O presidente da Comissão de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia nos Açores, Gustavo Tato Borges, disse esta segunda-feira que decidiu deixar o cargo por razões familiares, rejeitando qualquer “rutura” com o Governo Regional.

Em declarações à agência Lusa, Tato Borges disse ter pedido para abandonar as funções que desempenhava na região desde novembro de 2020 “por motivos familiares”.

“A principal razão pela qual decidi solicitar o regresso às minhas anteriores funções tem a ver com a minha vida familiar que infelizmente não foi possível transportá-la toda para os Açores e esses nove meses de distância com a minha família foram bastante duros para mim”, declarou.

Sobre a relação com o Governo dos Açores, de coligação PSD/CDS-PP/PPM, Tato Borges referiu ter existido as “normais incidências de um trabalho muito duro”, mas frisou que a “única” motivação que teve para abandonar as funções foram as “questões familiares”.

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Não há uma discordância, não há uma rutura, não há uma zanga entre mim e o senhor secretário ou com o Governo. Há as normais discordâncias habituais que existem num trabalho com muita gente, que são claramente ultrapassadas pelo bom relacionamento que temos entre todos”, afirmou.

O médico especialista em Saúde Pública confirmou que, “desde maio”, pediu ao executivo açoriano para que “regredisse na abertura das medidas restritivas” de controlo da pandemia.

“Apesar dessa abertura da economia e da sociedade que o governo tem promovido não temos assistido a um agravamento em termos de internamentos e mortalidade, que é exatamente aquilo que mais nos preocupa”, ressalvou.

Tato Borges realçou que a sua demissão da Comissão de Luta contra a Pandemia na região não tem “efeitos imediatos”, pelo que formalmente ainda continua “em funções nos Açores”.

O médico destacou que a nova matriz de risco da Covid-19 dos Açores, em vigor desde as 00:00 desta segunda-feira, foi uma proposta da Comissão de Acompanhamento.

“Foi um trabalho feito pela comissão, já depois de o senhor secretário nos ter exortado a fazer uma revisão da matriz e tendo em conta a baixa mortalidade que temos assistido e até mesmo o número de internamentos que tem estado a reduzir de forma substancial”, apontou.

E acrescentou: “esta nova matriz de risco foi uma proposta nossa já a ter em conta a mudança na gravidade da doença e aquilo que isso se traduz na vida das pessoas”.

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Tato Borges é vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e, antes de coordenar o combate à pandemia nos Açores, exercia funções no agrupamento de Centros de Saúde do Grande Porto.

Na sexta-feira, sobre a demissão do coordenador da comissão, o secretário regional da Saúde, Clélio Meneses, começou por dizer que “a luta contra a pandemia cada vez mais vai tendo contornos que não são os que levaram à necessidade de um acompanhamento mais permanente” e que, “a partir de agora”, o combate se faz “sobretudo a partir do processo de vacinação”.

“Confirmo que Gustavo Tato Borges entende que o seu percurso no combate à pandemia tinha um limite. Como todos os açorianos sempre desejamos. É um processo natural. Quando uma pessoa tem uma missão e essa missão está em vias de [estar] concluída”, disse.

Clélio Meneses reforçou que a Comissão de Luta Contra a Pandemia “exerceu de forma eficaz” as suas funções.

“O Conselho de Governo que decidiu criar a comissão de acompanhamento de pandemia é o Conselho de Governo que irá determinar o percurso que a comissão terá”, afirmou.

Os Açores registam esta segunda-feira 27 novos casos de Covid-19, 25 dos quais em São Miguel e dois na ilha do Faial, e contam 14 recuperações, 11 na Terceira e três em São Jorge.

O arquipélago tem atualmente 554 casos ativos de Covid-19, sendo 438 em São Miguel, 70 na Terceira, 20 no Faial, 15 em Santa Maria, seis no Pico e cinco em São Jorge.