Trinta de agosto de 2021 podia ter sido apenas mais um dia. Dificilmente, porém, não será recordado como um marco que ficará para a história. Esta noite, as últimas tropas norte-americanas abandonaram o Afeganistão.

Pela primeira vez após 20 anos de presença no país, os EUA não têm oficialmente quaisquer tropas na região. O Politico escreve que “20 anos depois, a guerra mais longa da história dos Estados Unidos da América chegou ao fim”.

Os talibãs reagiram disparando tiros para o ar, como forma de marcar e celebrar o momento.

Os aviões que transportaram os últimos operacionais dos Estados Unidos da América que ainda estavam no Afeganistão deixaram Cabul esta noite. Mas houve norte-americanos que ficaram no país. Os EUA confirmam: “Não conseguimos retirar todas as pessoas que queríamos“.

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A informação da retirada definitiva norte-americana, noticiada pela agência Associated Press, começou por ser avançada por um guarda talibã no aeroporto de Cabul. Foi posteriormente confirmada por Washington.

“É o fim de uma missão de quase 20 anos. Não nos saiu barata”

O general norte-americano Frank McKenzie confirmou, num briefing surpresa no Pentágono, que por volta das 20h29 de Portugal Continental (15h29 de Washington D.C.) os últimos aviões C-17 deixaram o aeroporto de Cabul, consumando oficialmente a transição de poder para os talibãs.

Estou aqui para anunciar que completámos a nossa retirada do Afeganistão e o fim da missão militar de transporte de cidadãos americanos, cidadãos de países terceiros [que não os EUA e Afeganistão]  e afegãos vulneráveis [ao novo poder]”, referiu McKenzie.

O general norte-americano notou que a retirada das últimas tropas significa “quer o fim da componente militar de evacuação [retirada de pessoas do Afeganistão] quer o fim da missão [militar] de quase 20 anos, que começou no Afeganistão pouco depois do 11 de setembro de 2001”.

McKenzie lembrou que a missão militar dos EUA no Afeganistão permitiu abater Osama Bin Laden — “um fim justo” —, tal como “muitos dos seus conspiradores parceiros da Al Qaeda”. E, acrescentou, “não foi uma missão que nos saiu barata”.

Os custos dos 20 anos dos EUA no Afeganistão foram “2.461 norte-americanos que morreram, civis e membros de serviço” e “mais de 20 mil que ficaram feridos“.

Ainda assim, o general norte-americano reconheceu: “Não conseguimos tirar todas as pessoas que queríamos [do Afeganistão]”. O número de civis norte-americanos que terão permanecido no Afeganistão foi estimado por Frank McKenzie em “muito poucas centenas”.

ONU. Conselho de Segurança aprova resolução sobre saídas do Afeganistão

O Conselho de Segurança da ONU aprovou esta segunda-feira, com divisões entre os países ocidentais e Rússia e China, uma resolução advertindo os talibãs da necessidade de honrar o seu “compromisso” de permitir uma saída “segura” do Afeganistão a afegãos e estrangeiros.

Treze dos 15 Estados-membros votaram a favor do texto redigido pelos Estados Unidos da América (EUA), França e Reino Unido, enquanto a China e a Rússia abstiveram-se.

Na resolução, o Conselho de Segurança da ONU afirma que “espera” que os talibãs mantenham todos os seus “compromissos” no que diz respeito a uma partida “segura” e “ordeira” do Afeganistão de “afegãos e estrangeiros”, depois da retirada das tropas dos EUA, que deverá ficar concluída na terça-feira.

Por seu lado, o documento não faz referência à “zona segura”, ou zona protegida, em Cabul, mencionada pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, no domingo.

Questionados, diplomatas na ONU disseram que não está prevista uma “área protegida”, mas sim responsabilizar os talibãs pelos seus compromissos em permitir a “passagem segura” das pessoas. “Esta resolução não é operacional, trata principalmente de princípios, mensagens políticas fundamentais e advertências”, disse um dos diplomatas.

Segundo Richard Gowan, especialista da ONU na organização de prevenção de conflitos International Crisis Group, a resolução “envia uma mensagem política aos talibãs sobre a necessidade de manter o aeroporto aberto e de ajudar as Nações Unidas a canalizar a ajuda”.

Mas, no global, “o texto é bastante leve” e “Macron errou ao exagerar a ideia de uma área protegida no aeroporto de Cabul”, disse à agência de notícias AFP.