Enviado especial do Observador, em Tóquio
Vinte quilómetros, Viera. 25 quilómetros, Viera. 35 quilómetros, Viera. 40 quilómetros, Viera.
Com o polaco Dawid Tomala na frente com uma vantagem confortável de mais de dois minutos e meio, a realização da prova de 50km marcha colocava grande enfoque no grupo perseguidor, sempre com o português João Vieira na luta por uma medalha. Só mesmo nos derradeiros quilómetros houve uma última separação nesse grupo perseguidor, com o alemão Jonathan Hilbert e o espanhol Marc Tur a descolarem na tentativa de fecharem o pódio da prova. Conseguiram. Para o português, ficava o desempenho histórico.
A história de João Vieira nos Jogos Olímpicos começou há mais de duas décadas em Sidney, com uma prova dos 20km marcha onde acabou por desistir. Seguiu-se, em Atenas, aquele que seria o seu melhor lugar, uma décima posição numa corrida ganha pelo italiano Ivano Brugnetti. Em Pequim não foi além do 32.º posto, em Londres voltou a ficar próximo do diploma, no Rio de Janeiro acabou em 31.º. Havia uma linha que se começava a traçar entre o clima que encontrava e o resultado, com as provas que se realizavam na Europa a funcionarem como porto seguro para o melhor marchador português de sempre. Agora, deu a volta.
Com uma temperatura acima dos 31º e uma humidade acima dos 66% em Sapporo (ainda assim menos do que em Tóquio, onde as provas de atletismo no Estádio Olímpico chegaram a ter na sessão matinal mais de 80%), João Vieira conseguiu um fabuloso quinto lugar na primeira corrida de 50km marcha que fez nos Jogos, conseguindo o seu primeiro diploma após ter sido vice-campeão mundial da distância em Doha, no ano de 2019, e de ganhar antes, quando se focava mais nos 20km, a medalha de bronze nos Mundiais de 2013, em Moscovo. E as medalhas não ficaram assim tão longe, quebrando apenas um pouco na parte final.
Apesar das visíveis dificuldades para terminar a prova, Tomala conseguiu garantir a medalha de ouro, como prémio para o risco que tomou a meio da corrida, acabando com menos 36 segundos do que Hilbert e 51 do que o canadiano Evan Dunfee, que conseguiu uma parte final muito forte e superou nos metros finais Marc Tur, que acabou a nove segundos do pódio. João Vieira, que ficou algum tempo sozinho na quarta posição, concluiu o percurso dos 50km com o tempo de 3.51.28, a 1.20 do polaco, um registo bem melhor do que em Doha (4.04.59) mas abaixo por exemplo daquele que lhe valera o décimo lugar nos Campeonatos do Mundo de 2017, em Londres (3.45.28). Também por isso, o melhor registo do ano foi bastante elogiado.
Histórico: João Vieira conquista prata e é o mais velho de sempre a ganhar uma medalha no Mundial
Inspirado para entrar no atletismo por Carlos Lopes, quando o português ganhou a primeira medalha nos Jogos na maratona de Los Angeles em 1984, João Vieira voltou a mostrar como a idade também pode ser um posto e, aos 45 anos, depois de ter sido em Doha o atleta mais velho de sempre a conquistar uma medalha em Mundiais, conseguiu uma notável prestação que será premiada com esse primeiro diploma olímpico da carreira e realizou o sonho que começara a criar ao ver essa corrida memorável do melhor maratonista português nos EUA: o de se tornar um verdadeiro atleta de alta competição.
Em atualização