Os famosos dragões-de-komodo, ameaçados pela mudança climática, foram este sábado classificados como “espécie em risco”, passando a constar da lista de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, cujo congresso mundial decorre em Marselha.

A atualização da chamada “lista vermelha” refere ainda que a sobrepesca de tubarões está a criar uma ameaça à espécie, podendo levar à perde de um terço do número atual destes animais na Terra.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) adiantou, no entanto, ter observado uma melhoria na situação de várias espécies de atum, graças à imposição de quotas de pesca.

No total, o novo “barómetro” da biodiversidade do planeta lista 138.374 espécies, das quais mais de um quarto (28%) — ou seja, 38.543 – estão classificadas nas várias categorias de “ameaçadas”.

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“Estas avaliações da ‘lista vermelha’ demonstram como as nossas vidas e meios de subsistência estão intimamente ligados à biodiversidade”, afirmou o diretor-geral da IUCN, Bruno Oberle, em comunicado divulgado este sábado.

O congresso da IUCN é uma oportunidade para os decisores políticos e a sociedade civil multiplicarem as mensagens sobre ligação entre o colapso em curso da biodiversidade e as condições de vida dos humanos no planeta, também ameaçados pelas mudanças climáticas.

O destino do dragão-de-komodo, o maior lagarto do mundo — espécie que sobrevive sobretudo num conjunto de ilhas indonésias com a ajuda, em algumas das regiões, de um parque nacional -, ilustra a ligação entre estes dois processos, enfatizou a IUCN.

As condições de vida destes lagartos gigantes, que medem até três metros de comprimento e pesam cerca de 90 quilos, estão ameaçadas tanto pelo aquecimento global como pela atividade humana.

“O aumento da temperatura e, portanto, do nível do mar deve reduzir o seu habitat em pelo menos 30% nos próximos 45 anos”, alertou a IUCN, acrescentando que “embora os dragões-de-komodo presentes no parque nacional [indonésio] estejam bem protegidos, os que vivem fora estão em risco de perder parte significativa do seu habitat devido às atividades humanas”.

Outras vítimas dos humanos são os tubarões e as raias (que fazem parte da mesma família), tendo a nova avaliação geral da IUCN mostrado que 37% das 1.200 espécies estudadas agora estão ameaçadas.

Todas as espécies assim classificadas enfrentam as consequências da sobrepesca, mas 31% são também confrontadas com a degradação ou perda do seu habitat e 10% com as consequências das mudanças climáticas, referiu a IUCN.

“Muitos tubarões e raias estão a ser mortos e as medidas contra a sobrepesca são lamentavelmente inadequadas”, havendo uma exploração “muitas vezes legal mesmo que não sustentável”, explicou Nick Dulvy, da universidade canadiana Simon Fraser, autor do estudo no qual esta reavaliação se baseia.

Na última avaliação da União para a Conservação da Natureza, feita em 2014, uma em cada quatro (24%) das espécies estudadas estavam ameaçadas de extinção.

Em contrapartida, a IUCN congratulou-se pelo facto de “quatro espécies de atum pescado comercialmente terem recuperado [da ameaça], graças à imposição de quotas pesqueiras regionais”, desenvolvidas por organizações específicas.

Das sete espécies mais pescadas, estas quatro viram a sua classificação de risco descer na “lista vermelha”.

O atum rabilho do Atlântico até deu “uma reviravolta dramática”, passando diretamente de “em perigo” para “pouco preocupante”, o que significa ter saltado três categorias.

Ainda assim, a organização adverte que “apesar de uma melhora geral, muitos dos abastecimentos regionais de atum continuam esgotados”.

“Estas avaliações são a prova de que as abordagens de pesca sustentável funcionam, com enormes benefícios, a longo prazo, para a atividade económica e a biodiversidade”, sublinhou Bruce Collette, presidente do Painel do Atum da IUCN.

A organização também apresentou o seu novo “Estado Verde das Espécies”, que pretende medir a regeneração das espécies e conhecer o impacto dos programas de conservação.

Atualmente, a avaliação inclui 181 espécies, p que significa que a lista está muito longe de ser tão completa como a “lista vermelha” das espécies ameaçadas, na qual será posteriormente integrada.

Apesar de alguns sucessos, a nova “lista vermelha” mostra que “estamos muito próximos de uma sexta extinção em massa”, alertou o responsável pelo desenvolvimento deste ‘ranking’, Craig Hilton-Taylor.

“Se o aumento das ameaças continuar ao ritmo atual, em breve iremos enfrentar uma grande crise”, concluiu.