A decisão final sobre um eventual fim da obrigatoriedade do uso de máscaras é do Parlamento, lembrou Graça Freitas numa entrevista à SIC, que embora admita que o caminho dos deputados possa ser esse, defende que será “de muito bom tom andar sempre com uma máscara”, no Inverno e durante os próximos tempos.

A lei do Parlamento que torna obrigatório o uso da máscara na rua quando não é possível manter o distanciamento físico caduca no próximo dia 12, não havendo ainda uma decisão sobre se será ou não prolongada. Questionada sobre se o país está no momento certo para deixar cair essa obrigação, Graça Freitas remeteu para o Parlamento, que “ouve os especialistas”.

Neste momento, a opinião da DGS é que com 85% das pessoas com a vacinação completa — uma meta que, segundo o comentador da SIC Luís Marques Mendes, será alcançada dentro de duas ou três semanas — e sendo que a concentração do vírus é menor no exterior, essa seria “uma medida positiva”. Mas alerta que é preciso não baixar a guarda. Em ajuntamentos e sempre que não é possível manter a distância, deverá continuar a usar-se máscara. Por isso, apelou: “Ainda durante este inverno e durante mais uns tempos é de muito bom tom andar sempre com uma máscara”.

“Se tudo continuar a correr bem”, a tendência é para distinção dos critérios de isolamento entre vacinados e não vacinados

Graça Freitas admite ainda que “se tudo continuar a correr bem” — a manter-se o ritmo de vacinação, não aparecer uma nova variante, a vacina continuar a ser efetiva — “obviamente que a tendência é para haver uma distinção nas medidas [de isolamento] quando se trata de pessoas vacinadas versus não vacinadas”. Essa distinção não existe atualmente, o que pode levar um vacinado a ter de cumprir isolamento quando esteve em contacto com um caso positivo. Aliás, foi isso que aconteceu com a própria diretora-geral da Saúde, em julho, mesmo depois de ter estado infetada e sido vacinada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Graça Freitas em isolamento na sequência de contacto de alto risco

Porém, avisa Graça Freitas, terá de haver uma “apreciação caso a caso” pelas autoridades de saúde consoante o nível de exposição. Nalgumas situações, pode considerar-se que, apesar da vacinação, a exposição pode ter sido de “tal grandeza” que justifique o isolamento. A discussão com os peritos sobre o tema irá iniciar-se esta semana, sendo que depois a DGS fará uma proposta à tutela. “Vamos tentar” que chegue no final da semana, disse a diretora-geral da Saúde.

DGS traça três cenários para o outono/inverno. O mais grave pressupõe chegada de nova variante

Graça Freitas voltou a dizer que está a ser elaborado um plano para fazer face ao inverno, com três cenários:

  • O primeiro “é um cenário em que as coisas se comportarão como agora”, em que temos uma tendência decrescente de casos, a variante delta é a dominante. O “cenário mais plausível” será esse: pessoas vacinadas, não há uma nova variante e a vacina não perde o seu efeito.
  • Outro cenário é um em que há uma subida lenta do número de casos, caso a vacina perca o seu efeito, mas ainda sem nova variante. É um cenário de mais casos, provavelmente mais ligeiros do que graves.
  • O pior cenário, que “não está posto fora de questão”, é poder existir nova variante, o que traria “desafios”, à situação atual — com “grande percentagem” da população vacinada ou imune.

Questionada sobre se a variante que poderá estragar os planos é a Mu, detetada na Colômbia, Graça Freitas admite que “pode ser uma qualquer”.  “Pode acontecer uma variante que tenha capacidade de se transmitir ainda mais que a Delta” e escapar à imunidade vacinal ou natural.

A “grande medida preparatória” para os piores cenários será no sentido de aguentar a pressão sobre o sistema de saúde. No pior cenário, é preciso investir na capacidade de o “sistema de saúde dar resposta aos casos mais graves” e está prevista a “realocação de recursos e eventualmente mais recursos”. Ainda assim, Graça Freitas espera que seja possível manter alguma imunidade perante uma eventual nova variante. “O impacto verificar-se-á nas formas graves e na morte que ocorrerão muito menos do que se não estivéssemos vacinados“.

Já sobre uma eventual terceira dose, explica que, a ser aprovada, os primeiros candidatos serão os que perdem mais facilmente a imunidade, como idosos e pessoas com outras doenças. “Esse aspeto está a ser estudado pela comissão técnica de vacinação que apoia a DGS”, indicou.