O Chega vai apresentar queixa à polícia da página de Facebook “Chega Vila Real”, onde foi feita uma publicação a insinuar que André Ventura poderia ser envenenado por “funcionários do governo socialista” assim que recebesse a vacina contra a Covid-19. A estrutura local, que efetivamente dirige o Chega/Vila Real, também já denunciou a página ao Facebook e diz desconhecer os autores da mesma. A referida página deixou de estar disponível.
O texto, acompanhado com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, foi publicado na segunda-feira e começou a ser rapidamente difundido. Entre outras considerações, os autores da página, que se apresentam como membros do “Chega/Vila Real”, lançavam a questão: “Duvidam que se o André chegasse ao centro de vacinação cheio de funcionários do governo socialista do António Costa não lhe iam tentar injetar veneno mal percebessem que era ele?”.
Os autores do texto sugeriam ainda aos militantes que tivessem cuidado e nunca se identificassem como tal. A terminar, pediam a proteção de Nossa Senhora. “Não vai permitir que um dos seus escolhidos sucumba a uma doença criada na China para destruir o Chega”, pode ler-se.
Direção nega que página pertença ao Chega
Não demorou até que a partilha se tornasse viral, com centenas de comentários, partilhas e gostos. E muitas críticas. Esta terça-feira, num novo texto publicado na referida página, os responsáveis diziam ter sido mal interpretados, voltavam a manifestar o apoio a Ventura e sugeriam estar articulados com o líder do Chega.
“A página Chega Vila Real foi criada por um grupo de militante e amigos do Chega muito antes de haver distritais. Comunicámos esse facto à senhora Lucinda Ribeiro e ao próprio André Ventura no congresso do Chega e eles agradeceram o nosso apoio orgânico e ficaram felizes com o nosso número de seguidores e alcance.”
Entretanto, a direção do Chega emitiu um comunicado a “desmentir categoricamente que a página de Facebook da distrital de Vila Real que está a ser noticiada pela imprensa seja gerida por dirigentes do partido”.
A página existe desde março de 2019. Confrontada com o facto de só agora o partido se demarcar deste suposto de grupo de apoio, que usava as cores do partido e design idêntico a todas as outras páginas de estruturas locais do partido, a direção do Chega garantiu não ter conhecimento do teor das publicações ou da atividade desenvolvida pela página.
Nuno Afonso, vogal da direção e coordenador autárquico, confirmou ao Chega que não tinha conhecimento e garantiu que a página voltará a ser denunciada, como já aconteceu no passado por parte da distrital.
O Observador entrou em contacto com os criadores da página, que nunca se chegaram a identificar. Depois de uma curta troca de mensagens, já perto do final da tarde desta terça-feira, a página deixou de estar operacional e está, neste momento, inacessível.
‘Verdadeira’ distrital denuncia artimanhas “lamentáveis”
Ao Observador, o presidente da distrital de Vila Real, José Dias, diz ser “lamentável que as pessoas usem estas artimanhas” para tentar prejudicar o partido e garante nada ter que ver com o referido grupo de apoio — versão corroborada por Sérgio Ramos, vice-presidente da distrital e candidato do Chega a Vila Real.
“A página não tem rigorosamente nada a ver connosco, tenho conhecimento dessa página e já comunicámos à nacional que esta página não é nossa”, explica o líder da distrital ao Observador.
O responsável garante ainda que já foi feita uma denúncia ao Facebook “há um ano“. “Nessa altura percebemos que havia duas páginas e quando o partido tentou regular tentámos fazer uma abordagem à nacional e explicar qual era a página oficial e que não tínhamos rigorosamente nada a ver”, disse ao Observador. Mas a página continua ativa com os nomes e as cores do Chega (e é bastante idêntica às das restantes distritais). A distrital de Vila Real tem uma página oficial no Facebook com o mesmo nome, mas não a normal “página de gostos”, sendo esta a “única página [de Vila Real] registada no partido”.
“A nossa é devidamente controlada, não deixamos entrar todas as pessoas, somos rigorosos em relação a esta situação porque já estamos vacinados”, explica o líder da distrital, insistindo que a página em causa “não tem rigorosamente nada a ver com o Chega de Vila Real”. “Não é controlada por nós, tenho a certeza absoluta.
“Se foi alguém relacionado com a minha lista/equipa ou se se provar que fui eu próprio retiro a minha candidatura“, garante Sérgio Ramos, candidato à Câmara Municipal de Vila Real.
José Dias, presidente da distrital de Vila Real, recorda que esta não é a primeira vez que a página em causa dá problemas, mas não sabe quem possa estar por detrás das publicações em causa. “Nós vamos fazer uma participação às autoridades e as autoridades vão encarregar-se de saber”, afirma, para justificar que a página não pertence à distrital do partido. Sérgio Ramos, que tem a mesma opinião, diz até que as informações que estão na página são “deploráveis” e que nem a distrital nem a concelhia se identificam com as mesmas.
André Ventura também reagiu nas redes sociais à publicação da página em causa. Numa publicação que pode merecer várias interpretações, Ventura disse, por um lado, que era natural que o Governo português ficasse “feliz” em silenciá-lo; ao mesmo tempo, pediu para que os dois assuntos não se misturassem.
“Não me vacinei porque, numa primeira fase, recusei ser prioritário, quando nem médicos, polícias ou bombeiros tinham ainda sido vacinados. Recentemente, entendi que ainda não tinha informação suficiente para tomar uma decisão sobre a matéria”, explicou, como já tinha sido noticiado pelo Observador.
https://www.facebook.com/andre.ventura.98837/posts/10159761170615921
Página é recorrente em polémicas
Já em junho, a página “Chega Vila Real” tinha gerado polémica quando publicou uma fotografia com o símbolo do Chega com a bandeira LGBTI+ e uma cruz por cima e onde denunciava que um “grupo de guerrilheiros de extrema-esquerda” estavam “infiltrados a fazer-se passar por pessoas de marketing do Chega a mandarem mudar a foto para solidariedade com os gays”.
“Não temos nada contra os homossexuais, que também são gente. Mas não gostamos. Acreditámos nesta mentira porque não havia problema nenhum se o Chega quisesse demonstrar alguma amizade com os gays, visto que temos alguns dirigentes que são. E há gays trabalhadores e patriotas, muitos deles que abdicam da sua escolha sexual para servir Deus. Se há homossexuais que escolhem ser portugueses do bem, nós também temos de os apoiar, não?”, podia ler-se na publicação.
* Artigo atualizado às 18h30 com a informação de que a página em questão deixou de estar visível