gesso que significava dor, mas também superação.

Tamberi ficou ainda na história deste dia de Jogos pelo festejo efusivo que teve com Marcell Jacobs, o primeiro italiano a vencer os 100 metros, e também com… Patrícia Mamona, medalha de prata e orgulho português.