A ginasta Simone Biles revelou esta quarta-feira que mantém “a porta aberta” para a sua participação nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, depois de ter sofrido uma série de problemas de saúde mental que afetaram a sua busca pelo ouro em Tóquio.
A atleta de 24 anos falou também sobre a luta contra os problemas de saúde mental que levaram à decisão polémica de desistir de cinco finais olímpicas, revelando que foram provavelmente causados pelo abuso que sofreu às mãos do médico pedófilo Larry Nassar.
Agora que penso nisso, talvez no fundo da minha cabeça, provavelmente os abusos que sofri tenham sido o gatilho para os meus problemas”, revelou a jovem ao programa televisivo Today.
Larry Nassar, o ex-médico de ginastas olímpicas dos EUA, admitiu em 2017 a prática de abusos sexuais a menores, nomeadamente atletas, e a veracidade das acusações de pornografia infantil. Foi condenado a 60 anos de prisão e a pagar indemnizações a todas as suas vítimas, entre as quais Simone Biles. A mais recente polémica desse processo tem sido o lento ritmo de pagamento das indemnizações às suas vítimas de abuso sexual.
The @OfficialFBOP says its committed to taking all appropriate steps to help ensure that inmates meet their financial obligations, including court-ordered payments to compensate victims. They "took such steps" in the #LarryNassar case.https://t.co/OuXGQANhOa with @TheAmirVera
— Christina Carrega (@ChrisCarrega) July 29, 2021
Ainda assim, Biles deixou Tóquio com duas medalhas — uma de prata na final por equipas feminina e uma de bronze na prova de trave, que venceu no regresso às olimpíadas após ter desistido de competir em vertentes onde era dada como a mais garantida das candidatas à medalha.
“Fiquei preocupada com a possibilidade de que a minha desistência pudesse parecer que estava, novamente, a empurrar para debaixo do tapete [o escândalo sexual de Nassar). Mas não foi de todo a minha intenção, porque tem que ser posto um ponto final neste assunto e dar voz e apoiar todas as outras atletas que também foram vítimas“, acrescentou a atleta.
Apesar de, diz Biles, a atitude ter sido tomada de forma consciente e segura, a atleta explica ter sentido que desiludiu o povo norte-americano, bem como a sua família e os seus amigos. Contudo, revelou que o apoio recebido foi mais do que suficiente para combater esta insegurança.
Biles despede-se de Tóquio com medalha de bronze. Dupla chinesa conquista primeiros lugares na trave
“Sou um ser humano e já fiz coisas bastante corajosas fora deste desporto, por isso, não sou uma desistente. E acho que, se esta situação nunca tivesse acontecido, nunca olharia para mim desta forma”, revelou mostrando que, apesar de tudo, os acontecimentos lhe trouxeram mais alguma maturidade.
A força de vontade da atleta está agora voltada para resolver os seus problemas de saúde mental e deixa em aberto a oportunidade de participar nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Além disso, Biles revelou que precisa de uma “boa pausa”, mas que antes vai realizar uma viagem nacional de ginástica, que a levará a 35 cidades, ao lado de outras ginastas norte-americanas.
Como a doença mental “twisties” afetou o percurso da atleta
Biles falou também no programa televisivo Today sobre a doença mental “twisties”, e sobre a forma como a afetou. Esta condição ocorre quando existe uma desconexão entre o corpo e a mente, representando um risco para os atletas.
Relembrando o primeiro momento em que sofreu com este transtorno, Biles admitiu que ficou “petrificada” porque não sabia onde iria pousar.
“Não tinha ideia de onde estava no ar, e é visível pelos meus olhos que estava petrificada. Depois também não sabia onde estava prestes a pousar. A minha cabeça, o meu rosto, as minhas pernas e os meus braços? Não tinha ideia de onde estavam e tive muito medo de me lesionar“, acrescentou.
A desistência de Biles e sua decisão de se retirar de cinco finais olímpicas geraram debate e discórdia nos media e nas redes sociais. Muitas foram as pessoas que a acusaram de “desistir” e de “abandonar” a sua equipa. Ainda assim, Biles afirmou: “Foi a decisão mais certa e corajosa que podia ter tomado. Poderia ter piorado a minha condição mental se não o tivesse feito.”
“Foi muito difícil trabalhar durante cinco anos por um sonho que caiu por terra. Não foi, de todo, fácil. Mas tive que tomar esta decisão por mim e pelas minhas colegas de equipa, porque não queria que elas perdessem uma medalha por minha causa”, terminou.
Fica a vontade de continuar a ser uma atleta de topo, de progredir no tratamento da sua saúde mental e de, talvez, deixar a sua marca nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Simone Biles cheered on her teammates after withdrawing from the Women’s Gymnastics Team Final ❤️
USA Gymnastics said Biles left because of a “medical issue.”
Ultimate teammate ???? pic.twitter.com/E7AUjgN0xI
— ESPN (@espn) July 27, 2021