“Tudo é dramático”. Foi assim, sem grandes meias palavras, que Joan Laporta abriu a conferência de imprensa desta segunda-feira em que detalhou a situação financeira do Barcelona. O presidente dos catalães falou sobre as “mentiras” de Josep Maria Bartomeu, o seu antecessor, sobre a saída de Messi e as reduções salariais que os capitães de equipa vão aceitar, tal como Piqué já aceitou, para que o clube consiga inscrever todos os reforços que contratou ao longo do verão.
“Cada vez que lia a carta de Bartomeu descobria uma nova mentira. No último parágrafo, pede que se cumpram as responsabilidades. Nós vamos procurar soluções. Mas é triste ver uma carta cheia de mentiras, com oito pontos cheios de mentiras. Bartomeu levou o clube a uma situação de ruína. Em setembro, vamos explicar o que são as tais responsabilidades. Algumas já estão nos tribunais, como é o caso do Barçagate”, explicou Laporta, recordando o escândalo que no passado mês de março levou à detenção do antigo presidente do Barcelona e de outros três dirigentes catalães.
Sobre a saída de Messi, que foi apresentado no PSG ao longo da semana passada e deixou Camp Nou a custo zero ao fim de mais de 20 anos, o presidente do Barcelona garantiu que a “única coisa” que tem a dizer-lhe é que tem “um agradecimento” eterno para com o jogador. “Foi uma história de amor entre o Messi e o Barça. Uma relação de muitos anos que se foi deteriorando, mas é a lei da vida. Antecipámos o pós-Messi em dois anos. O que estava previsto eram dois anos… Ele é o melhor jogador do mundo e tem as suas aspirações, como é normal. Tinha propostas, como se pôde ver, de clubes dispostos a pagar grandes quantias (…) O que posso dizer é que fizemos tudo o que era possível, dentro das possibilidades económicas do clube”, garantiu Laporta, sublinhando novamente, tal como havia feito no dia em que explicou a saída do capitão, que “a instituição está acima de todos”.
Joan Laporta afastou ainda o cenário da criação de uma SAD para salvar o clube financeiramente, algo que considerou serem “boas notícias”. “Há um plano estratégico sustentado na credibilidade e na experiência que temos. Acabámos de conseguir 560 milhões para reestruturar a dívida, com 1,9% de juros, e isso é uma boa notícia. Temos 17 investidores interessados no Barça Studios. E temos 5 propostas para patrocinador principal. Por outro lado vejo a equipa motivada para mostrar a sua mais-valia, a direção também está. O Barcelona tem de ser propriedade dos sócios e sempre o será”, atirou, sem revelar as ações legais que a atual direção vai interpor à anterior mas garantindo que “ninguém escapará às suas responsabilidades”.
O presidente dos catalães confirmou ainda que o clube pediu um crédito de 80 milhões de euros para corresponder à folha salarial, que existe um prejuízo de 468 milhões que já foi comunicado à liga espanhola e que o Barcelona está ainda a lidar com um património negativo líquido de 451 milhões, para além da dívida bancária que já era conhecida e que ascende aos 600 milhões. Tudo números que Laporta explica com a gestão desastrosa da anterior direção, detalhando, por exemplo, a transferência de Neymar para o PSG a troco de 222 milhões de euros em 2017.
“Na carta, ele diz que os salários dispararam porque não podiam competir com os clubes apoiados por Estados e com a Premier League. Mas essa política desportiva foi nefasta. Desde que se vendeu o Neymar, por 222 milhões, o dinheiro foi gasto de forma desproporcionada e à velocidade da luz. Isto dispara os salários e as amortizações, é onde nos encontramos agora. Deviam ter mudado o modelo e apostado na formação (…) Bartomeu diz que perdoámos 16,7 milhões ao Neymar. Outra mentira. Recordo-lhe o mal que o caso Neymar fez à imagem e à economia do clube. Foi um monte de mentiras. A direção de Bartomeu fez um pacto vergonhoso com as finanças, em que se condenou o Barcelona pela primeira vez na história por delitos fiscais. Em contrapartida, os senhores Bartomeu e Rosell [antigo presidente] ficaram livres das responsabilidades penais, enquanto que o Barcelona pagou uma multa de 5,5 milhões. Deparámo-nos com três processos laborais visando Neymar. Não perdoámos 16 milhões ao Neymar”, disse o atual líder blaugrana.
O novo Barcelona não tem Messi mas já tem em Piqué um novo super-herói
Por fim, Joan Laporta abordou as reduções salariais que foram propostas ao capitães de equipa — Sergio Busquets, Gerard Piqué, Jordi Alba e Sergi Roberto –, com o objetivo de emagrecer a folha salarial e abrir espaço para a inscrição de Depay, García ou Agüero. “Estamos satisfeitos. Resolvemos a situação com o Piqué, a quem agradeço a predisposição. Há jogadores que em alguns momentos não são apenas jogadores de futebol e no caso do Piqué trata-se uma pessoa que ama o Barça. Viu que estamos numa situação difícil e fez algo que nem toda a gente faz, ou seja, reduziu o salário para que pudéssemos inscrever jogadores. Esperamos que outros capitães atuem nesta linha. As negociações estão a correr bem. Contactámos o empresário do Jordi Alba a 24 de maio e depois recebeu uma carta a 8 de julho. Entendo os jogadores, eles vêm de uma redução [motivada pela pandemia] e depois pede-se outro esforço. Tanto o Jordi Alba como o Busquets e o Roberto estão a portar-se muito bem e vamos chegar a acordo”, terminou o presidente.